ontem & hoje

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Postal Ilustrado – Dias & Paramos

As ruas da minha cidade são todas diferentes.
Largas umas, estreitas outras.
Algumas com prédios delgados e altos; outras com casas baixas e atarracadas.
As ruas da minha cidade são todas diferentes.
Umas sem cor, ou em tons de ocre corroído pelo tempo, outras faiscantes com o ardor da luz dos azulejos.
Algumas – raras – com árvores, outras despidas do mais modesto tom de verde.
As ruas da minha cidade são todas diferentes.
Umas sobem, outras descem, mas em todas anda gente em busca do seu destino.
Por umas passam carros sempre apressados, outras estão abertas ao desfrute do caminhante.
As ruas da minha cidade são todas diferentes.
Umas, com história antiga, são evocativas de feitos, de proezas, de vivências.
Outras são novas, qual folha de papel em branco pronta a ser escrita.

Joaquim António Silva (2011)

As ruas da minha cidade são todas diferentes.
Numas vivem pessoas felizes, noutras pessoas tristes.
Numas ruas há famílias, noutras habita a solidão.
As ruas da minha cidade são todas diferentes.
Umas são bonitas, outras (muito) feias.
Umas são lugar de encontro, de conversas, de cumplicidades. Outras, de passagem fugaz.
As ruas da minha cidade são todas diferentes.
Uma delas, era a minha rua. Já não é.
Era a minha rua, a rua dos livros, dos escritores, dos gatos, a rua dos encontros com os meus amigos. Essa realidade transformou-se em minúsculos grãos de areia, que deitados ao vento, se dispersaram no ar, naquela rua, que em tempos passados se chamou dos Arneiros.
Talvez porque o seu chão, já nesse tempo fosse formado por pequeninos seixos de recordações.
As ruas da minha cidade são todas diferentes…

Isabel Castanheira

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