Não há nenhum caldense que não conheça o pequeno autocarro azul que chegou à cidade em Maio de 2007 e passou a ajudar a mobilidade de muitas pessoas nas Caldas. Chama-se TOMA, conjugando o verbo “tomar” (o autocarro) com o célebre “toma” (manguito) do Zé Povinho.
Passados sete anos, o serviço tem agora menos clientes e cada vez mais dificuldades em cumprir os horários, mas, nem por isso deixa de ser o único meio de transporte para muitos utilizadores, principalmente idosos e crianças.
Nas conversas que se escutam nas paragens, a opinião entre os passageiros é unânime, quando dizem que “o Toma foi das melhores coisas que apareceu na cidade”. A maioria dos utilizadores são idosos, que não têm carta de condução ou que já não se encontram em condições de conduzir, mas, graças ao Toma, conseguem deslocar-se a todos os pontos das Caldas através das três linhas (verde, laranja e azul).
Porém, com o regresso às aulas, também se vêem bastantes jovens estudantes no autocarro, principalmente pela manhã e ao final da tarde.
Depois há sempre quem recorra ao Toma como meio de transporte até ao emprego, não só por se tratar de uma opção muito mais económica, mas também porque não é fácil estacionar no centro da cidade.
Apesar de essencial para a mobilidade de muitos caldenses, o Toma tem vindo a perder clientes ao longo dos anos, como revelam os dados fornecidos pela Câmara. Em 2010 este modo de transporte urbano registou um total de 310.546 viagens, enquanto que no ano passado o valor desceu para os 261.944, o que significa menos 16% de utilizações.
A linha azul foi aquela que sofreu uma maior queda no número de viagens (quase menos 21%), seguida da linha laranja (menos 16%) e da linha verde, que em 2013 contava com menos 11% de viagens registadas.
O vereador Hugo Oliveira diz que, embora o “serviço prestado pelo Toma seja essencial para a vivência e mobilidade da cidade, este nunca será rentável. Contudo, trata-se de um serviço que o município entende como importante para servir os munícipes”.
Obras na cidade provocam atrasos
Uma das explicações para o decréscimo de clientes é o atraso dos autocarros, que muitas vezes não conseguem “chegar a horas” devido às obras de regeneração urbana que têm decorrido na cidade, já há pelo menos dois anos.
As obras afectam directamente os percursos do transporte, que já foram alterados várias vezes. Com rotas alternativas, torna-se quase impossível cumprir os horários afixados nas paragens, que ainda são os originais. Por isso, quem utiliza o Toma e quer chegar a tempo aos seus compromissos deve contar com atrasos regulares de 10 minutos (no mínimo).
Apesar destes inconvenientes, a maioria dos passageiros tolera a situação por compreender que o serviço não é o grande responsável pelos atrasos, o que se verifica pelas esporádicas reclamações, que não aumentaram nos últimos anos.
No entanto, na opinião de Afonso Pereira, um jovem de 18 anos, os motoristas poderiam aplicar certas medidas para poupar algum tempo. À Gazeta das Caldas, o caldense relata que “antigamente existia mais rigor dentro do autocarro pois, por exemplo, os condutores explicavam às pessoas que deviam sair pela porta de trás e não pela da frente, pelo menos quando havia uma fila lá fora à espera de entrar. Assim, ganhavam-se alguns minutos que fazem a diferença”. Hoje, conta Afonso, o cenário é de maior desleixo, tendo em conta que muitos dos idosos utilizadores do serviço têm alguns problemas de mobilidade, “pelo que não conseguem andar até à porta de trás, ou então demoravam ainda mais tempo”.
Fernanda Tomás, de 70 anos, é da mesma opinião que o jovem Afonso, mas considera que não deveriam ser necessárias chamadas de atenção por parte dos motoristas. “É verdade que há muita gente que sai pela porta da frente, mas só se podem desculpar as pessoas de idade, porque de resto era de evitar. Por outro lado, também acho que não têm que ser os motoristas a avisar, mas antes as pessoas a tomar consciência”, esclareceu esta passageira, que utiliza o Toma para ir até ao cemitério e às aulas de Karaté.
Já Ana Sofia, uma passageira de 34 anos, não acredita que esta medida pudesse atenuar os atrasos, até porque se o ”serviço se paga, pode-se sair por qualquer lado, pois nem é isso que atrasa o Toma, mas sim o trânsito, que é cada vez maior nas horas de ponta”.
A verdade é que, com ou sem atrasos, nenhum destes três passageiros poderia cumprir com todas as suas tarefas com a mesma facilidade, caso o Toma não existisse. Afonso Pereira, por exemplo, que mora perto da paragem da Universidade Católica, levaria cerca de 25 minutos a pé, “a passos largos”, em vez de 17 a 20 minutos que demoraria a chegar até à escola. E Fernanda Tomás teria que gastar muito dinheiro em táxis.
“Adesão à linha azul inferior ao estimado”
Inaugurada em 2009, a linha azul foi recebida de braços abertos pelos passageiros, que passaram a poder deslocar-se até aos pontos mais periféricos da cidade, como o Mercado da Feira, a Cidade Nova e os Hortas, percorrendo assim a cidade de uma ponta à outra.
No entanto, e como reconhece o vereador Hugo Oliveira, “a adesão à linha azul foi inferior ao estimado, tendo em conta os pedidos apresentados para a existência do Toma nesses pontos da cidade”.
Apesar de não ter correspondido às expectativas iniciais, e ter recentemente alterado os seus horários, a linha azul serve muitos caldenses que moram longe do centro da cidade. Desde o dia 15 de Setembro, o autocarro azul passa apenas de uma em uma hora em cada paragem, a partir das 9h30 no sentido do mercado e das 10h00 no sentido Rugby/colégio. Só a partir das 17h30 e das 17h00, respectivamente, é que o Toma azul retomará as voltas de 30 minutos. Já aos sábados, o intervalo entre aos autocarros é sempre de uma hora.
Receitas também estão a diminuir
Embora de forma pouca significativa, as receitas do Toma diminuíram em 2013. Em 2012 a Câmara das Caldas encaixou 102 mil euros pela venda de títulos de transporte deste serviço, valor que se reduziu para 87 mil em 2013.
No contrato de concessão, a autarquia atribui um valor à Rodoviária do Tejo e à sua afiliada Auto-Penafiel para que estas prestem o serviço do Toma. Em contrapartida, a Câmara fica com as receitas da venda dos bilhetes.
Entre 2010 e 2013 os montantes atribuídos às duas operadoras rodoviárias reduziram-se em cerca de 20%. Em 2010 a Câmara das Caldas pagava 175 mil euros aquelas empresas e, três anos depois, esse valor descia para 72 mil euros.
O serviço do Toma é, obviamente, deficitário. Segundo dados fornecidos pelo próprio município, este perde, em média, 250 mil euros por ano para assegurar este transporte público urbano. A taxa de cobertura das receitas pelas despesas ronda os 28%, o que significa que por cada euro gasto pela Câmara com o Toma, os utilizadores só suportam 28 cêntimos.
Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt
































