Obras e apoio à Cultura anunciadas na conferência Caldas Cidade Criativa

0
358
Sofia Reboleira, Pedro Xavier, João Gabriel e Sofia Bandeira Duarte teceram criticas à Cidade Criativa

Uma cientista, um especialista em cibersegurança, um pintor e uma historiadora de arte teceram criticas às Caldas Cidade Criativa, em colóquio que decorreu na semana passada na cidade

A criação de um projeto arquitétonico para a reabilitação do Atelier-Museu João Fragoso está inscrito no orçamento da Câmara das Caldas para o próximo ano. Esta foi apenas uma das novidades anunciadas pela vereadora da Cultura, Conceição Henriques, durante o colóquio “Caldas, Cidade Criativa?” que teve lugar a 10 de dezembro no Teatro da Rainha e que faz parte do ciclo anual Teatro, Espaço Vazio e Democracia.
Nesta sessão, em que o poder local foi alvo de críticas por parte dos vários convidados, a autarca deu também a conhecer que está a ser criado um Plano Diretor para o Centro de Artes, ou seja, a criação de uma narrativa para os vários museus daquele espaço e que ficará a cargo do arquiteto Nuno Lopes, que é autor do futuro espaço do Teatro da Rainha.
“Está prevista a sua incrição em orçamento, agora ou em fevereiro”, precisou a autarca relativamente a estes dois projetos. Conceição Henriques deu a conhecer que a Casa Amarela, outro edifício do Centro de Artes que foi recuperado “já foi entregue” e em breve vai acolher a coleção de Arte Popular que a autarquia adquiriu há vários anos.
Há ainda mais uma novidade relacionada com o setor cultural, pois está a ser elaborado, pelos serviços internos da Câmara, um regulamento que determinará o apoio ao vários tipos de atividades culturais. Este visará a formulação de regras claras para os agentes culturais saberem a que financiamentos se poderão candidatar, seja de uma forma regular ou pontual. “Serão colocadas anualmente em orçamento verbas, para um conjunto de projetos culturais”, afirmou Conceição Henriques.
A ideia é que, a partir de agora, “em cada orçamento municipal haja uma verba clara para toda a gente poder planificar as atividades culturais com tempo, sem prejuízo para quem necessita de alguns apoios episódicos”, garantiu a vereadora.
Muitos outros municípios portugueses já têm estes regulamentos e a autarquia “inspirou-se” em vários pré-existentes”, referiu a autarca, que quis juntar a perspetiva local a este novo documento que permitirá, futuramente, apoiar iniciativas culturais.
Contudo, o novo regulamento terá que ser aprovado pela autarquia, depois posto à discussão pública e voltará de novo à Câmara e se esta última aprovar, passará para a Assembleia Municipal.

Caldas já era criativa no séc. XIX
Na conferência, os diferentes convidados foram incisivos nas críticas como a falta de espaços verdes na cidade ou ainda o facto de as águas termais das Caldas correrem para as Águas Santas e não serem aproveitadas como, por exemplo, se faz nas termas da Hungria, com piscinas a céu aberto.
Sofia Bandeira Duarte dedicou a sua intervenção analisando a história da cidade que teve como primeiro mote o termalismo e, depois, a cerâmica que atraiu Bordallo Pinheiro à localidade em 1884.
O artista, disse a convidada, trouxe inovação à indústria cerâmica caldense e também “em linguagem de hoje, um extraordinário design”, referiu a oradora.
Segundo aquela historiadora de arte, Caldas da Rainha “já era naquela altura uma cidade criativa e não sabia” e convidou os presentes a analisar a arte urbana de então: “uma imensa proliferação de revestimentos azulejares Arte Nova e que ainda conferem um imenso colorido às habitações construídas na época”.
A autora deixou, ainda, várias interrogações relacionadas com as vivências dos museus caldenses, questionando-se se os habitantes os sentem como seus. A análise à comunicação relativa às atividades culturais e turísticas foi crítica e incisiva, pois a maioria dos sites “estão algo desatualizados e são pouco esclarecedores para quem visita a cidade”.
Sofia Reboleira apontou algumas falhas no que diz respeito ao facto de não haver nenhum aproveitamento da energia geotérmica. E deixou ainda o alerta de que é necessário preparar a cidade para as alterações climáticas. Sugeriu ainda a criação de um Centro de Ciência Viva do termalismo onde fosse possível “sentir, tocar e conhecer mais sobre a ciência, associada a estes locais”.
Pedro Xavier, por seu lado, que trabalha na área da cibersegurança fez uma análise ao panorama cultural caldense e deixou a mensagem de que é necessário mapear os autores que trabalham nesta cidade. Fez ainda uma revisão historica para recordar que foram demolidos os Salão Ibéria e o Teatro Pinheiro Chagas.
“Foram destruídos e não foram recontextualizados”, relembrou o convidado que se questionou se as Caldas é ou não uma cidade criativa onde há mega-estruturas como o CCC e grupos independentes que tomam a iniciativa de produzir cultura.
O leiriense João Gabriel formou-se na ESAD.CR e escolheu fixar-se há 10 anos nas Caldas. O artista plástico sublinhou, sobretudo, que a falta de apoio ao arrendamento de espaços de trabalho para autores é algo que urge, podendo até ser determinante na escolha de quem se quer fixar nas Caldas da Rainha.
O colóquio “Caldas,Cidade Criativa?”, organizado pelo Teatro da Rainha encerrou com o concerto “De Buenos Aires a Paris” com Emma Alonso (voz) e José Manuel Vaquero (piano). ■

- publicidade -