O que pensam os candidatos sobre a comunicação social local e o seu futuro

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Qual a sua importância e de que forma deve, ou não, ser apoiada a comunicação social local face aos desafios que se lhe colocam, foi a pergunta feita aos candidatos às câmaras das Caldas e de Óbidos. E, se em relação à necessidade de uma comunicação livre e credível há unanimidade, já em relação aos apoios as opiniões diferem

Garante do regular funcionamento das instituições democráticas, ao garantir o exercício da liberdade de informar e de ser informado, a comunicação social atravessa tempos difíceis.

Perante a profusão de fake news, deepfakes e outros mecanismos de desinformação, a informação jornalística tornou-se indispensável para o esclarecimento dos cidadãos e a comunicação social regional tem, na sua essência, a mais valia da proximidade.

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Na edição que assinala o seu centenário, Gazeta das Caldas questionou os vários candidatos à Câmara, das Caldas e de Óbidos, sobre a importância da comunicação social local e se esta deve ser apoiada em termos de política pública local ou não. A sua importância é incontornável para todos, assim como a autonomia que deve ter para informar, diferindo as posições na forma como esta deve ser apoiada.

“A comunicação social deve ser independente. Achamos que deve ter toda a liberdade para agir sem estar presa a órgãos políticos porque, de uma maneira ou outra, sabemos que vão sair condicionados”, considera Carlota Oliveira, candidata da Iniciativa Liberal (IL) à Câmara das Caldas.

“Há uma desinformação brutal nas redes sociais e que é aproveitada politicamente”, reconhece o candidato da AD, Hugo Oliveira, que na sua tese de doutoramento fala sobre a utilização das redes sociais por parte de partidos como o Chega. O candidato considera que a nível nacional, e também local, a comunicação social faz o seu escrutínio, mas reconhece que, por vezes, há um risco de misturar a política com a comunicação social. “Deve-se ter cuidado para garantir a separação clara e garantir que o espaço de um órgão de comunicação seja um espaço longe desta desinformação”, considera.

Para Hugo Oliveira a palavra de ordem é “diferenciação”, do jornal em papel do digital. Considera que o Estado deve apoiar a comunicação social “balizando, criando condições para que não haja uma influência”.

Também o candidato do Chega, Luís Gomes, realça a “extrema importância” da comunicação social para o direito à informação. “Se sabemos que é importante que a informação da cidade chegue às pessoas para estarem bem informadas e não ficarem agarradas a instrumentos que trazem desinformação, é importante que ela seja potenciada para continuar”, refere. Conhecedor das dificuldades atuais, entende que “desde que mantenham os moldes de transparência e independência como são regidos, podem e devem ser apoiados, mas tem que ser em igualdade de circunstâncias para todos os órgãos de comunicação social local”. Considera que “a nível municipal, deve manter-se o que já existe” e, “não for suficiente, então o Estado Central é que tem que fazer esse trabalho, porque nenhum país funciona sem informação”.

Também Vítor Marques, que se recandidata pelo VM, é da opinião que deve ser o Estado Central a apoiar. “Tem essa obrigação de ter metodologias de apoio para que realmente a comunicação se faça de uma forma isenta e idónea”, salienta, defendendo que o Estado tem de ter uma “visão diferente para a comunicação social”. Já os municípios podem colaborar, “fazendo a promoção daquilo que são as suas atividades e apoio a atividades externas, associativas ou das freguesias através da contratualização de publicidade, que é algo que não tem qualquer influência na administração jornalística, mas que aporta rendimento para que o órgão de comunicação poder desenvolver a sua atividade”.

Mais crítico, Carlos Barroso, candidato independente pelo ADN, considera que, a nível local, “a comunicação social perdeu espaço para a evolução, não por culpa dos profissionais, mas por questões de gestão. Ainda é possível recuperar, mas será difícil apanhar o ritmo atual”, entende, destacando que, com as mudanças no consumo de informação, o foco está na multimédia, e que é crucial formar quem trabalha ou pretende trabalhar nesse campo. A sustentabilidade financeira da comunicação passa pela publicidade e pelos apoios do Estado, não concordando que “as autarquias apoiem diretamente os meios locais, nem que os títulos de imprensa estejam ligados à política, pois isso compromete a independência dos jornalistas. Para a profissão, essas ligações políticas são prejudiciais à credibilidade e isenção”, salienta.

Possuidor de experiência no setor, Carlos Barroso acredita que “com as estratégias certas e oportunidade para os profissionais se expressarem, é possível manter um crescimento sólido. É fundamental que as pessoas se sentem, conversem e trabalhem juntas para encontrar soluções”, concretiza.

Para João Arroz, candidato pelo Livre, a comunicação social local é muito importante pois consegue ter uma ligação à comunidade que os órgãos nacionais não conseguem e isso permite criar uma ligação de confiança. Para além disso, conseguem “subverter o perigo da desinformação, dado que trabalham com fontes em quem confiam e fontes confiáveis e verídicas”. Entende que devem ter “apoios nacionais para conseguirem continuar a sua atividade sempre, pouco importa o tempo em que vivemos, porque tanto em termos de crise quanto em termos de prosperidade, é importante ter fontes verídicas e fontes confiáveis e, portanto, têm de ser apoiadas nestas duas vertentes”.

A CDU tem apresentado, na Assembleia da República, várias propostas ao longo dos últimos anos, em torno do problema da comunicação social local, lembra o candidato Duarte Raposo, reconhecendo que são necessárias medidas públicas de apoio. “A autarquia deve ser uma voz ativa na proteção dos meios de comunicação social locais que existem, dos seus jornalistas, e, acima de tudo, mais uma vez, temos tido uma postura reivindicativa junto do Estado Central”, acrescenta.

Referindo-se ao espólio da Gazeta das Caldas, adquirido pela autarquia, entende que este “poderia estar exposto ao público, e desta forma permitir uma maior aproximação entre o jornal e a comunidade”.

Para Carlos Ubaldo, candidato pelo BE, é “muito importante que a imprensa local tenha toda a possibilidade de estar sempre na linha da frente, presente naquilo que são os espaços formais e informais de discussão pública”. No entanto, reconhece que a necessidade de sobrevivência tem levado à transformação de muitos órgãos de comunicação local. Considera que a comunicação social deve ser apoiada como aconteceu com anteriores governos com o porte pago. “Acho que deve haver apoios até porque a democracia tem custos e esses custos são zero comparado com o oposto a isso. A não notícia só interessa ao bandido”, conclui.

Os candidatos de Óbidos
Adélia Araújo, candidata do Chega, destaca a importância da comunicação social e reconhece não ter uma ideia concreta sobre as suas dificuldades, mais está ciente de que “quanto é local é difícil pois tem poucos meios”.
Considera que deveria ser feito um estudo para arranjar uma solução intermédia porque “é mau os meios de comunicação sentirem-se sobre alçada e dependentes de uma câmara ou um governo”.

Para o candidato do PS à Câmara de Óbidos, Paulo Gonçalves, é fundamental que a comunicação social local, chegue aos jovens e que haja, por exemplo, uma maior interação com as escolas.

“Já ninguém procura notícias, as notícias chegam às pessoas. E eu acho que a comunicação social tem de escolher não só chegar mais rápido, mas, acima de tudo, chegar àqueles que terão a capacidade de inverter isso, que são os jovens, mostrando-lhes a importancia das notícias verdadeiras”, salienta.

Defensor da imprensa escrita, Carlos Pinto Machado, candidato pelo CDS/PP a Óbidos considera que é importantíssimo, “mantendo a sua isenção, criar condições para manter a imprensa sustentável. Sem estar dependente de lobbies”. A solução, na sua opinião, passa pelo apoio das empresas, que poderiam ser “verdadeiros sponsors” da imprensa.

“Precisamos muito do jornalismo regional, de jornalistas que digam a história do país, do concelho, que sejam defensores da democracia sem ser de um ou outro partido”, refere o candidato da CDU, Carlos Luz, realçando que “é fundamental a liberdade de expressão e o papel dos jornalistas é muito importante, sobretudo nos tempos que correm”. Para este candidato, esta deve ser apoiada, desde que não perca a autonomia e a capacidade de intervenção que o jornalista deve de ter.

Também Filipe Daniel, candidato pelo PSD à Câmara de Óbidos, partilha da opinião que a comunicação social local deve ser apoiada, considerando-a um “um extraordinário veículo de informação”. E destaca a importância do papel. “Quando há a tendência de ir tudo para o digital, hoje a fazer scroll no telemóvel as noticias passam ao lado das pessoas, pelo que é fundamental ter um formato físico”.

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