A resinagem, a pastorícia, o pinhão, o mel, os cogumelos e o pomar de todo o ano são algumas das propostas apresentadas como potenciais formas de rentabilidade económica das florestas portuguesas, que passa muito pela lenha e papel.
“Conversas Florestais – o uso múltiplo da floresta e as suas oportunidades” foi o título da nona sessão promovida pela Associação dos Produtores Florestais (APAS Floresta) e Câmara do Cadaval e inserida na programação da Festa das Adiafas.
Em 2009 a cooperativa Terra Chã, da aldeia de Chãos (Alcobertas), em plena Serra dos Candeeiros, decidiu criar um rebanho comunitário onde cada habitante podia ter a sua cabra.
Com os animais, que hoje são já 150, criaram uma faixa de contenção de incêndios em volta da aldeia. Carlos Frazão, da associação, fez notar que em quatro anos o rebanho limpou mais de sete toneladas de biomassa por hectare.
No entanto, os rebanhos têm vindo a diminuir a nível nacional. Para isso tem contribuído o facto de nos apoios comunitários aos pastores os animais não estarem incluídos, ao contrário das árvores nos projectos de agricultura.
Mas além de uma faixa de contenção, foi criada a rota dos pastores, que permite passar um dia com o rebanho a ouvir histórias de outrora e da actualidade. A associação usa também o leite para fazer queijo.
Esta é uma associação com uma dinâmica diferente do comum, talvez pelo espírito de comunidade que se vive na serra. Além do rebanho, a associação explora uma unidade de turismo rural e um restaurante e proporciona visitas às grutas, passeios de BTT pela serra, uma oficina de tecelagem e apoio na área da apicultura.
O pomar de todo o ano
Outra ideia apresentada na sessão, onde estiveram cerca de 30 pessoas, foi mudar as árvores e plantar um pomar de todo o ano.
O conceito é simples: em vez de um terreno possuir apenas um tipo de árvore, deve-se ter diferentes espécies. Isto possibilitará ao proprietário recolher rendimentos em diferentes meses e ainda o previne caso exista um ano mau – quer em termos de condições meteorológicas, quer em termos de mercados – em alguma espécie.
Por outro lado, o pomar de todo o ano pode ser um facilitador do comércio de proximidade e do encurtamento da distância – temporal e física – percorrida pelo fruto desde a árvore até à mesa.
Esta ideia foi apresentada por João Oliveira, da Mushmore Coop CRL, que falou ainda da utilização dos cogumelos como produtores de biomassa que permitem reduzir os custos dos processos de decomposição das autarquias ou de privados. Actualmente João Oliveira procura três sítios no país para experimentar este projecto.
Resina, mel e pinhão
A resinagem é uma actividade praticada há mais de um século em Portugal, que teve o seu auge nas décadas de 70 e 80 do século passado. Nessa altura extraíam-se cerca de 140 mil toneladas de resina. Hoje em dia não chega às 10 mil. Depois de em 2004 o preço médio ter atingido o mínimo histórico – 42 cêntimos por quilo -, em 2005 atingiu-se o mínimo histórico de produção, com apenas 5000 toneladas.
A ResiPinus é a única associação de resineiros em Portugal e tem sede em Leiria. O sector emprega actualmente 600 pessoas. As cerca de nove toneladas extraídas anualmente rendem perto de 9,4 milhões de euros.
Miguel Santos, da Resipinus, lamentou que “20% da área resinável em Portugal – 890 mil hectares – se tenha perdido neste Verão, especialmente no último fim-de-semana” e fez notar que a resinagem tem uma grande vantagem: a presença humana nas florestas. Considera ainda que há condições para o aumento da actividade do sector porque há uma melhoria nos preços de venda.
Dos 214 operadores que existem a nível nacional, 69 são de Leiria, o distrito mais representado, seguido por Coimbra e Viseu com 26 cada.
Mas há mais soluções para rentabilizar e tornar sustentáveis as florestas. Por exemplo, Rute Santos, da APAS, explicou como rentabilizar o pinhão, que desde 2003 “tem vindo a ganhar expressão na região”.
Ainda que o preço tenha grandes variações (entre 50 cêntimos e um euro por quilo), Rute Sofia estima que a exploração do pinhão renda cerca de 974 euros por hectare.
Isto porque em cada hectare cabem 120 árvores que produzem entre 100 a 120 pinhas cada uma. Em média uma pinha pesa 290 gramas e um quilo de pinhas custa 0,58 cêntimos. Portanto, cada hectare produz 3480 quilos de pinhas representando uma receita de 2044 euros. A esse valor tem que se subtrair o custo da mão da obra (calculado em 1044 euros por hectare), ficando, então, o rendimento bruto nos tais 974 euros por hectare.
Para encurtar o tempo de espera do retorno depois do investimento é possível aplicar a técnica da enxertia, que permite reduzir o tempo entre o investimento e o início do retorno dos 15 a 18 anos para os oito a 10 anos. Além disso, esta técnica “permite duplicar a produção”, contou Rute Santos.
Outra actividade que pode ser articulada com as anteriores é a apicultura. Anabela Mendes, da Associação de Apicultores da Região de Leiria, Ribatejo e Oeste, notou que “este foi um ano terrível para a produção de mel, não obstante os incêndios, pois antes tivemos uma seca”. Estima que no total existam em Portugal 10.700 apicultores com 700 mil colónias declaradas. A associação tem 900 inscritos, dos quais 500 activos. Entre o meio milhar 86% são amadores.
“Discutir os usos múltiplos da floresta é premente”
“Discutir a floresta nesta perspectiva de usos múltiplos é premente”, afirmou Maria de Jesus Fernandes, directora do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo do ICNF, na abertura da sessão.
Até porque depois da catástrofe que foram os incêndios ficou uma grande área ardida que deve ser pensada e ordenada com vista a evitar que tragédias deste género se repitam.
A responsável, que também integra a comissão da Paisagem Protegida de Montejunto, disse que “a floresta de hoje não vai ser a floresta dos nossos avós, em que se ia à mata apanhar caruma para fazer a cama do gado” e salientou que “é preciso encontrar as alternativas ao despovoamento”.






























