
Do ponto de vista da composição, não se pode dizer que a fotografia “moderna” do par que hoje se publica tenha especial interesse. Na realidade serve apenas para ajudar a localizar a cena captada em 1936 por um fotógrafo anónimo. Como outras que têm sido aqui divulgadas, esta imagem pertence a uma de várias coleções colocadas à disposição da associação PH – Património Histórico, e que constituem documentos do maior interesse para o estudo da história local.
Embora, à primeira vista, as duas imagens sejam completamente diferentes, na realidade as mudanças no local não são assim tão significativas. O que acontece é que a vegetação, quase inexistente em 1936, tomou conta do espaço, escondendo tudo o que está em segundo plano. Alguns dos edifícios aí visíveis ainda se mantêm, mas já não se conseguem observar deste ponto de vista. Em contrapartida, as muitas árvores e arbustos criam um aspeto muito mais agradável. Impressiona sobretudo o desenvolvimento dos eucaliptos que existem hoje no local.

A serem as pequenas árvores que, em 1936, pareciam quase acabadas de plantar, poderiam levar o visitante de hoje, não fora este testemunho, a pensar estar a observar árvores centenárias!
À esquerda, na fotografia, vê-se parte do Salão Ibéria. Esta emblemática sala de cinema, construída por volta de 1920, ruiu em 1978, numa noite de segunda-feira, único dia da semana em que não havia sessão… O espaço do Ibéria, ao lado dos Pavilhões, continua hoje vazio.
O salão Ibéria, tal como o Cine-Teatro Pinheiro Chagas, construído em 1932, teve uma importância enorme na vida cultural caldense. Numa época em que não havia vídeos e que a televisão era coisa rara, era nestas salas que os entusiastas do cinema podiam assistir às novidades cinematográficas (que só cá chegavam meses depois da estreia em Lisboa), ou rever os filmes das suas vidas nas frequentes reposições. Não importava que as cadeiras fossem de pau, e que ainda não se tivesse instalado a moda das pipocas, porque ali o que interessava era o cinema.
O desaparecimento do Ibéria e do Pinheiro Chagas, também no final da década de 70 — tal como no Cinema Paradiso — podem ser entendidos como uma metáfora das mudanças na forma de ver cinema, motivadas pelo desenvolvimento da televisão e pelo aparecimento e massificação do vídeo.
Mas o tema principal da fotografia é o grupo em primeiro plano. A observação da cena leva a notar-se algo de estranho, tanto nos trajes como na presença do burro onde seria mais normal imaginar um cavalo… Felizmente o fotógrafo teve o cuidado de nos esclarecer ao gravar no negativo a data da fotografia: “25 de fevereiro de 1936”. Basta consultar o calendário desse ano para verificar que era terça-feira de Carnaval.
Joaquim António Silva






























