O Bairro da Ponte era o bairro operário das Caldas

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A infância de Alberto Gaspar foi passada no Bairro da Ponte, local “onde vivia a maioria da classe operária das Caldas”. Recorda que a maioria dos moradores daquela área poucos sabiam ler nem escrever. Quem andava na escola “era oriundo da pequena e média burguesia”, conta. As famílias do bairro eram numerosas e, algumas, tinham 10 filhos.
“A minha geração passou mal…”, disse, recordando os tempos de fome resultado do racionamento causado pela 2ª Guerra Mundial.
Alberto tinha seis irmãos. Perderam o pai quando este tinha 51 anos num acidente com um veículo de carga que conduzia. A sua mãe era empregada de cozinha no Hotel Central, que “era um dos melhores que havia nas Caldas”.
Acorriam também às Caldas muitos turistas e estrangeiros que vinham às termas. “E nós, miúdos, corríamos à estação dos comboios para lhes carregar as bagagens até aos hotéis”, contou o caldense, acrescentando que a tarefa lhes valia 25 tostões e, de vez em quando, cinco escudos (dois cêntimos), o que “era uma verdadeira fortuna!”, recordou.
Tudo se passava na estação de comboios pois “ainda não existia camionagem”. Havia apenas uma pequena agência dos Capristanos, situada próximo do café Zaira, na Praça da Fruta. Só mais tarde é que esta empresa vai abrir sede nas Caldas, hoje da Rodoviária do Oeste.
A primeira escola de Alberto Gaspar foi na delegação escolar junto ao Parque que, na época, era frequentada só por rapazes. A 3ª e a 4ª classe já foram feitas no estabelecimento escolar que havia na Praça do Peixe. Terminada a 4ª classe, foi trabalhar para uma oficina de marcenaria que ficava na Rua Leão Azedo. Depois passou por um armazém de uma farmácia e acabou por se estabelecer no comércio. Teve uma loja de roupa, durante 32 anos, na Rua Heróis da Grande Guerra.
Nos anos 60 emigrou para a Alemanha com a sua mulher, onde trabalharam durante cinco anos. Gaspar foi torneiro mecânico e a sua mulher trabalhou numa fábrica de motores para frigoríficos e máquinas de lavar.

“Metia-me em tudo!”

“Era um homem que me metia em tudo”, disse contando que, com 13 anos, entrou numa rábula de Carnaval. Desde cedo colaborou com os Pimpões e com o Conjunto Cénico Caldense, tendo apresentado peças em várias localidades do país. Também fez a Revista das Revistas, uma peça onde se compilavam todas as revistas que se fizeram nas Caldas. Era uma peça gigantesca, com quase três horas, que acabou por ser apenas representada nos Pimpões e em Lisboa.
O dia de Alberto Gaspar começa cedo. Por volta das oito da amanhã gosta de comer um prato de sopa e peças de fruta. Tudo porque, após algumas horas dedicadas à leitura (aos livros e jornais), faz exercício físico. Quando se reformou, aos 67 anos, ia todos os dias à Foz do Arelho de bicicleta e depois fazia vários quilómetros, correndo entre o Hotel Facho e o Nadadouro. “Tenho necessidade de exercício físico pois receio perder a mobilidade”, contou o octogenário que se vai mantendo em forma, fazendo ginástica em casa. Por causa de um joelho magoado, já não pode correr. Por isso agora pratica na sua bicicleta parada de casa, depois de ter sido atropelado quatro vezes nas rotundas da nova estrada para a Foz. “Da última vez rachei a bacia e passei a ter receio…”, disse Alberto Gaspar. O último atropelamento aconteceu quando tinha 81 anos.
O caldense também não gosta de comer fora de casa e é ele que se ocupa das compras na Praça da Fruta, trazendo legumes e frutas frescas para as ementas do seu lar. Também excluiu a gordura das suas refeições. Conta que bebe um pequeno copo de vinho tinto ao almoço. Também não bebe café e não fuma.
Alberto Gaspar não pretende abrandar o ritmo e, com regularidade, dá uma ajuda a alguns amigos nas tarefas agrícolas, como na apanha da batata ou na vindima. O octogenário – que se mantém em boa forma física e que dedica várias horas por dia à leitura de livros e jornais – rejeita o uso de computadores e de telemóveis. Ainda começou a aprender informática, mas desistiu com receio de se agarrar e deixar tudo o resto para trás. Por isso, recusa “essas modernices”, rematou.

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