O padre que escreve biografias de santos modernos e dirige a comunicação da Igreja

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Ricardo Figueiredo tem um podcast com o seu nome

Ricardo Figueiredo doutorou-se em Teologia pela Universidade Católica e atualmente dirige a comunicação do Patriarcado de Lisboa. Autor de mais de 20 livros, destacam-se biografias de santos

Ricardo Figueiredo, de 35 anos, é autor de mais de 20 livros, tem um podcast e ainda lhe sobra tempo para ser padre. Foi pároco em Óbidos entre 2017 e 2023, dirigindo agora a paróquia de Miraflores, no concelho de Oeiras, e, desde março de 2024, é o responsável pelo Departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa. Doutor em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa, afirma que agora “é o momento de ajudar”, aplicando os conhecimentos adquiridos na comunicação para o grande público.

“Aos poucos, procurar ser a voz e o rosto da Igreja no espaço público, para mostrar que a Igreja também é um player na sociedade e tem uma palavra a dizer, autorizada por dois mil anos de história. Tem sido essa a minha principal missão e o que mais me tem ocupado ultimamente”, diz.

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No fim de semana de 13 e 14 de setembro, acompanhou a visita do número dois do Vaticano, o cardeal Parolin. Porém, o padre destaca a morte do Papa Francisco e a eleição do Papa Leão XIV como o maior evento que cobriu. “Foram semanas muito intensas de ajudar a comunicar, criar materiais, esclarecer dúvidas, … Poucos foram os dias em que não fui a uma televisão; por vezes, fui a quatro no mesmo dia”, recorda.

Destaca o “traduzir” da “linguagem hermética que é própria da legislação canónica” para “linguagem comum” como “o grande desafio”.

Ricardo Figueiredo é autor de mais de vinte obras, entre as quais se destacam as biografias de santos dirigidas aos jovens, que já se contam em oito. Desses, há quatro publicados no Brasil, dois no México, um nos Países Baixos e outro na Noruega.

A primeira biografia foi a de Guido Schäffer, mais conhecido como o “Santo” Surfista, publicada em 2017. Ricardo Figueiredo era, então, vigário paroquial em Peniche, a “Capital” da Onda. “Tinha esta preocupação de padre de como chegar às pessoas e mostrar que a vida cristã está ao alcance de todos”, explica.

Entrementes, um padre missionário francês veio a Peniche, e é ele quem lhe dá a conhecer o servo de Deus. “Já colaborava com a editora Paulus e, certo dia, o editor perguntou-me: “O padre Ricardo já ajudou a publicar tantos livros, quando é que publica um?” E, como andava a ler a vida do Guido, disse: “Gostava de escrever um livro sobre o “santo” surfista”, ao que o editor respondeu: “Escreva, que nós publicamos”. Foi assim que começou”, recorda.

Seguiu-se o recém-canonizado S. Carlo Acutis e São José Sánchez del Rio. “As raparigas queixavam-se que só escrevia sobre rapazes, se as raparigas não podiam ser santas. Então escrevo sobre a Irmã Clare Crockett, São de Alenquer e Luiza Andaluz”, conta. “Procuro mostrar que em cada época, nos mais diversos contextos, a santidade é possível.”

Os dois últimos santos biografados foram São Nuno de Santa Maria e o Santo Atanásio de Alexandria. “D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, é tão conhecido da história portuguesa, mas não há um conhecimento completo acerca da sua história de santidade”, diz. “O beato Carlos de Áustria, o último imperador do Império Austro-Húngaro, que está sepultado na ilha da Madeira, também é um santo que conhecemos habitualmente do ponto de vista histórico, mas que nem se sabe que é santo. É importante contar estas histórias para percebermos como os acontecimentos sociais, políticos ou culturais que marcam a sociedade contemporânea são sempre influenciados por exemplos de santidade”, defende.

O escritor está a investigar sobre o primeiro santo português, S. Teotónio, “o grande conselheiro de D. Afonso Henriques”.

Natural de Belas, em Sintra, Ricardo Figueiredo entrou para o Seminário de Penafirme aos 15 anos, tendo saído aos 18, “com muitas dúvidas”. Regressou aos 21 anos, desta feita para o Seminário Maior dos Olivais.

Do seu tempo como pároco de Óbidos, salienta o “saber parar para festejar”, como aquando do Santo Antão, mas não só. “É o ser humano que reconhece que o seu valor está no saber celebrar a sua tradição, a sua cultura e a sua fé: valores transcendentes, invisíveis, mas que fundam aquilo que é a sociedade. E isso é importantíssimo num tempo em que, tantas vezes, o ser humano é reduzido apenas àquilo que produz, ao dinheiro, ao valor material”, remata.

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