
É necessário seriedade na avaliação dos estudantes, há que clarificar os conteúdos e objectivos curriculares e urge criar um exame de admissão à profissão de docente. Quem o defende é Nuno Crato, matemático e estatístico, que no passado dia 12 esteve na Benedita para discutir as “duas ou três coisas que falta mudar na Educação, mas de que ninguém quer falar”.
Para Nuno Crato, falta debate no sector. “Em Portugal o ensino está muito centralizado no Estado e há uma casta que vive à conta das encomendas do Estado”, afirmou.
O matemático aponta que são sempre os mesmos a fazerem os programas curriculares e a reverem os conteúdos. E se há alguém que questiona o que quer que seja ou se dispõe a discutir o ensino, surge logo “aquela pergunta tão portuguesa: onde é que ele quer chegar?”. Ora, muitas vezes não se quer chegar a lado nenhum, quer-se apenas discutir um dos sectores onde mais celeuma se tem registado nos últimos anos. Além disso, é também preciso combater a ideia de que são os professores que têm que motivar os alunos. “A pessoa não quer estudar, mas quer que se arranje uma maneira de a motivar”, queixa-se.
Algo vai muito mal na Educação em Portugal. Mas o que fazer para que as coisas melhorem? Nuno Crato defende que o primeiro a fazer é “ter seriedade na avaliação dos alunos” e isto tanto na avaliação dos alunos como da tutela. Só assim se podem comparar as coisas de um ano para o outro.
Onde está o erro? O facto de os alunos passarem nove anos sem qualquer avaliação externa leva Nuno Crato a dizer que “em Portugal não há verdadeiramente exames” e além disso, “as provas de aferição são um desastre”. Como se isto não bastasse, “não temos um instrumento para saber se a Educação está melhor ou pior, nem os alunos têm noção do que precisam de saber”.
Como conferir, então, seriedade à educação? “A primeira coisa é acabar com o Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), que é juiz em causa própria”. Na prática, o trabalho do Ministério da Educação é avaliado por um organismo tutelado pelo Ministério da Educação. E Nuno Crato acredita que “com esta ministra [Isabel Alçada] o GAVE deixou de ser independente”. Há então que arranjar, “e depressa”, algum sistema independente de avaliação.
Em segundo lugar, “os nossos programas não são bem feitos e não destacam os conteúdos, mas os métodos de ensino”, aponta o matemático. O resultado: em vez de objectivos de aprendizagem claros, há “prescrições sobre a forma como ensinar”. Nuno Crato é contundente: “para o Ministério, o importante é que os professores ensinem da forma como eles querem e não importa o que os alunos aprendem ou não”.
Como dar a volta à situação? Com “conteúdos e objectivos curriculares claros”, o que não se verifica.
Chegámos, então, à terceira coisa a mudar. Ora, toda a gente sabe que o professor é “um elemento fundamental na escola”. Seria, por isso, ideal que nas escolas se encontrassem apenas bons professores. Mas não é isso que se verifica actualmente, pois o único critério de entrada de professores é a nota final de curso. “Com isso está-se a incentivar que as escolas que querem mais alunos subam as notas e que os alunos escolham as escolas de onde se sai com as melhores notas”, que estão longe de serem as melhores escolas de formação de docentes. Em que é que isto se traduz? Numa tendência para que “não sejam os melhores a virem substituir a geração mais velha de professores”. O que é mau.
Para Nuno Crato, a forma de dar a volta a esta situação é fácil. Basta criar um exame de admissão à profissão, que garante que no futuro apenas as escolas estejam povoadas de professores verdadeiramente capazes. “Há um Decreto-Lei aprovado, mas nunca foi por diante”, lamenta Nuno Crato. E porquê? “Porque quem manda no Ministério da Educação é a tal casta que vive da revisão de programas”, acusa.
Nuno Crato falou para mais de meia centena de docentes naquele que foi o encerramento do ciclo de conferências “Combates pela Cultura”, uma iniciativa do Centro de Formação das Associações de Escolas de Alcobaça e Nazaré. Entre Março de 2010 e Janeiro de 2011 passaram pela Benedita, Alcobaça e Nazaré nomes como Rui Vieira Nery, Laborinho Lúcio, Vasco Graça Moura, João Bonifácio Serra ou Guilherme d’Oliveira Martins. Uma série de confrontos que prepararam os professores participantes “não só para combater, mas para exigir o combate”, considerou Rui Rasquilho, coordenador do ciclo de conferências.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt






























