São centenas de voluntários que trabalham nas diferentes associações do concelho a preparar os carros e os fatos. O regresso das celebrações será marcado pela folia, mas também pela sátira política
Um pouco por toda a região já se sente o espírito do Carnaval. É que no Oeste, realce-se, há, por um lado, uma grande tradição e, por outro, a existência de eventos que atraem multidões.
Nas Caldas o Carnaval é conhecido por ser trapalhão e é isso que se espera este ano, no regresso da folia depois da pandemia.
A sátira política e social é também uma constante, ano após ano, nos desfiles na Avenida 1º de maio. Marcado pela participação das associações, que nele encontram uma forma de diversão, mas também uma importante ajuda à sua atividade, o Carnaval das Caldas tem este formato há mais de duas décadas. Mas daí para cá há muitas mudanças. Uma delas, que é visível nos locais onde se prepara o Carnaval é a alteração dos materiais. O esferovite é, hoje em dia, a opção mais utilizada, ao contrário do que ocorria antigamente, em que a madeira, o ferro e o papel eram a base.
Na ACDR Arneirense, nas oficinas, encontramos três carros em diferentes fases. Logo à entrada, o do grupo de dança Super Flash, este ano dedicado à Pequena Sereia, com uma grande Úrsula e um barco. Este tem uma outra particularidade: é puxado por uma carrinha, enquanto os outros dois são tratores. O do Rancho “Os Oleiros” traz a sátira política, com o primeiro-ministro a ser brindado com diversas frases e com uma peça museológica, que há mais de 50 anos desfila nas Caldas (ver texto ao lado). A TAP, por exemplo, é motivo para uma farpa, assim como os estudos para o aeroporto. Depois há ainda o carro dos reis do Carnaval das Caldas, este ano com algumas novidades, com referências às Caldas (a louça, o brasão da cidade, entre outros), mas também ao rei Sol. No total serão cerca de 200 pessoas a desfilar pela associação. O mais novo terá quatro meses e o mais velho 80 anos.
Na oficina das costureiras, onde guardam fatos de todos os anos, desde os primeiros carnavais, encontramos uma azáfama. António Mendes e Maria de Lurdes Mendes, do Carvalhal Benfeito, são um casal que deixa o trabalho para vir… trabalhar! “O pouco tempo é o principal problema para fazer tantos fatos”, explica António, notando que habitualmente têm cerca de dois meses. “Começámos a meio de janeiro e tem sido uma correria”.
Já na Expoeste está a trabalhar o Rancho da Fanadia. Sérgio Pereira, a meio de terminar as patas do animal, conta-nos que o camaleão, “que representa o poder eternizado”, vai estar quase a engolir um homem vestido com uma t-shirt onde se lê: “VM” e que, na língua do camaleão luta para não ser engolido. Este ano vão desfilar cerca de 40 pessoas por esta associação e os fatos são concebidos também por voluntários na associação.
Ao longo dos anos guarda histórias curiosas, como aquela do ano em que havia um tema (dedicado à fruticultura) e na Fanadia fizeram um mapa com cogumelos que simbolizavam os bancos. “Na véspera do desfile, ao passar na Lagoa Parceira, o vento fez o mapa cair e desfez-se em bocados, passámos a noite toda a arranjá-lo”, conta entre risos. Noutro ano fez um dinossauro com a cara de Fernando Costa, que passou por várias adversidades. Primeiro a tinta não colava, depois, no dia do desfile, o buggy que o fazia movimentar não pegou. “Andámos todos a empurrar, na Fanadia, e depois foi preciso chamar um mecânico”.
Também na Expoeste encontramos os membros do grupo de Matrafonas que participa nos desfiles há vários anos. Paulo Domingos é o mentor do grupo que é o único que não é uma associação. Começou com as Hello Kitties numa Bedford antiga de caixa aberta toda forrada. “Em 2008 começou o carro da ASAE”, aí num Ford Orion 1600 a gasóleo da década de 80, e mais tarde veio o carro do INEM, num Fiat Uno. “Caldas não tinha matrafonas e eu acho que um Carnaval sem matrafonas não é um Carnaval”, explica o caldense.
Atualmente é já sabido que no carro das matrafonas, que este ano conta com algumas mudanças (como um reboque novo, com um altar mais barato do que o das Jornadas Mundiais da Juventude) há duas coisas que nunca faltam: a bebida e as bifanas a grelhar. Este ano deverão ser perto de duas dezenas de matrafonas a desfilar nas Caldas.
Na ACDR Santo Onofre – Monte Olivett também já se realizam os preparativos para um Carnaval que será este ano diferente. É que pela primeira vez a coletividadde irá organizar bailes de Carnaval, um desejo antigo que este ano se concretiza. O Baile Trapalhão irá apresentar o salão, que vai depois receber bailes com Dj’s nos dias 17, 18, 19 e 20. “Haverá prémios para as melhores máscaras individuais e de grupo”, revelou João Pina, da associação. O pavilhão, na zona industrial, “sofreu várias alterações desde agosto e tentámos criar um espaço agradável”, explicou, acrescentando que o fácil estacionamento é uma vantagem. Com mais de 800 metros quadrados, o espaço está preparado para receber centenas de pessoas. “Vai ser o nosso primeiro grande Carnaval”. Ainda assim, a história deste associação relacionada com o Carnaval é grande, ou não fosse através dela que há cerca de 15 anos se organiza o Enterro do Entrudo na cidade. O evento regressou depois de anos de interregno por iniciativa de Américo Barros. “Ele arranjou uma carreta e organizou tudo e ofereceu-nos a carreta, mas é ele que todos os anos mantém a organização”, realça João Pina. “É o grande mentor e obreiro do atual Enterro do Entrudo”, complementa. Uma novidade deste ano é que foi solicitada a participação das associações do concelho no evento que marca o final das celebrações carnavalescas. Este vai realizar-se no dia 22 de fevereiro, a partir das 21h00, percorrendo a cidade e terminando no largo da antiga UAL.
A participar desde que existe no Carnaval das Caldas, a associação chegou a levar a dois carros. Este ano leva um e o tema é… a inflação, com “o Zé Povinho a ser comido”. ■































