O Incógnito – um chefe francês com produtos locais

1
678
Donos

O Incógnito, com a sua cozinha francesa de autor baseada nos produtos portugueses e locais, é indiscutivelmente um dos restaurantes gastronomicamente mais sofisticados de toda a região Oeste – e, se não hesitássemos em ser absolutos, diríamos o mais sofisticado. Está acima das preferências do caldense típico, que prefere a comida caseira e conhecida, às surpresas de uma experiência gourmet.

Por alguma razão, quando os seus proprietários estiveram instalados na zona mais cosmopolita de Óbidos, onde conseguiram um Bib Gourmand (a distinção do Guia Michelin para os grandes restaurantes que não vivem no campeonato de luxo e dispendioso das estrelas), entre 1999 e 2004, tinham sistematicamente a casa esgotada, e era dificílimo conseguir uma mesa
Walter Blazevic, 41 anos, francês (Mulhouse, Alsácia) de origem croata, chefia a cozinha. E a sua companheira, Mariana Monte, aqui da região, encarrega-se da sala. Conheceram-se na Suíça, e decidiram instalar-se na zona durante uma viagem que aqui fizeram em 1998. As Caldas da Rainha, com o seu mercado de frutas e legumes, são a tentação natural de qualquer grande chef. Para não falar no peixe que chega da lota de Peniche, e da carne que por aí ainda se vai arranjando.
Blazevic concluiu há 24 anos um curso profissional de cozinha numa escola de hotelaria da sua terra, Mulhouse. Trabalhou depois em grandes hotéis do Sul de França e da Suíça, incluindo o Carlton de Cannes, o Lausanne Palace e o Euler de Basileia.
Em Portugal, e aqui na cidade, talvez pela pouca adesão da clientela local, é possível experimentar-se uma excelente refeição gourmet da sua autoria por preços únicos, que rondarão os 25€.
É uma cozinha de produtos, muito autêntica, avessa a modas e a tecno-emoções pour épater le bourgeois. O que pode reflectir-se no tempo de serviço. Mas ir comer ao Incógnito é um programa suficientemente atraente para não se ter pressas.
O restaurante fica perto do Quartel, do outro lado da rua, num prédio recente, onde já funcionou um conhecido tailandês, o Suputra. Decoração moderna, em que umas intervenções metálicas quebram vagamente o minimalismo, chemins de pano nas mesas, copos de água e pratos de designe. Ambiente agradável.
O chef trabalha aqui os produtos frescos da região com toques subtis de especiarias, que nos lembram reminiscências orientais, numa cozinha de fusão. Estas especiarias não são normalmente, no entanto, orientais: vêm do Norte de África, de antigas colónias francesas (Argélia, Marrocos) – tudo sabores mediterrânicos –, e são usadas num perfeito qb. Constatámo-lo em entradas como vieiras salteadas sobre puré de cenoura com gengibre e cominho marroquino (ultimamente, as vieiras têm vindo antes com mousse de abóbora e boletos, numa emulsão de cogumelos), ou tarte fina com caviar de beringelas, camarões, legumes da época e um misto de especiarias, ou até nos escalopes de foie gras salteados, chutney de peras rochas e amêndoas com redução de moscatel (o foie grãs aparece agora com maçã e figos confitados em Porto branco), ou ainda no folhado de salmão e cogumelos com espinafres em molho de curcuma (açafrão, este sim, indiano), mais a deliciosa salada de polvo e camarões com vinagreta de tomate e chouriço. Mas há também as muito penichenses sopas de peixe ou de sapateira (esta, num creme com legumes).
E os pratos principais, desde o caril de peixes do dia com chutney exótico e arroz basmati, à corvina com camarões e molho de champagne, passando pelo tamboril com azeitonas e alecrim e pelo peito de pato com molho de mel, laranja e pimenta perfumada, ou a pluma de porco preto com molho de soja e sésamo, até ao famoso duo de borrego (alcatra e sela) com molho de alecrim e gratinado de abóbora em parmesão, são sempre irresistivelmente surpreendentes. E, enfim, já não me sobra espaço para descrever as sobremesas feitas em redor de produtos regionais, como a ginja de Alcobaça ou a pêra rocha.
A lista de vinhos vai-se alargando, com atenção à zona do Oeste.
Obrigatório. Começando, de preferência, com um copito de espumante. Seria uma perda irreparável para a qualidade da gastronomia da região (e até uma vergonha para o perfil gourmet dos habitantes) se este casa viesse a soçobrar por falta de clientela.

- publicidade -

Pedro d´Anunciação

Incógnito
R. General Amílcar Mota, Caldas da Rainha
Telef. 262841258
Fecha domingo e segunda-feira
Não fumadores

- publicidade -

1 COMENTÁRIO

  1. Mas por que motivo é que não se indica (mesmo que aproximadamente) o preço de uma refeição? Ou o dos principais pratos? É uma informação complementar e é melhor os leitores ficarem com uma ideia do que não irem porque, pela descrição, pensarão sempre que é muito caro. (E o que lá existiu não era “Suputra” mas “Supatra”!)
    Já comentei isto aqui: o-das-caldas.blogspot.com/2010/09/uma-aventura-no-oeste.html