Foi um fim de semana em cheio com visitas aos espaços dos autores e um percurso em busca da cerâmica nas ruas da cidade. Iniciativas do Mapa da Cerâmica e que a autarquia quer continuar
Munidos de garrafas de água e alguns de chapéu, os participantes da visita, entre caldenses, pessoas da região e turistas, estavam prontos para conhecer melhor a cerâmica que embeleza as artérias da cidade termal.
A visita guiada pela cidade, feita por Margarida Araújo, uma das especialistas em cerâmica caldense teve início a meio da manhã de 10 de julho, na Estação da CP.
Logo na fachada da estação, há azulejos hispano-mouriscos que originalmente foram feitos na Fábrica de Bordallo Pinheiro que surgiu em 1884, primeiro para produzir tijolos, telhas e azulejos. “Estes últimos tiveram um grande sucesso e foram colocados em vários palacetes e até pastelarias em localidades como Lisboa, Amadora ou Sintra”, disse a guia que é também autora do livro “Paredes de Louça”. De novo na estação houve a oportunidade de referir que os azulejos hispano-mouriscos da fachada foram recuperados há uns anos pelo Atelier Sá Nogueira, que funciona em A dos Francos.
Dentro da estação estão painéis feitos na Fábrica Aleluia (Aveiro) onde se destacam lugares simbólicos das Caldas como a mata, o parque, a Foz do Arelho, a fundadora Rainha D. Leono e a Igreja de N. Sra.do Pópulo .
“Em quase todas as estações do país há estes painéis onde se dá a conhecer o que as localidades têm de melhor para oferecer”, disse a guia que explicou com detalhe tudo o que é relevante sobre a presença da cerâmica na cidade.
“Ainda há tijolo da fábrica de Faianças das Caldas (Bordalo Pinheiro) nalguns espaços da estação”, referiu Margarida Araújo.
O passeio prosseguiu pela Avenida, foram analisadas algumas peças da Rota Bordaliana e foram também analisadas as belas fachadas dos prédios da Rua Dr. Miguel Bombarda, na Coronel Andrada Mendoça. Foi visto em detalhe um friso de borboletas de Pedro Almeida, autor formado na ESADe que decora uma casa recuperada nessa artéria.
De seguida nova paragem na Praça 5 de Outubro para observar boas práticas de recuperação, outras, nem tanto como é o caso da antiga escola primária onde não houve qualquer preocupação com com a preservação azulejar.
Vistas à lupa foram também fachadas de prédios e de lojas da Rua Heróis da Grande Guerra e na Rua das Montras onde houve várias paragens para análise de bons exemplos mas também de outros, menos felizes, onde há exemplares de azulejaria tapados por anúncios publicitários, a diferentes marcas e serviços. Alguns “pertencem a Ferreira da Silva e marcaram presença em feiras do sector em Nova Iorque”, especificou a guia.
Durante a visita falou-se também sobre projetos como o SOS Azulejo, que têm o objetivo de proteger este tipo de património.
Um caso gritante foi o roubo dos azulejos com gatos pretos que foram retirados de um prédio da Heróis da Grande Guerra. Nesta zona podem ainda ser apreciados alguns frisos cerâmicos, feitos na Secla e que ainda hoje decoram montras de lojas.
A comitiva passou também pela Praça da Fruta para analisar mais fachadas, proveniências e tipos de azulejos. Houve tempo para passar na Rua da Liberdade, apreciar painéis e também conhecer um pouco melhor a antiga rua das louças.
A visita terminou após passagem na Rua de Camões para apreciar mais fachadas azulejares, como a do prédio da Pastelaria Machado e ainda para analisar uma entrada no Parque D. Carlos I onde também foram apreciados azulejos bordalianos.
“Foi uma visita extraordinária! A nossa Margarida é uma estudiosa e não deixa nada por investigar”, disse a caldense Ana Nascimento, bisneta de Avelino Belo e que volta a casa da família aos fins de semana. Por seu lado, Fátima Sobral que vive há décadas nas Caldas, acha que esta “foi uma visita diferente pela cerâmica da cidade e só faz bem revivê-la com a Margarida Araújo”.
A italiana Lilia Bivona, de visita às Caldas, apreciou a iniciativa que classificou como “muito interessante”. Oriunda de Palermo, a visitante ainda acrescentou que “terei muito gosto em regressar cá”.
Ateliês abertos aos visitantes
Do evento fizeram parte vários dias abertos nas oficinas dos ceramistas e alguns ainda deram a possibilidade de realizar workshops. Foi o caso do Atelier São Miguel, que fica no Formigal, em Salir de Matos, e que a 8 de Julho abriu as suas portas, dando a possibilidade de colocar as mãos no barro e de conhecer a área museológica de peças de Alberto Miguel, pai de Fernando, que hoje com a sua mulher Milena Miguel, dá continuidade à tradição cerâmica. Nas Caldas, já no sábado, dia 9 de julho, nos Silos houve dia aberto no Mariana Sampaio Studio, que além da visita ao espaço de trabalho ainda a realização de um workshop de pintura de azulejo tradicional português. A ação teve oito participantes que realizaram placas toponímica.
No domingo, 10 de julho, durante a tarde, estiveram abertas as portas do atelier da dupla ana+betânia, e que permitiu a um grupo fazer uma visita à oficina e de ver o trabalho que esta dupla de autoras tem um curso na sua oficina no Bairro da Ponte. ■































