
A música acompanha Nelson desde os seus 12 anos. Por ela desistiu dos estudos, através dela conheceu a mulher e com ela quer continuar a sua jornada
Começou a cantar aos 12 anos, já lá vão 41. E não pretende ficar por aqui. Nelson Santos, mais conhecido como Nelson d’ Os Lords, de 53 anos, manteve a banda, que fundou, até 2019, num total de 35 anos a espalhar magia pelo Oeste. Hoje, canta maioritariamente a solo, realçando a importância de quem o acompanha no backstage para superar as suas limitações inerentes à falta de visão.
Filho de emigrantes, os primeiros nove anos da vida do artista foram passados em Toronto, no Canadá, onde começou a aprender música e adquiriu as “primeiras bases musicais, que ficaram para a vida”. De regresso a Portugal, foi na aldeia de Reinaldes, em Peniche, que se estabeleceu, onde se estreou a animar bailes aos 12 anos.
O que inicialmente não passava de uma “brincadeira”, na qual o pai e amigos alinharam, rapidamente evoluiu para algo “sério”, e assim, em 1984, fundou a banda “Os Lords”, que atuou pela primeira vez a 18 de novembro desse ano.
“A banda começou, mas, no primeiro ano, as atuações foram só à volta de Peniche. Éramos todos muito jovens e as pessoas achavam piada, mas não imaginavam… Depois houve o passa-a-palavra e, ao fim de um ano, começámos a vir para a zona das Caldas”, a quem “deve muito”, frisa.
A mulher, em tom de brincadeira, costuma dizer-lhe: “Tudo o que é bom é das Caldas”. Até ela, que é do Carvalhal Benfeito, com quem tem uma filha e que conheceu num baile em que estava a tocar.
O teclista e vocalista apaixonou-se de tal maneira pelas andanças musicais que acabou por desistir da escola e dedicar-se “ao máximo” à música. “Sempre vivi da música, até aos dias de hoje”, afirma.
Nelson Santos destaca o seu contributo no Carnaval do Nadadouro, que se começou a realizar em 2002, com a música assegurada pelos Lords. “O Carnaval do Nadadouro é algo que foi marcante na região e na história d’ Os Lords, ainda se realiza atualmente com a animação de outra banda, mas nunca mais foi igual. Foi uma aposta da Associação do Nadadouro em 2002 e nós começámos do zero com eles”, conta.
Mas foi nos anos 90 que a banda esteve no auge. “Os anos 90 foram os anos fortes”, recorda. Nessa altura, Os Lords gravaram três CDs, “e com muito sucesso, também graças ao apoio das rádios locais, que tinham muita força naquela altura”. “Ainda hoje se pede música d’ Os Lords naqueles clássicos programas de discos pedidos”, comenta, divertido, acrescentando que também nas festas recorda esses hits, apesar do repertório ser muito à base das tradicionais músicas do bailarico.
35 anos d’ Os Lords
“Acho que há muito poucas bandas que conseguem durar tanto tempo”, salienta, acrescentando que por ela passaram mais de 20 músicos. “Em 2019 a banda acabou, eu decidi que não queria mais aquela confusão, e já andava a fazer uns trabalhos em duo”, diz, destacando o trabalho com Nuno Alexandre. Entre 2022 e 2024, foi teclista na banda Xeques, projeto que muito lhe agradou.
E este ano estreou-se nas Tasquinhas, no Almoço do Emigrante, a 13 de agosto. “Fiquei muito feliz”, diz.
Dia sim, dia sim, ainda é assim de junho a setembro, com as atuações em festas. No resto do ano, não faltam pedidos de restaurantes, como o Oriente e o Lisboa, nas Caldas.
Uma história de superação
Invisual de nascença, diz que nunca conheceu outro mundo que não o seu. A audição foi o sentido que mais se apurou. “Toco uma música com muita facilidade”, afirma. Força de vontade também sobeja.
Uma estratégia que utiliza quando está em palco é a “comunicação constante”, entre músicas. “Às vezes, dizer uma piada e ouvir a reação das pessoas é o suficiente para perceber se tenho o público comigo ou não”, conta o cantor.
Mas salienta que é “essencial” ter as “pessoas certas” do seu lado. No início, o pai, que não era músico, mas um apreciador da arte, foi “a peça-chave do sucesso da banda Os Lords”, e foi ele quem o representou ao longo de muitos anos na banda.
Agora, e há mais de trinta anos, a mulher é o seu principal apoio. “Hoje tenho a minha esposa que me acompanha para todo lado, que não me deixa ir abaixo”, revela.
“Nesta última fase em que tenho estado a tocar mais sozinho, arranjámos uma estratégia de comunicação simples e discreta, em que a Ana consegue falar comigo à distância, com o microfone, e dá-me informações para a coluna que está perto de mim, para eu saber como é que está o ambiente, se as pessoas estão a dançar muito ou pouco, que é a forma de me conseguir sentir ainda mais tranquilo”, explica.
“Quem está de fora pode pensar que é um drama [ser cego], mas eu consigo provar às pessoas que é possível dar a volta”, apesar de ser “sempre um desafio constante”, diz.
Nelson Santos é também a voz do hino do clube de futsal de Alvorninha, e é um aficionado da rádio. Entre 1988 e 1990, colaborou com a Rádio Litoral Oeste. Na pandemia, quando os concertos foram suspensos, recuperou o hobby, e teve um programa na CisterFM no qual “tentei entrevistar todos os músicos da região e dar-lhes voz, para não serem esquecidos”.































