O investigador multifacetado que sempre estudou a sua terra

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O antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, e João Serra, durante a cerimónia de jubilação, em maio de 2019, na ESAD

Detentor de um currículo imenso, João Bonifácio Serra, destacou-se nas áreas da história e cultura contemporâneas

Natural da aldeia de Carvalhal Benfeito, João Bonifácio Serra nasceu a 22 de abril de 1949. Depois de fazer o ensino primário na terra, prosseguiu estudos do Externato Ramalho Ortigão, nas Caldas da Rainha. Licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e iniciou a sua atividade profissional em 1970, como professor do ensino secundário, primeiro em Castelo Branco e depois em Lisboa. Mas antes, na década de 60, já tinha colaborado no Diário de Lisboa e também na Gazeta das Caldas.
Ativista sindical durante o período quente de 1974, João Serra viria a pertencer ao MES (Movimento de Esquerda Socialista) após o 25 de Abril e, em 1976 fez parte dos órgãos políticos da candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, experiência que viria a repetir em 1986, com Francisco Salgado Zenha. O caldense aderiu ao Partido Socialista em 1989, aquando da eleição de Jorge Sampaio como secretário-geral do partido e com atividade nas estruturas locais das Caldas, inclusivamente como deputado municipal.
Em 1995, quando Jorge Sampaio se candidatou à Presidência da República, João Serra integrou o pequeno grupo de colaboradores que preparavam os seus discursos e intervenções políticas. Foi depois convidado pelo Presidente a trabalhar no Palácio de Belém, primeiro como consultor e depois como assessor. Em 2004, foi nomeado chefe da Casa Civil, cargo que desempenhou durante os dois últimos anos do mandato presidencial. Sampaio viria a condecorá-lo, em 2006, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo e com a Ordem da Liberdade. Seria amigo de longa data quem, em maio de 2019, viria à ESAD, participar na cerimónia de jubilação do historiador caldense. Na altura, o antigo Presidente da República destacou o trabalho do homenageado na criação daquela escola superior, onde foi também investigador e professor em cursos de licenciatura e mestrado.
Apesar da sua intensa atividade, João Serra é um homem “sem pressa, com vagar para ouvir os outros, olhar demoradamente a paisagem e os objetos”, lembrou, na altura, Jorge Sampaio, referindo-se ao colaborador “seguro e leal a quem as tarefas mais melindrosas podiam ser delegadas e confiadas sem risco”. Mostrou-se admirador da robustez das suas análises políticas, da sua perspicácia e capacidade de persuasão e disse estar muito grato, pessoal e profissionalmente, pelo contributo que lhe deu. Foi membro do Conselho Geral do Politécnico de Leiria, entre 2008 e 2018 e pró-presidente, entre 2014 e 2018.
Do seu percurso profissional destaque também para o projeto Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, que o levaria durante quase cinco anos para aquela cidade, que ajudou a transformar culturalmente. Também a ele se deve a atribuição, em 2018, da Cátedra UNESCO em Gestão das Artes e da Cultura, Cidades e Criatividade, de que era o professor titular. Mais recentemente, presidiu ao Conselho Estratégico Rede Cultura 2027, a entidade responsável pela candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027.

Interesse pela história e política
Desde sempre a área história social e política suscitou o seu interesse. Investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Nova da Universidade de Lisboa, João Serra lecionou várias disciplinas no ISCTE, na Faculdade de Letras de Lisboa e na Universidade Lusófona. É autor de numerosos estudos sobre temas de história portuguesa dos séculos XIX e XX, sobretudo sobre o movimento republicano e a I República. Com diversos livros e estudos publicados sobre variados temas da história local, João Serra abordou com pormenor a história da cerâmica e de diversas personalidades da região. Esteve na criação, em 1991 da Associação Património Histórico – Grupo de Estudos, das Caldas da Rainha, foi seu presidente durante vários anos e atualmente era presidente da mesa da assembleia geral. Mais recentemente foi comissário da Festa da Cerâmica e da Bienal Molda.
João Serra teve ainda um papel fundamental na obtenção da classificação das Caldas da Rainha como Cidade Criativa da Unesco, na área do artesanato e arte popular, alcançada em 2019. Coordenou a elaboração do programa preliminar para um novo Museu de Cerâmica das Caldas, aprovado em 2021.
A Câmara das Caldas atribuiu-lhe, em 2000, a medalha de mérito, grau ouro, por ocasião das Festas da Cidade. Também os municípios de Guimarães e Leiria reconheceram o seu mérito com a medalha de ouro da cidade. ■

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