Ódesign alia o olhar contemporâneo ao saber tradicional

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Seis jovens designers estão a trabalhar com os utentes dos centros de dia, artesãos e desempregados do concelho de Óbidos, para em conjunto criar objectos originais, que possam trazer mais valias sociais e económicas.
As duas primeiras criações envolveram 11 pessoas e foram apresentadas na passada sexta-feira. O artesanato e iniciativas que promovam emprego estão agora a ser tratados pelos designers.

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Ana Calçada (à direita) junto de algumas das designers participantes

T-shirts com aplicações de pins inspirados na tradição dos lenços dos namorados, e jóias em renda, foram os primeiros objectos confeccionadas pelas utentes dos centros de convívio do Arelho e Bairro da Senhora da Luz, assente nas orientações dos designers.
O projecto Ódesign começou por ser uma iniciativa do Centro de Design de Interiores (CDI). Seis jovens aceitaram o desafio e a sua criatividade, aliada às técnicas tradicionais, permitiu a criação de objectos numa “atitude de desenvolvimento e sustentabilidade e de mais-valia social e económica”, explica a responsável pelo CDI, Ana Calçada.
O projecto que começou a ser idealizado há um ano deu agora os seus primeiros resultados visíveis, com a apresentação dos dois primeiros tipos de peças.
“Esta é também uma forma de integrar a criatividade nos saberes podendo privilegiar-se ainda outros grupos”, explica a designer de produto, acrescentando que entretanto já se constituíram como associação.
“Os lucros serão distribuídos pelas várias partes envolvidas”, salienta a responsável, destacando que há vontade de todos em continuar o trabalho. Acredita também que estes terão um local de venda em Óbidos, depois de ter ouvido o presidente da Câmara a incentivar à comercialização de produtos “made in” Óbidos naquela vila, sobretudo na Rua Direita.
Os designers irão agora trabalhar com outros grupos, tendo já em mente projectos ao nível do artesanato e iniciativas de emprego. Maria João Melo reconhece que o conceito mais difícil de abordar é o de criar emprego, especialmente porque não têm qualquer perspectiva do que será o sucesso de cada produto.
Presente na apresentação do projecto, que se realizou no dia 28 de Janeiro, o presidente da Câmara, Telmo Faria, disse que o Ódesign é um exemplo prático do trabalho em equipa. Adiantou ainda que a aplicação dos vários campos do saber próprio do design ajudam a interpretar o que “pode ser uma nova filosofia para as artes em Óbidos, que junte artesãos e artistas locais”.
O autarca salientou que também estão a trabalhar com as crianças dos complexos escolares no sentido de as estimular a fazer ateliers criativos.
Para além disso, estes objectos, nomeadamente os pins inspirados em motivos dos lenços dos namorados, serão utilizados por todos os conferencistas que participarem na conferencia final do Urbac (rede europeia de cidades de baixa densidade) que irá ter lugar a 2 de Junho em Óbidos.

“É uma actividade que nos entretém, preenche e aviva para outras coisas”

Emília Oliveira, de 77 anos, frequenta o Centro de Convívio do Arelho onde, com mais seis senhoras, bordou lenços e pins, recuperando a tradição dos lenços de namorados, mas agora com mensagens muito mais actuais e até suportes que antes não eram utilizados. “Adorei participar”, conta a residente no Carregal, que além de trabalhar em novos materiais também fez novas amizades.
“Isto dá-nos muito ânimo e quanto mais coisas faço mais vontade tenho de fazer”, conta Emília Oliveira, que neste momento está a fazer um lenço bordado. E porque ainda tem muitas tarefas a cumprir no dia a dia, a septuagenária só à noite é que pode dedicar-se a este trabalho. “Deito-me sempre perto da meia noite e é preciso ter atenção para ficar bem feito”, conta.
Habituada a fazer renda, Maria da Conceição Santos, de 62 anos, e utente do Centro de Convívio do Bairro da Senhora da Luz, estava longe de imaginar que a sua arte a levaria a fazer brincos e colares. Apesar de ao início estranhar, conta que foi “interessante descobrir o que se pode fazer com a renda”.
Juntamente com mais duas senhoras que frequentam aquele centro desenvolveram um conjunto de peças de adorno, denominadas as jóias das rainhas d’Óbidos.
“É uma actividade que nos entretém, preenche e aviva para outras coisas”, disse, acrescentando que a expectativa é de sempre ficar melhor.

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Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

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