
Em 1984, na sequência de várias ações que decorreram da cidade em torno das questões urbanísticas, a Casa da Cultura das Caldas da Rainha realizou uma exposição a que chamou “Caldas Ontem e Hoje”. Esta exposição, seguindo um método não propriamente original mas sempre eficaz, comparava fotografias antigas — quase todas provenientes de bilhetes postais ilustrados editados durante as primeiras décadas do século XX — com outras atuais, realizadas sempre que possível a partir do mesmo ponto de vista.
Na época, sem as facilidades que há hoje na recolha e tratamento da informação, este projeto implicou um enorme trabalho de recolha de imagens, seleção, reprodução fotográfica dos documentos e, por fim, na realização das fotografias “atuais” correspondentes, em que participei intensamente.

O desafio da Gazeta para colaborar nesta rubrica que se agora de inicia coincide com um avivar, por razões diversas, da memória deste trabalho, e duma vontade que ia nascendo de lhe dar alguma continuidade, passadas que são praticamente três décadas. A proposta aparece assim como um feliz acaso nesta sequência de acontecimentos, permitindo dar corpo a esta intenção.
As fotografias a publicar – que não serão só das Caldas da Rainha, como também de localidades vizinhas, como Óbidos e Bombarral – baseiam-se, por isso, muito no trabalho de 1984, apresentando-se em muitos casos os três estados da evolução urbanística — primeira metade do século XX, 1984, 2011.Noutros casos foge-se um pouco a esta ligação direta, quer porque a exposição de 1984 se limitava ao núcleo urbano, quer porque novos e importantes documentos fotográficos foram sendo conhecidos, em grande parte devido à importante ação da associação Património Histórico.
De qualquer modo o projeto inicial promovido pela Casa da Cultura das Caldas da Rainha continua a ser a inspiração principal, e esta feliz iniciativa da Gazeta das Caldas acaba por, mesmo que indiretamente, ser uma oportunidade para relembrar uma instituição que, durante mais de uma década, foi uma referência na vida cultural caldense.
Joaquim António Silva
A Rua de Camões
Tenho um ligeiro apontamento na minha memória da Rua de Camões mostrada na fotografia dos anos 50, em que para mim era a fronteira entre a rua onde brincava e o parque D. Carlos I, onde existia nessa época um jardim infantil que tinha um pagamento irrisória, mas que era obstáculo para a maioria dos meninos desses tempos. Provavelmente o jardim infantil no parque até pode ser de uma época posterior, mas para mim foi um local quase interdito, a não ser em dias de festa.
Mas a memória também é percorrida por um conjunto de figuras públicas que na época eram importantes na cidade, bem como de estabelecimentos comerciais, dos quais parece-me que só resta hoje a Pastelaria Machado.
Na rua também havia a ruína de um edifício que, seria mais tarde transformada no GAT e que parecia às crianças do meu tempo o resultado de um pesadelo.
A rua era bonita e tinha alguns edifícios que reuniam as características de uma estância termal e de férias. Ainda me lembro da azáfama da Pensão Parque, que no Verão funcionava repleta de banhistas, bem como todos as lojas de prestação de serviços à sua roda, como o sapateiro, a louça das Caldas, o carvoeiro, a modista, o alfaiate, a loja de ferramentas, tintas, vidros, etc.
Uma das coisas que me lembro nos anos 60 era a atracção do “Grémio do Comércio” onde alguns caldenses mais ligados ao comércio local iam à noite ver a televisão. O Clube de Inverno também possuía televisão desde o seu aparecimento, mas tinha um acesso mais reservado, pela atenta mão do Sr. Albino.
A rua era estreita para o que é hoje, tinha pouco estacionamento, mas era no tempo em que a vinda de cada automóvel se anunciava à distância.
Era uma rua com muita vida no Verão e pacata nas restantes épocas, mas era uma das principais vias de circulação na cidade, pois distribuía o trânsito para o Hospital Termal. Durante os meses de Maio a Outubro era mesmo uma das artérias da cidade mais mundanas.
Hoje perdeu muitas das suas características, apesar de ter aumentado a circulação automóvel e à noite até parece abandonada e sombria.
Estas são algumas memórias dispersas e um pouco desgarradas que estas fotografias me suscitam.
JLAS






























