
Um ano é um lapso de tempo curto para fazer avaliações, mas a oposição formula críticas contundentes ao exercício de poder do executivo de Vítor Marques nestes 12 meses. O PS aprecia o estilo.
O dia 26 de setembro de 2021 entrou diretamente para a história da política nas Caldas. A eleição de Vítor Marques para a presidência da Câmara pôs termo a quase quatro décadas de poder do PSD e foi um acontecimento marcante, mas, um ano depois de poder efetivo do Vamos Mudar (VM) na autarquia, afinal o que mudou no concelho?
Apeado do poder pelo movimento de independentes, Fernando Tinta Ferreira não é meigo nas palavras. “Naquilo que é estrutural mudou muito pouco”, sustenta o ex-presidente da Câmara, para quem o VM “criou a ilusão junto das pessoas de que era possível fazer muitas mudanças e de que essas mudanças seriam muito melhores para o concelho e para a sua vida”. Só que a “desilusão substituiu a ilusão”. “As poucas mudanças que ocorreram, de carácter simbólico, correram mal”, avalia o vereador do PSD, criticando, entre outros aspetos, a realização do concerto de 15 de Maio, a organização das festas na praia da Foz do Arelho e da Frutos.
Visão menos crítica tem Luís Miguel Patacho, que transitou da oposição no anterior executivo e tem estado ao lado da maioria relativa do VM, que considera que, neste ano se ganhou “qualidade da democracia na Câmara”. O socialista salienta o “saber ouvir as partes e acolher e executar as propostas da oposição quando têm notório mérito, com evidente benefício para os munícipes”.
Contudo, para o PSD, “não há uma segunda oportunidade para criar uma boa primeira impressão” e o primeiro ano de mandato “ficou claramente aquém das expetativas criadas”.
“Tem sido um mandato com uma execução fraca. Ao fim de um ano, para além de algumas repavimentações e conclusão de algumas intervenções em espaço público, só uma obra das mais relevantes, que estavam em curso, foi concluída. Se esta é a marca VM vamos no mau caminho”, frisa Tinta Ferreira, para quem várias obras “poderiam ter andado mais depressa”.
“Os problemas com falta de mão-de-obra e material no tempo da Covid-19 já não se verificam”, afirma o social-democrata, que dá como exemplo as intervenções no Pátio dos Burros, Escolas do Avenal e A-dos-Francos ou na Igreja de Nossa Senhora do Pópulo.
Já Luís Patacho fala de “um ano de aprendizagem” do VM e perfilha a “continuação do envolvimento da oposição que está disponível para trabalhar numa perspetiva construtiva”. O socialista gostava, porém, que alguns processos como a extinção da ADJCR e da ADIO e o lançamento das bases para a construção do novo Balneário Termal estivessem já “tratados, ou pelo menos mais adiantados”. E quanto ao entendimento entre o PS e o VM diz que “tem sido positivo”, com “uma plataforma de diálogo e de trabalho saudável” que tem permitido “ir, até, aqui e ali, além do estabelecido” no documento. “O que não significa que estejamos de acordo em tudo; e não estamos”, assevera.
O olhar de quem está de fora
O cenário político caldense mudou substancialmente há um ano, com outro dado singular: apenas três forças políticas estão representadas na Câmara e Assembleia Municipal. O que pode condicionar o debate, mas não impede outras forças políticas de prosseguir a análise autárquica.
Edmundo Carvalho, que se candidatou pelo Chega, elogia “a cordialidade e a disponibilidade” do presidente da Câmara, mas “em termos de gestão corrente, naquilo que é visível, gostaria de poder enumerar alterações positivas relevantes, mas sinceramente não são visíveis”.
Como a “quase totalidade dos elementos do Vamos Mudar não tinha experiência política e de gestão autárquica”, o coordenador da Concelhia das Caldas do Chega considera que este primeiro ano “foi um ano de integração na orgânica autárquica e de conhecimento dos processos”, mas o “período de ‘estado de graça’ já se esgotou e o executivo vai ter de mostrar muito mais capacidade para corresponder ao que dele se esperava”.
Já Carlos Ubaldo, que foi cabeça de lista do BE, adverte que a comunicação procura “passar uma mensagem de que o Município está sempre envolvido em muitas frentes, o que denota estar este executivo ainda a usufruir das expectativas criadas há um ano”, mas refere que a marca da mudança não poderá ficar apenas pela forma de estar e de ser de VM, que não sabemos claramente o que significa neste momento: Vítor Marques ou Vamos Mudar”. “Não temos dúvidas que um ano é tempo suficiente para pôr no terreno ações que mostrassem efetivamente a vontade de mudar”, adverte o dirigente do Bloco, que olha de lado para o memorando de entendimento entre VM e PS: “O entendimento fará sentido se com ele se levarem por diante políticas do maior interesse para a população. Não precisamos de um entendimento que seja um seguro de vida para ambos…”
Para Luís Caixeiro, do PCP, “em algumas matérias, como a construção de mais uma superfície comercial na cidade, a ‘marca VM’ não se distingue da ‘marca PSD’”. “Das propostas à obra concreta vai uma grande distância, e não se pode dizer que a cidade esteja a ser visivelmente mudada pelo novo executivo camarário”, frisa o comunista, que valoriza a “preocupação” da Câmara “em acolher condignamente refugiados ucranianos”, mas alerta que se deve “prestar um olhar mais atento a outros fluxos de imigração, nomeadamente aos que trazem até às Caldas muitos trabalhadores de outras latitudes, cujas condições laborais e de habitação são particularmente precárias”. O dirigente considera, ainda, que já deveriam estar mais avançados os processos relativos ao Plano de Pormenor do Centro Histórico da Cidade e ao Plano Diretor Municipal, “que se têm arrastado ao longo do ano” e considera também que “as negociações para a construção de um novo Hospital do Oeste parecem não ter surtido ainda efeitos muito visíveis”.
A atuação da Câmara no processo relativo ao Hospital do Oeste também preocupa Paulo Pessoa de Carvalho, para quem a autarquia se deve “bater forte e feio pela vinda para a região, para o concelho ou concelho limítrofe”. Numa “avaliação geral”, o cabeça de lista da coligação Caldas + Rainha diz que “mudaram algumas coisas que estavam menos mal e não mudaram propriamente para melhor, tendo aquelas que se consideram há muito patologias crónicas e carentes de mudança, não ter sido a prioridade nada se alterando”. E dá como exemplo o Hospital da cidade, que “origina cerca de 2.000 postos de trabalho para o concelho”, o que significa “que é o maior empregador, a maior empresa da região”. “Imagina-se o que será a perda de cerca de 15% da força económica gerada por estes postos de trabalho para o concelho e as consequências dramáticas que isso traria?”, questiona.
Tinta Ferreira concorda e, além das questões da saúde, salienta que o município “deixou de ter representatividade nos órgãos nacionais da Associação Nacional de Municípios e já não ocupa a vice-presidência na Comunidade Intermunicipal do Oeste e na Rede Europeia das Cidades Históricas Termais. “Infelizmente corremos o risco de perder o nosso peso e relevância regional nos próximos três anos”, advoga o homem que sucedeu a Fernando Costa nos Paços do Concelho e que considera que a situação política no concelho “está algo adormecida” e, ao contrário do que defende o vereador do PS, identifica “falta de debate político, comparativamente com mandatos anteriores”.






























