Novo Hospital como resposta para problema da saúde

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Uma necessidade conhecida há mais de uma década, o novo Hospital do Oeste ganha força com as atuais fragilidades na resposta em termos de saúde à população e como forma de atratividade regional

Os problemas com que o Oeste se debate ao nível da saúde não são novos mas têm-se agudizado nos últimos tempos. A falta de resposta em termos de equipamentos e também de recursos humanos, tem evidenciado a necessidade de uma solução que passa pela construção de um novo hospital na região.
Nuno Santa Clara, anterior presidente do conselho sub-regional do Oeste da Ordem dos Médicos, considera que na região tem-se vindo a assistir, nos últimos anos, a uma “progressiva degradação dos serviços de prestação de cuidados de saúde e de prevenção da doença, no âmbito do SNS”. O desinvestimento em meios humanos e materiais, com equipamentos e instalações que se vão tornando progressivamente obsoletos ou inadequados, a dificuldade na captação e fixação de profissionais e saída dos que existem e a falta de autonomia dos órgãos de gestão são apenas algumas das razões para esta realidade. Um problema que, no Oeste, se agrava devido ao aumento “muito significativo da população residente na nossa área de influência, bem como pelo sucessivo encerramento de serviços e unidades hospitalares”, afirma o médico, que reconhece que a resposta atual é “claramente insuficiente, tanto em termos quantitativos como qualitativos”. E dá exemplos: o número de doentes sem médico de família, os tempos de espera por consultas, exames auxiliares de diagnóstico e cirurgias (embora existam notáveis variações entre especialidades diferentes) e a falta crónica de camas de internamento, obrigando frequentemente, por falta de vagas, a cancelamento de programas operatórios e a longas permanências de doentes acumulados nos Serviços de Urgência, “em condições muitas vezes indignas”. Para Nuno Santa-Clara as soluções terão de passar por um aumento significativo do investimento em recursos humanos e materiais. Na sua opinião, é também necessário que os órgãos de gestão das instituições do SNS tenham autonomia de decisão semelhante às das instituições privadas de prestação de cuidados de saúde.
Para o clínico, a construção de um novo Hospital na região Oeste é uma necessidade reconhecida há mais de 20 anos. A concentração de serviços numa única unidade, com dimensão e condições adequadas, permitirá seguramente um “grande acréscimo de eficiência e da qualidade da atividade desenvolvida, com melhor diferenciação técnica e científica, e com diminuição de situações de desperdício de recursos a que obriga a atual dispersão”. Considera que a sua localização é uma questão técnica, que “deveria ser encarada exclusivamente como tal, e não uma questão política, como frequentemente tem sido tratada”. O “melhor” local terá de ter em conta a área de influência que se pretende abranger, a distribuição populacional, as características da população em diferentes zonas, as acessibilidades (designadamente à A8), a rede de transportes públicos disponível, e o tipo de articulação prevista com outras unidades hospitalares e com os cuidados primários, considera.
Saúde como fator de atratividade
Também Jorge Barosa, presidente da AIRO, vê “com muita preocupação” a saúde no Oeste, tendo em conta problemas como as instalações deficitárias e sem a qualidade necessária para o efeito e a falta de recursos humanos. Uma situação que se passa “tanto na saúde pública como na saúde privada”, realça, fazendo notar que, sem infraestruturas adequadas, a potencial atratividade dos profissionais de saúde não existe. “Temos atualmente a população da região Oeste a deslocar-se tanto para Leiria como para Lisboa, por forma a conseguir contornar os problemas da região, mas isto não é solução. Estamos perante uma crise financeira e a saúde, que deveria de ser um serviço de prioritário no nosso país e região, está a desvanecer-se”, alerta.
Com uma resposta que não é a adequada, a solução passa por novas infraestruturas, “com equipamento de última geração para atrair bons profissionais de saúde, médicos especialistas que praticamente não temos nas diversas valências”, considera. O presidente da AIRO chama ainda a atenção para a necessidade de uma Unidade de Cuidados Intensivos e da existência de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, que levem a que os oestinos não tenham de se deslocar a outras cidades para os realizarem, com os custos que isso acarreta.
Jorge Barosa é também a favor da instalação de uma grande unidade de saúde privada em paralelo com o novo hospital do Oeste. Lembra um estudo demonstrou essa necessidade e viabilidade (através de uma empresa que esteve para se instalar nas Caldas da Rainha) pois cada vez existem mais cartões de saúde e a população com estes usufrutos têm de se deslocar para Leiria ou Lisboa. O mesmo se passa com os seguros de acidentes de trabalho, em que atualmente os serviços existentes na região “são bastante deficitários e não têm protocolos com estas seguradoras”.
O presidente da AIRO reconhece que a saúde é um fator determinante na atratividade pessoal e empresarial de uma região e que a falta de um hospital pode ter uma série de consequências negativas, incluindo o aumento de listas de espera, uma diminuição da produtividade e da atratividade e um impacto negativo na economia local. Entende, por isso, que urge a construção de um novo equipamento no Oeste.
Já Luís Gomes, presidente da ACCCRO, vai à história para justificar a ligação das Caldas à saúde. Para além disso, realça que o hospital é o maior empregador das Caldas, com mais de mil pessoas a ele afetas direta e indiretamente e com um impacto económico superior a 33 milhões de euros por ano. “Existem muitas pessoas que trabalham no hospital que são caldenses, fazem compras no comércio local, têm cá residência e os seus filhos estudam nas escolas”, afirma, acrescentando que as grandes superfícies e marcas têm vindo a instalar-se nas Caldas porque é um local de grande consumo. E ter cuidados de saúde é um fator de atratividade para o comércio, acrescenta.
Para o presidente da associação empresarial, a solução para a instalação do novo hospital deverá ser Caldas/Óbidos, justificando que o terreno tem dimensão, fica situado junto à autoestrada e à linha ferroviária, e vai servir também as pessoas de parte do concelho de Alcobaça e de Rio Maior. Luís Gomes considera que não se pode arrumar a localização a “régua e esquadro”e que há locais, como a Benedita, com uma forte componente empresarial, que se vê “cada vez mais longe dos cuidados de saúde”. Dá ainda o exemplo de Óbidos, que atrai anualmente mais de um milhão de turistas, e que o turismo relacionado com as ondas se situa entre Peniche e a Nazaré. “Não podemos andar a brincar aos estudos, que são encomendados por determinadas pessoas para defender determinadas “partidarites”. Isso não podemos aceitar”, concretiza.
A deslocação ao hospital é uma realidade frequente na Santa Casa da Misericórdia das Caldas, no entanto, por vezes torna-se uma situação complicada devido os tempos que os idosos têm de esperar para serem atendidos. “São pessoas com muita idade, muito fragilizadas, a ida para o hospital deixa-nos sempre muito angustiados, até pelas bactérias e infeções”, explica Maria da Conceição Pereira, provedora da Santa Casa da Misericórdia das Caldas, realçando que não está em causa a qualidade dos profissionais mas a desadequação dos equipamentos e da capacidade de resposta. “Não há dúvida que faz falta um novo hospital, tanto para os utentes como para os profissionais de saúde, que agora não encontram um local onde possam desenvolver-se, pois estão limitados ao nível dos equipamentos necessários para os diagnósticos”, refere.
É também da opinião de que este equipamento se localize onde há pessoas, porque há que “ter em conta os que têm menos capacidade financeira e, muitas das vezes, não têm dinheiro para os transportes, perdendo as consultas e tratamentos”, concluiu. ■

 

O que dizem os responsáveis

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Nuno Santa-Clara
Ordem dos MédicosA localização é uma questão técnica e deveria ser encarada como tal, e não uma questão política, como tem sido frequentemente tratada

 

 

 

Jorge Barosa
Presidente da AIRO
Sou a favor da instalação de uma grande unidade de saúde privada em paralelo com o novo hospital do Oeste. Um estudo demonstrou essa necessidade e viabilidade

 

 

 

Luís Gomes
Presidente
ACCCRO
Ter cuidados de saúde é um fator de atratividade para o comércio. As grandes superfícies e marcas têm vindo a instalar-se porque há consumo

 

 

Conceição Pereira
Provedora da Misericórdia
Não há dúvida que faz falta um novo hospital, tanto para os utentes como para os profissionais de saúde, que estão limitados pelos equipamentos

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