JOSÉ GOMES SANTOS
“Vocês fazem o que podem. A minha zanga é com os correios.”
José Gomes dos Santos, 83 anos, já nem se lembra há quantos lê a Gazeta. Formalmente, é assinante desde 1982, quando regressou de vez à terra que o viu nascer depois de 20 anos embarcado e com visitas esporádicas à terra. Mas já o seu sogro, António Francisco Henriquito, era assinante e num tempo em que os Correios não chegavam ao Casal de Areia (Torre), tendo as pessoas desta zona que se deslocar às Caldas, à Mercearia do Zé Albino, na Rua Diário de Notícias, para obter a correspondência.
Nesse tempo, e apesar da proximidade da cidade, lugares como o Casal da Areia, Torre, Infantes e Formigal, não tinham estradas de macdame e só as carroças lá chegavam pois os carros ficavam atolados na lama.
José Santos lia, assim, a Gazeta das Caldas que o sogro trazia às segundas-feiras quando, como quase toda a gente das zonas rurais do concelho, ia às Caldas ao abastecimento semanal.
O problema é que agora, em 2010, com estradas alcatroadas em tudo o que é casal e lugarejo, e com os CTT a assegurarem uma alegada “distribuição universal”, o senhor José Gomes Santos continua a só receber a Gazeta das Caldas à segunda-feira.
“Fico zangado. Eu sei que vocês põem o jornal no correio à quinta e ele fica por lá. Aparece-me aqui muita vez à segunda e às vezes até à terça. Então a Gazeta chega primeiro à Suíça do que aqui, que estamos mesmo às portas da cidade? Isso é que eu fico zangado!”.
De tal forma que – conta o seu genro – há uns tempos um amigo da família parou a moto e, sem tirar o capacete, cumprimentou José Santos à porta da sua casa. Este, não o reconhecendo e julgando que era o carteiro, começou logo a perguntar-lhe pela Gazeta e a ralhar com ele por a não trazer.
O equívoco desfez-se, mas agora o genro já sabe que à sexta-feira compra sempre uma Gazeta das Caldas que entrega em mão ao sogro, não vão os correios atrasarem-se.
E o que lê este octogenário que, depois de ter corrido os sete mares a bordo de navios de carga e de paquetes de luxo, conduz ainda o seu tractor e cuida de vinhas, hortas e pomares?
“Tudo. Leio tudo. As ocorrências policiais é logo a primeira coisa. Olhe, gostei muito de ver o Joaquim da Lareira. Também leio sempre o Zé do Carmo Francisco…”
Já o Desporto confessa que não liga muito. “Há pessoas que são capazes de se zangarem umas com as outras por causa da bola. Eu não percebo isso. Ainda quando é Portugal a jogar contra o estrangeiro, ainda vejo… Agora cá entre clubes, que ganhe o melhor”.
Embarcado entre 1962 e 1982 na então Companhia Colonial de Navegação, José Gomes dos Santos chegou a dar a volta ao mundo. A sua primeira viagem foi a bordo de um cargueiro para África, mas depois passou para o paquete Índia onde foi duas vezes seguidas a Timor em viagens que, entre a ida e a volta, demoravam 80 dias. Com escalas pela costa africana e índica e regresso pelo canal do Suez.
“Depois fui num petroleiro até à Pérsia [hoje Iraque] buscar uma carrada de petróleo”, conta. E depois voltou para os navios do Império português – o Niassa, o Santa Maria, o Uíge, o Funchal e o próprio Império.
José Santos transportou tropas para a guerra colonial, 2000 homens acomodados em beliches nos porões dos navios, enjoados, rumo ao desconhecido. E fez a descolonização, transportando retornados, revoltados e de sonhos desfeitos, rumo também, quase todos, a um Portugal desconhecido em pleno período revolucionário.
Do que mais gostou foram dos sete anos passados no Santa Maria. Ainda recorda a rota habitual com que atravessava o Atlântico: Lisboa – Vigo – Madeira – Tenerife – Caracas – Miami – Curaçau – Tenerife – Madeira – Vigo – Lisboa. Vinte e oito dias no mar e uma semana em terra, passada no Casal da Areia, a matar saudades, com a mulher e os filhos – Luís e Céu – nascidos precisamente quando começou a sua vida de embarcadiço com o posto de “empregado de mesa e camaroteiro”.
Em 1982 retirou-se do mar depois de ter dado a volta ao mundo no paquete Funchal, numa época em que os grandes navios de passageiros já tinham sido definitivamente vencidos pela aviação comercial e se dedicavam agora aos cruzeiros de luxo.
Uma última pergunta: o que é que a Gazeta pode fazer de melhor?
“Nada. Vocês fazem o que podem. Não deixam nada para trás. A minha zanga é com os corrreios. De vocês não tenho queixo nenhuma”.
Eis, pois, um leitor satisfeito.
MARIA ALICE BAPTISTA
“A Gazeta é da cidade, as pessoas têm que colaborar com ela”

Na casa de Vasco Ladeira Baptista (já falecido) e de Maria Alice Coelho Baptista, a Gazeta das Caldas entra semanalmente há cerca de seis décadas. “Nascidos, baptizados e casados” nas Caldas da Rainha, os dois quiseram começar a receber na sua própria casa o jornal que já liam há longos anos.
Quando o dono da conhecida empresa Joaquim Baptista, Lda., na Praça da Fruta, faleceu, a esposa manteve a assinatura. Ainda hoje, não dispensa o ritual de cada sexta-feira. “Leio brevemente a Gazeta de uma ponta a outra. Primeiro vejo todos os títulos, depois o que mais me interessar é o que leio”, afirma.
Com 78 anos, Maria Alice divide o seu tempo entre Caldas da Rainha e Foz do Arelho, onde passa os meses mais quentes, e foi precisamente na sua ‘casa de Verão’ que a encontrámos.
E neste período em que sai da cidade, a Gazeta vai ter com ela. “No Verão, quando vinha para a Foz, tinha que ir buscar a Gazeta à sexta. Então o meu filho Vasco fez-me essa surpresa de pedir para me mandarem o jornal para cá. Agora volto para as Caldas, e vou passar a receber lá novamente”. E acrescenta que “são raros” os atrasos na entrega.
Quando lhe perguntámos o que mais gosta de ler no jornal, Maria Alice não consegue apontar uma secção ou uma rubrica. “Gosto um bocadinho de cada coisa”, garante. Mas admite que não lê o jornal todo. É o título que dita a leitura, ou não, de cada texto. “Há artigos que me interessam pelo título, que os leio e que me agradam. Outros nem tanto”, diz.
Hoje, a Gazeta ultrapassa os limites do concelho das Caldas da Rainha, chegando a Óbidos, Bombarral, Cadaval, Alcobaça, Rio Maior e Nazaré, entre outros concelhos. E é esta abrangência cada vez maior que Maria Alice aponta como a grande diferença do semanário nas últimas décadas. Uma mudança que nem sempre lhe agrada. “Às vezes é pena a Gazeta não se basear mais na cidade, alonga-se um bocadinho para a periferia, o que foge ao interesse da leitura”, lamenta, acrescentando que “por vezes Caldas fica para trás” e que “era precisa mais diversidade”.
Reconhecendo a importância que o jornal tem na comunidade, “e há tantos anos”, Maria Alice gostaria de ver mais colaboração dos caldenses naquele que, afinal, também é o seu jornal. “A Gazeta é da cidade, as pessoas têm que colaborar com ela, não pode ser apenas a direcção do jornal”, defende.
Embora fosse costume ajudar no estabelecimento do sogro e do marido, “na caixa, nos telefones e quando não havia empregada”, Maria Alice foi sobretudo “dona de casa e mãe a tempo inteiro”, de dois filhos. É por isso que quando lhe perguntamos o que mudava no jornal diz não teria nada específico a apontar. Mas acrescenta: “como sou uma pessoa muito doméstica, acho que poderia haver uma página, um apontamento mais feminino… para aliviar as notícias de coisas mais graves, fazem falta mais notícias positivas”.
Mas Maria Alice reconhece que a diversidade é um dos aspectos mais importantes no jornal. “Às vezes também há assuntos críticos de que eu gosto”.
JOSÉ MANIQUE DA SILVA
“É dos melhores semanários a nível regional”

José Luís Manique da Silva, de 79 anos lê a Gazeta das Caldas desde os 15. Gosta do seu semanário, que lê “de ponta a ponta” deixando apenas de lado as noticias sobre política.
A Gazeta só divide a atenção deste leitor com um jornal especializado “A Bola”, já que este leitor gosta muito de futebol.
Para este caldense o nosso jornal tem o futuro assegurado já que “não sei se a nível regional há outro assim tão bom como é o nosso semanário”.
Dois dos seus quatro filhos moram longe – em Fernão Ferro e em Sines – e José Silva garante que continuam a saber o que se passa na terra natal através deste jornal.
José Luís Manique da Silva não é bom em datas, mas lembra-se que o convidaram para ser cooperante da Gazeta das Caldas e que a quota custaria 100$00 (50 cêntimos). “Só me lembro de que na altura não me era conveniente, tinha os filhos pequenos… mas hoje arrependo-me!”. Palavras sentidas deste leitor atento que percorre as páginas da Gazeta desde jovem.
Começa pela necrologia “já que se trata da única maneira de saber quem faleceu, pois hoje não há outra forma de saber”. Sobre esta área do jornal, sempre muito consultada, apenas comentou que hoje em dia a maioria das pessoas perece a partir dos 80 anos “mas as fotos que aparecem no jornal são de quando tinham 20!”.
E pouco ou nada escapa a este atento leitor sobretudo os anúncios de consultórios médicos pois em jovem, durante dois anos, deu uma ajuda no consultório do médico Asdrúbal João de Aguiar e hoje gosta de ver o desenvolvimento do sector. Também não deixa, por curiosidade, de ler os anúncios dos mestres que anunciam auxilio para todos os tipos de problemas.
“Hoje a Gazeta está muito maior e além das notícias do concelho também reporta o que se passa nos concelhos vizinhos e eu acho muito bem, gosto de saber o que se passa em Óbidos, Bombarral ou Alcobaça”, disse José da Silva.
E do que gosta menos? “Eh pá não sei, acho que o jornal está muito grande, tem muito anúncios que são precisos pois é deles que o semanário vive… Eu creio que o jornal está bom assim”.
Diz ainda que tem acompanhado a rubrica Empresas Familiares até porque é amigo de alguns dos retratados. Não falha uma Semana do Zé Povinho e considera muito importante a secção do Correio dos Leitores e faz questão de acompanhar as polémicas que, de semana a semana, têm desenvolvimentos naquela secção.
Este caldense nasceu em 1931 e acabou por se dedicar à vida militar. Antes porém tirou o curso comercial na Escola Comercial e Industrial (à noite), trabalhou no escritório do Thomaz dos Santos e noutro dedicado a reparações eléctricas de automóveis. Chegou entretanto e então a hora de ir para a tropa, aos 20 anos, tendo assentado praça no RI5 quando o quartel ainda estava instalado nos Pavilhões do Parque.
Era então primeiro-cabo quando em 1953 foi estrear o quartel novo, à entrada da cidade. Em 1955 já era furriel e depois continuaram as promoções até chegar a capitão.
Recorda-se, por exemplo, de ter vivido o 16 de Março mas como já era do quadro dos mais velhos ficou fechado com os restantes oficiais na biblioteca enquanto se desenrolaram as movimentações. “Estive preso todo o dia… sem almoçar e os meus colegas só diziam: “Eh pá o Manique coitado está aqui cheio de fome sem culpa nenhuma pois não está metido em nada disto…”.
Manique da Silva fez várias comissões em África – passou pela Guiné e por Angola – e reformou-se aos 53 anos.
Outra das facetas deste leitor é o associativismo. Ao longo da vida passou pelas direcções de várias associações locais como “Os Pimpões”, a Columbófila, a Banda Comércio e Indústria (onde tocou oboé) e o Montepio. Orgulha-se pois de ter estado na direcção que decidiu a aquisição do parque de estacionamento e também da construção do lar de idosos. Por tudo isto a Câmara das Caldas já o distinguiu tendo sido agraciado com uma medalha de bronze de Mérito.
Além da Gazeta, este leitor diz que só lê “A Bola” até porque gosta muito de futebol. De vez em quando também passa os olhos pelo Correio da Manhã mas sem grande interesse até porque é só “tiros, facadas e mortes… aquilo até impressiona”, disse
Questionado sobre se a Gazeta das Caldas tem um futuro risonho, José Manique da Silva acha que sim até porque “não sei se haverá outro semanário tão completo com é a Gazeta em relação às Caldas e aos concelhos vizinhos”. Este leitor crê mesmo que “este nosso é dos melhores semanários a nível regional”, rematou.































