Onde o turismo casa com a tradição pesqueira

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A praia é hoje uma das grandes referência da Foz do Arelho como destino turístico e atrai milhares de pessoas à localidade

O mar e a lagoa alimentam as duas principais características da Foz do Arelho e ligam a pesca de bivalves, que lhe deu origem, ao turismo, atualmente o principal fator de crescimento

Costuma dizer-se que água é fonte de vida e, na Foz do Arelho, esta está intimamente ligada ao seu passado, presente e futuro.
Situada a cerca de 10 quilómetros das Caldas da Rainha, a praia da Foz do Arelho é, com o seu extenso areal, a principal praia do concelho, mas reduzir a sua importância a esta característica seria demasiado redutor. A localidade nasce a partir da comunidade piscatória que vivia da pesca e da apanha de bivalves na Lagoa de Óbidos, sendo esta a primeira grande ligação da Foz à água. Ainda hoje, cerca de uma centena de pescadores e mariscadores das freguesias ribeirinhas (entre elas a da Foz do Arelho) tiram o sustento das águas da Lagoa, um sistema costeiro que é o mais extenso da costa portuguesa, com uma área de 6,9km2.
O aproveitamento dos recursos não se limitava, porém, à pesca dos bivalves. Daquele ecossistema vinha também o limo com que as populações enriqueciam a terra para fins agrícolas. Ainda na Lagoa de Óbidos, são também famosas as bateiras, típicas embarcações que ainda se utilizam na Lagoa e que, em tempos, eram usadas em regatas.
O território da Foz do Arelho pertenceu originalmente à paróquia da Serra do Bouro e, com a criação das freguesias manteve-se como povoado daquela freguesia, da qual foi desanexada em 1919.
Uma das referências históricas da localidade é a Quinta de Nossa Senhora de Guadalupe, datada do século XVI, situada no centro histórico da povoação e em torno da qual a mesma se desenvolveu. Até à revogação dos foros, grande parte dos terrenos agrícolas pagavam tributo à Quinta, resultante do morgadio instituído em 1580.
A aldeia acolheu Francisco Grandella, a quem se deve a edificação da escola primária em 1909 e que ainda hoje funciona. O proprietário dos armazéns Grandella, em Lisboa, apostou na alfabetização da população local e, no início do século XX, mais de metade dos habitantes da Foz já sabia ler, algo invulgar na época. Outra herança de Grandella na Foz do Arelho é o palacete, onde hoje se localizam as instalações hoteleiras do Inatel, símbolo de outra das atividades económicas âncora da vila, o turismo.
De resto, o potencial turístico da localidade trouxe outros visitantes ilustres. O visconde de Almeida Araújo, que construiu o palácio que se ergue junto à praia, e o rei D. Carlos I são outras personalidades ligadas à localidade. O monarca participava nas famosas caçadas que se faziam na região. A família de Mário Soares também frequentava a Foz através da colónia de férias do Colégio Moderno, sua propriedade.

O turismo
Se a atividade piscatória está na origem da criação da Foz do Arelho, e se mantém como uma importante atividade, a ligação ao turismo acaba por ser indissociável do seu crescimento e desenvolvimento.
A localidade tem a particularidade de ter, não uma, mas duas praias. Uma virada para o Oceano Atlântico, a outra para o interior da lagoa, beneficiando das águas calmas e sem ondulação, ideais sobretudo para os mais pequenos.
Esta atratividade da Foz do Arelho pelas suas praias traduz-se num aumento significativo da população da localidade nos meses quentes, durantes os quais chega a triplicar. Mas a atratividade mede-se, também, pela capacidade que a freguesia tem tido para fixar alguns desses turistas estrangeiros.
Além da praia, a dupla oferta de planos de água da Foz do Arelho confere-lhe também atratividade para diferentes atividades desportivas ligadas à água, nomeadamente os desportos de ondas, como o surf e o bodyboard, que se estende, depois, aos que beneficiam do vento e das águas planas, como o a vela, o windsurf, kitesurf, o paddel, e também da motonáutica e do remo, nas quais chegou a ter muita tradição no passado.
Esta procura turística permitiu que a Foz do Arelho se destacasse, nas últimas duas décadas do século XX, pela animação noturna, com a discoteca Green Hill, que tinha fama nacional, a ser um dos porta estandartes.
A ligação ao turismo faz, ainda, que a economia da freguesia seja beneficiada pelos setores da construção e imobiliária e também na hotelaria e restauração.
Em 2019, foi inaugurada a Casa-Museu Dr. Jaime Umbelino, uma doação feita à freguesia pelo fozense Jorge Umbelino e que acolhe um espaço museológico etnográfico. A oferta cultural foi recentemente aumentada com a abertura do Centro Interpretativo da Lagoa de Óbidos e também pela Casa das Conchas, onde se pode conhecer uma coleção com mais de 2000 exemplares.
A vila é ainda referência para quem procura atividades como o campismo e o caravanismo.
A não perder na Foz está, ainda, o Penedo Furado, um dos seus ex-libris naturais que remonta ao período jurássico e é uma raridade, pois todas as formações similares se encontram na zona de costa. ■

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