Nos hospitais falta separar os orgãos políticos dos executivos

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Livro sobre melhorias do SNS foi apresentado no CCC. Autor defende melhor gestão e organização

O pequeno auditório do CCC recebeu no sábado, 1 de abril, o lançamento do livro “Gestão em saúde – Contributos para a melhoria do SNS” deo caldense Carlos Rodrigues. A plateia esteve composta para assistir à apresentação da obra onde o autor – gestor, professor e investigador universitário – defende que os hospitais não têm problemas financeiros “pois o Estado acaba sempre por pagar”, o que há “é um grave problema de organização e de gestão”.
Em 2010, mudou-se o estatuto jurídico de alguns hospitais, apostando-se na empresarialização mas, na verdade, “a cultura organizacional não mudou, ou seja, mantiveram-se os problemas”. Mais grave é que o modelo de governação dos hospitais tem mais de cem anos. Em 1832, Mouzinho da Silveira “foi copiar o modelo que havia em França, muito centralizado e que ainda hoje tem impacto”, referiu Carlos Rodrigues, professor-coordenador no ISLA de Santarém e que deu como exemplo o facto da contratação de um profissional de saúde num hospital “precisar de aprovação do ministro”. E esta centralização “é a raiz de muitos problemas”. Como tal, defende que é preciso criar condições para que haja um modelo de governação diferente, com o intuito de alterar o modo de dirigir as organizações.
“Há uma politização excessiva nos hospitais”, disse e defendeu que é urgente dividir os orgãos políticos dos da gestão. “Enquanto não for feita esta distinção não é possível melhorar o sistema”, reforçou o caldense..
Este problema existe em vários sectores da sociedade e tem que ser “tratado”. O modelo de governação “tem que estar articulado com valores atuais” e, por isso, Carlos Rodrigues defende uma gestão estratégica “onde há uma hierarquia técnica que responde à política e que deveria assentar no meritocracia”.

Um livro muito oportuno
“O aparecimento deste livro nesta altura não poderia ser mais oportuno”, disse António Curado, presidente do Conselho Sub-regional do Oeste da Ordem dos Médicos.
Os problemas na saúde proliferam em vários países e é conhecido o desgaste a que está sujeito o pessoal de saúde. Citando dados da Organização Mundial da Saúde – cujos responsáveis reuniram recentemente em Bucareste – há um duplo envelhecimento, não só da população, como da força de trabalho em saúde. “Cerca de 40% dos profissionais vão-se reformar na próxima década”, alertou o médico que acha urgente a ação política para melhorar salários bem como dos mecanismos de distribuição do pessoal de saúde.
Sobre o livro, António Curado, afirmou que este não coloca em causa a qualidade dos profissionais de saúde mas sim “a ausência de um modelo de governação adequado e a não aplicação de práticas de gestão estratégica às unidades de saúde”.
A obra “reflete sobre os problemas atuais do SNS e propõe soluções”, disse o médico acrescentando que é preciso melhorias na cultura organizacional e de se apostar na autonomia e na descentralização. Este livro “põe o dedo na ferida e até propõe novos modelos que visam a melhoria destas organizações”, salientou.
Carlos Tomás (presidente da Associação Portuguesa de Engenharia e Gestão da Saúde) afirmou que o CHO “sempre foi maltratado, não lhe foram concedidos recursos e só foram feitos remendos, assim como o de Torres. Ambos não têm qualidade”.
O caldense deixou expresso que a população desta região “precisa de um hospital up to date e com qualidade”. Diz que se trata de uma necessidade, “porque a população merece ser bem servida e tem o direito de reclamar melhor assistência na área da saúde”, rematou. ■

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