O papel decisivo da Gazeta na elevação das Caldas a cidade

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Gazeta das Caldas

IMG_0824Caldas da Rainha celebrou o 88º aniversário da elevação a cidade no passado dia 26 de Agosto (quarta-feira) com bombos e uma comitiva a musicar e animar as ruas enquanto distribuía beijinhos às pessoas e explicava a celebração da data. À noite, numa sessão realizada nos Pimpões, a historiadora Isabel Xavier recordou o caminho percorrido até Caldas ser cidade e Tinta Ferreira perspectivou o que será o futuro. A fechar a noite, um concerto da Orquestra Ligeira do Monte Olivett e um Porto de honra na sede da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro. Na cerimónia, onde esteve mais de uma centena de pessoas, foram ainda expostos trabalhos sobre as Caldas realizados por alunos da escola Raul Proença.

Isabel Xavier, presidente do Património Histórico, recordou a conjuntura económica e social das Caldas que permitiu a elevação a cidade. Recordando o peso do regionalismo (corrente que defendia que do esforço de cada região resultaria o progresso nacional) e dos regionalistas no poder local e central, a forte expansão demográfica vivida nas Caldas entre 1878 e 1930 e o programa de obras públicas do século XIX, a oradora disse que, “enquanto Berquó foi o arquitecto das Termas, Paulino Montês foi o da cidade numa acção que pode ser considerada complementar, respectivamente marcante do princípio e do fim de uma conjuntura que levou Caldas da Rainha da condição de vila à de cidade”.
No entanto, o estatuto de cidade não faria falta a uma estância termal, marcada pela sazonalidade, mas sim a um centro urbano que aspirava a ser um pólo entre o sul de Leiria e o norte de Lisboa, sendo nesse âmbito criadas as exposições económicas da região. Salientando a repercussão nacional da quinta (e última) exposição realizada, afirmou que esta “está indelevelmente ligada à elevação a cidade, até de um ponto de vista cronológico, já que coincidiram no tempo”. É que a exposição decorreu entre 21 e 28 de Agosto, sendo que a notícia da elevação a cidade chegou às Caldas a 25, efectivando-se no dia seguinte em cerimónia com o Presidente da República de então, Óscar Carmona.
Mostrando nas páginas da Gazeta de 28 de Agosto um artigo que se referia à elevação a vila titulado “Caldas da Rainha: a condenação do passado, o elogio do futuro”, “a ideia é que se está numa fase de transição e muito importante para o futuro da cidade. E a Gazeta das Caldas teve um papel decisivo e fundamental nesta conjuntura”, afirmou Isabel Xavier.
A oradora destacou também o papel da “propaganda” que procurava atrair pessoas pelo turismo, termalismo, praias, touradas, exposições, cultura e arte. “A arte constitui o aspecto mais inovador do desígnio que havia para as Caldas”, disse.
Citando João Bonifácio Serra, historiador que foi também colaborador na Gazeta das Caldas: “a escultura e a pintura foram chamadas a colaborar na promoção das termas e a assinalar em espaços públicos as figuras e os momentos fundadores do centro urbano, enquanto o urbanismo era convocado para a ‘extensão, regularização e embelezamento’ da cidade”.
E foram vários os exemplos disso mesmo. Projectando um número especial da Gazeta das Caldas de 1925 (dedicado ao IV centenário da morte da rainha D. Leonor) onde se noticia a aceitação por José Malhoa do convite da Associação Comercial e Industrial para fazer o quadro da rainha e onde se publicava o esboço feito pelo pintor, recordou o papel de António Montês e de Júlio Lopes, vice-presidente e presidente, respectivamente, da associação.
Para além disso, o primeiro era um dos principais colaboradores do jornal Gazeta das Caldas, enquanto que o segundo foi editor (1938-1961) e director (1949-1961) do semanário nascido em 1925 (e que este ano comemora 90 anos).

A IMPORTÂNCIA DA ARTE

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Assim, apresentou exemplos do que se fez artisticamente que ajudou a elevar a vila a cidade: em 1926 é concluída a tela da Rainha e da exposição do quadro na Casa de Barcos do Parque nascia o embrião do museu dedicado ao pintor. No ano seguinte é implantado o busto de Rafael Bordalo Pinheiro no Parque D. Carlos I.
“Na exposição regional desse ano, não só a cerâmica artística e as artes plásticas tiveram presença em pavilhões próprios, como o design da exposição foi obra de arquitecto”, refere Isabel Xavier.
No ano seguinte, em 1928, é a vez de Malhoa ter um busto no Largo Dr. José Barbosa, inaugurado nas homenagens nacionais ao pintor, cujo programa passou pelas Caldas. A Comissão de Homenagem era constituída por António Montês, Júlio Lopes, José Saudade e Silva e a Gazeta das Caldas.
Foi também na Gazeta que foi publicado um conjunto de cinco artigos de Luís Teixeira sob o título genérico de “Diversos aspectos do problema caldense” (Janeiro e Fevereiro de 1927) onde o jornalista fazia o diagnóstico da situação das Caldas, referenciando os principais problemas e apresentando soluções e onde contestou que se continuasse a pensar as Caldas exclusivamente enquanto estância termal, porque os tempos já não eram propícios a permanências prolongadas, com iniciativas apenas para agradar a quem a visitava, dependente da sazonalidade. “Pelo contrário, procurava pensar a cidade valorizando recursos próprios”, recordou a historiadora.
Em 1930 é concluído o ‘estudo de urbanização’ encomendado três anos antes pela Câmara a Paulino Montês. Ganha forma o projecto de erguer nas Caldas um Museu de Artes que viria a ser consagrado em 1934 ao pintor José Malhoa. No ano seguinte é colocada a estátua da Rainha D. Leonor na entrada sul da cidade, “completando-se assim, sob a égide das artes plásticas, o ciclo da refundação iniciado com as exposições da década anterior”.
A historiadora concluiu então com o desejo de “que estas palavras nos sirvam de inspiração e de exemplo e que tenhamos a coragem necessária para conseguir transformar a cidade, experienciando-a sob moldes ou modelos novos, com recurso às artes, afirmando-a na região e no mundo, de forma inovadora, criativa e consistente”.
As promessas de Tinta para Sto. Onofre

Tinta Ferreira, presidente da autarquia caldense, afirmou-se muito satisfeito com os mais de 100 espectadores, comparando com o evento do ano anterior em que esteve cerca de meia centena. O autarca salientou a “acção pedagógica de dar a conhecer  à população que há, para além do dia da cidade, uma outra data que é importante registar, referir e acompanhar: a data em que as Caldas viu reconhecida a sua força económica e social, a sua dinâmica e a sua afirmação no contexto regional”.
Exaltando o que de bom a cidade tem, afirmou que as Caldas vive “um bom momento e também um momento decisivo, de charneira”. É que, depois das intervenções da regeneração urbana, às Caldas, “pela primeira vez desde a sua fundação, coloca-se à cidade a possibilidade de ser ela a responsável pelo que esteve na base da sua origem, que foi o Hospital Termal”.
E como estava em Santo Onofre (e em ano de eleições), recordou que no âmbito dos projectos de reabilitação urbana, a autarquia tentará requalificar alguns espaços públicos nos bairros das Morenas, dos Arneiros e da Ponte e irá tentar apoiar a construção do Teatro da Rainha. Prometeu ainda a requalificação do Centro de Saúde das Caldas e da zona do complexo desportivo (com fundos comunitários). Disse ainda que está previsto – também dependendo do acesso a fundos comunitários – apoiar a Junta de Freguesia na construção de uma nova USF em Santo Onofre.

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