No início de um 2016 incerto

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Editorial6-680x365No primeiro editorial do ano de 2016 gostaríamos de ser optimistas e positivos, mas os últimos dias de 2015 deixaram-nos muito pessimistas e tristes. Entre as muitas razões que podíamos invocar, algumas do foro internacional como as guerras e os conflitos que subsistem ou se agravam um pouco por todo o mundo, como a gerada pelo fenómeno Daesh e o problema dos refugiados, mas vamo-nos referir a dois acontecimentos domésticos recentes.
Um, com um significado localizado e singular, outro de uma dimensão nacional, mas com consequências na nossa vida na União Europeia.
O primeiro, da morte de um jovem, ex-aluno de Som & Imagem da ESAD.CR, que foi acometido por uma hemorragia cerebral numa sexta-feira e que não encontrou a equipa médica cirúrgica necessária num dos principais hospitais centrais na capital do país durante um fim de semana.
O outro da dimensão nacional, que também ocorreu quando e em consequência de nos aproximarmos do final do ano, por não ser possível deixá-lo para mais tarde, concretamente respeitante ao encerramento ou à resolução do Banco Banif, com todas as implicações daí decorrentes, como os prejuízos transferidos para o comum dos concidadãos.
Quanto ao primeiro caso, que já acarretou várias demissões de responsáveis da saúde e a alteração dos procedimentos quanto à remuneração de médicos especialistas nos hospitais centrais de Lisboa (quando em Coimbra e Porto o mesmo assunto não se colocou devido à eficiências dos responsáveis) ao fim de semana, demonstra bem a insensibilidade das normas cegas na gestão do sector da saúde.
O azar de um cidadão ser vítima de um acidente de saúde grave que necessite de cuidados neurocirúrgicos na região sul do país (que nos inclui) à sexta-feira à tarde, como aconteceria o mesmo durante o fim de semana, e não ter uma equipa de urgência num hospital central, nem ter alternativa em toda a região, por razões de mercearia ou seja de trocos, é a demonstração da falência da política imposta pelo austertarismo sem regras nem contemplações.
Esperemos que esta passagem de ano de 2015 para 2016, com as novas opções políticas que se verificaram, coincida com a adopção de novas regras para o sistema de saúde, que coloque o racional à frente do orçamento, por muito importante que este seja. Pois, mesmo assim, há que gerir os recursos disponíveis com mais senso e inteligência.
E esta exigência de senso e sabedoria demonstra quanto o mesmo não tem existido para a banca nacional e o sector financeiro que no nosso país tem-se dado a todo o género de decisões incompreensíveis e fortemente lesivas dos recursos nacionais.
O sistema bancário, que tinha os quadros e as administrações mais bem pagos que é possível imaginar, com o argumento que tinham de ombrear com os seus concorrentes internacionais, consegue apresentar os resultados mais inacreditáveis da sua acção nas últimas duas décadas e meia, coincidentes com o paraíso da adesão à CEE.
E ainda para cúmulo, cobrando ao povo português, injustamente acusado de ter vivido neste período acima das suas possibilidades, milhares de milhões de euros para evitar que o sistema financeiro português colapse.
Simultaneamente, e como parte das causas desses problemas financeiros estão os financiamentos feitos sem critério a inúmeros investimentos inviáveis ou sem procura no mercado, muitos na construção civil que foram interrompidos pela explosão da bolha imobiliária em Portugal.
Nas Caldas da Rainha e em Óbidos temos alguns exemplos, como no resto do país, de construções interrompidas e em degradação (com dois casos simbólicos dada a sua localização, um ao lado do CCC e outro em frente da EDP) cuja pertinência e viabilidade era duvidosa. Com o mercado encharcado de construção nova e os centros das cidades em degradação por falta de investimento na regeneração desse património (mas que provavelmente geraria menos mais-valias especulativas), tudo isto mostra como aqueles que nos dirigiram, bem como alguns dos investidores terem tomado as decisões mais desacertadas, algumas incentivadas por certos poderes públicos ou então para beneficiar de oportunidades especulativas que podiam não se repetir.
Apesar deste cenário sombrio que descrevemos antes, dadas as mudanças que se vislumbram na forma como os organismos internacionais agiram face à crise e que agora mudam a estratégia, poderemos vir a beneficiar nos próximos meses desta inflexão.
Os insucessos das decisões da União Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, reconhecidos progressivamente por todos, podem fazer reverter alguns dos erros já cometidos e que nós sofremos com dor. Será que todos, e especialmente aqueles que em Portugal seguiram de forma submissa e acrítica, não estão cientes do que se passou?
Portugal deve compreender e acreditar nos seus pontos fortes, o turismo, que nos últimos anos têm feito convergir para cá milhares de visitantes e turistas que encontram a oferta qualificada e variada de atractivos, bem como também alguns sectores industriais exportadores, com uma inversão de estratégia pela qualidade e criatividade também ganharam novos mercados e fizeram aumentar bastante as nossas exportações com produtos de maior valor acrescentado.
Veja-se mesmo o exemplo da indústria cerâmica, com relevo e tradição na região, que está a viver um momento particularmente positivo, demonstrando que também se não tivesse havido um encerramento cego de empresas tradicionais, as que ficassem teriam novas oportunidades. Neste campo, Caldas da Rainha e Alcobaça, apesar de demasiados encerramentos, viu resistirem várias empresas que mostraram uma resiliência grande e que hoje se batem nos principais mercados mundiais.

Aos leitores da Gazeta das Caldas

 

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Finalmente e para os leitores, assinantes, anunciantes, colaboradores, todos amigos da Gazeta das Caldas, dizemos que, tal como outros sectores em Portugal, os jornais estão a viver dias muitos difíceis e duros. Em muitos, e especialmente nos de maior circulação a crise tem sido grave, anunciando-se novas reconversões e processos de emagrecimento.
Ainda em Dezembro, no Dia Nacional da Imprensa, o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, referia que “a crise, que afecta de forma galopante o sector da imprensa deixa um rasto de destruição imparável: Despedimentos, fecho de títulos e empresas, edições mais pequenas, redução do número médio de páginas, fim de revistas e suplementos, papel de menor qualidade, fim de colaborações pagas, corte no fornecimento de serviços”.
Afirmava ainda que “na verdade, os editores portugueses têm feito milagres na luta pela sobrevivência e pelo equilíbrio das suas empresas. As apostas no digital e a procura incessante de receitas alternativas são respostas consistentes que trouxeram uma nova realidade à imprensa.”
Por tudo isto, os leitores e amigos da Gazeta das Caldas não têm estranhado as novas apostas do nosso jornal, quer na realização de suplementos temáticos com certa regularidade e que têm tido muita receptividade por parte de alguns promotores (e que queremos continuar e diversificar), quer nas ofertas diversificadas de produtos e serviços, como o estamos a fazer com a cerâmica de qualidade de empresas e criativos da região.
Esperamos a renovação permanente do apoio dos nossos leitores e assinantes, quer em manterem a sua ligação ao jornal, quer procurando junto de nós os produtos e serviços que temos para oferecer na sua diversidade e qualidade. Esta é também uma forma, como se vê comum a toda a imprensa, para apostar na vida de um jornal que faz a história e protagoniza os anseios de uma comunidade regional.
Boas festas a todos e um ano de 2016 cheio de desafios e de êxitos!

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