Cerca de 180 pessoas assistiram ao encontro organizado pela ACES Oeste Norte
“É preocupante o isolamento em que vivem adolescentes e jovens, ligados ao mundo através da internet e das redes sociais”, disse Ana Pisco, presidente do ACES Oeste Norte, ao fazer o balanço do IV Encontro de Saúde Mental que decorreu a 11 de Outubro,na Secundária Rafael Bordalo Pinheiro. A responsável considera que é muito importante reforçar a ligação dos jovens às suas famílias
No último painel participaram responsáveis que apoiam a igualdade parental e homens que foram vítimas de violência sexual

Trajectórias de vida – Rótulos… para que vos quero foi o tema do IV Encontro de Saúde Mental, promovido pelo ACES Oeste Norte a 11 de Outubro na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro e que contou com a participação de 180 pessoas.
Durante a manhã, vários oradores falaram sobre questões relacionadas com as temáticas da identidade, da memória e da história de cada pessoa onde ficou bem patente como são importantes “as práticas e rituais que todas as organizações acabam por ter”, disse Ana Pisco, explicando como são importantes as práticas familiares, os rituais, os símbolos, as celebrações e as refeições em comum. São estas ligações que fazem com que adolescentes e jovens tenham “defesas” e não se deixem levar por “maus caminhos, aderindo a propostas de grupos duvidosos”.
A primeira mesa contou com a experiência e a partilha de Vítor Cotovio que trabalha com adolescentes na Casa de Saúde do Telhal. O responsável explicou que se vai verificando com muita frequência que há crianças “que não conversam, não convivem, vivem isoladas, falando apenas com quem pensa da mesma maneira nas redes sociais”. Para a médica, é algo que tem que preocupar a sociedade e as suas organizações pois estes jovens apresentam dificuldades em enfrentar os obstáculos do dia a dia. Soma-se a desestruturação da família, que hoje é muito diferente do que era há 20 ou 30 anos, provocando falta de apoio ao desenvolvimento saudável nos mais jovens.
“As crianças passam actualmente o dia nas escolas, só vêm a casa para dormir, além dos seus pais terem cada vez menos tempo para estar com elas”, disse Ana Pisco, que defende uma escolaridade diferente, com um horário muito menor, deixando espaço para estar em família e “não a fazer os trabalhos da escola”.
Muitos adolescentes permanecem isolados nos seus quartos, “ligados ao mundo através dos seus IPads e Ipods, contactando com realidades para as quais podem ser vulneráveis à manipulação”, referiu a médica, acrescentando que os comportamentos e dependências em relação à internet serão tidos em conta em breve pelo Plano Nacional de Saúde.

Pedir apoio aos 60 anos

No último debate participaram também representantes das associação portuguesa para a Igualdade Parental e Direitos dos Filhos e a Quebrar o Silêncio, associação contra a violência sexual contra homens.
Esta associação apoia homens que na sua maioria foram violentados sexualmente na infância ou na adolescência e que só conseguiram falar sobre a experiência traumática aos 60 ou aos 70 anos, altura em que ganharam coragem para pedir apoio a esta associação. O presidente da Quebrar o Silêncio, Ângelo Fernandes, deu a conhecer vários casos de pessoas que estão a ser apoiadas pela entidade que dirige, as quais sofreram violências que as impediram de viver a sua vida em pleno.
Para Ana Pisco, ao longo deste encontro anual que visa assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental, ficou claro que as pessoas “têm necessidade de partilhar estas experiências e falar destes temas sem preconceitos”, rematou.

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