
Berlengas na Rota dos Naufrágios é uma ideia da JustDive – Underwater Experiences, uma escola e centro de mergulho em Peniche que pretende quantificar o número de embarcações naufragadas nas Berlengas e criar um roteiro para que os mergulhadores saibam onde encontrar os navios e qual a história por detrás dos naufrágios. Este projecto concorreu a fundos comunitários e obteve um financiamento de 80 mil euros, valor que permitiu à empresa (que investiu mais 40 mil euros) inaugurar novas instalações, adquirir o primeiro barco e comprar equipamento de investigação subaquática.
A poucos metros da ilha da Berlenga, afundou-se em 1902, o navio Primavera. Este cargueiro a vapor viajava de Itália para Antuérpia e transportava mármore, acabando por naufragar devido a um incêndio. Passados 114 anos, os grandes blocos de mármore são hoje dos primeiros vestígios que os mergulhadores vêem assim que descem até este posto de mergulho. Por estar próximo da ilha, o Primavera é um dos naufrágios mais mergulhados nas Berlengas, mas há na costa de Peniche mais embarcações por explorar. Ao todo, estima-se que sejam à volta de 600.
A JustDive – Underwater Experiences candidatou-se em 2015 a fundos comunitários com o projecto “Berlengas na Rota dos Naufrágios” precisamente para quantificar os navios afundados que existem ao largo de Peniche, fotografá-los e recolher o seu registo histórico. O objectivo final é compilar toda a informação num roteiro turístico para mergulhadores que esteja traduzido em três línguas: português, inglês e espanhol. Embora a empresa tenha cinco anos para implementar a rota, a JustDive pretende iniciá-la até 2019.
“Queremos aliar o desporto à cultura e à história, de forma a que as pessoas tenham toda a informação para visitarem um museu debaixo de água”, explica o caldense Pedro Ramalhete, sócio fundador da JustDive, salientando que outro propósito do projecto é sensibilizar os mergulhadores para a preservação do património subaquático. Para o levantamento das embarcações naufragadas, o centro conta com o apoio da Capitania do Porto de Peniche.
Segundo o responsável, tanto a costa de Peniche como as Berlengas são das zonas com mais naufrágios no país porque se inserem numa importante área piscatória à qual demandavam muitas embarcações e porque não existia tecnologia para identificar as suas formações rochosas. A norte dos Farilhões (uma das ilhas das Berlengas), existe inclusive uma área conhecida como o Cemitério dos Navios, onde é possível encontrar fragmentos do Henry Mori, Camrose, Highland Hope e do Eldorado. Mais a leste está afundado o Rio Grande.
E qual o estado dos navios? Pedro Ramalhete revela que a maioria está bastante degradada, muito pelo facto de antigamente os “pés de chumbo” (como eram conhecidos estes penichenses) terem destruído alguns dos barcos para recolherem o ferro e vendê-lo. Ainda assim, em redor dos naufrágios existe “muita vida marinha e uma grande riqueza da fauna e flora, até porque as embarcações criam abrigo para as espécies”, salienta Pedro Ramalhete.
Um equipamento que será essencial ao projecto é um robot que pode ser operado à superfície e descer até 100 metros de profundidade para fazer recolha de imagens e material subaquático em tempo real. Esta será também uma ferramenta de apoio a equipas de investigação nas áreas da biologia marinha e arqueologia subaquática.
O robot faz parte da candidatura da JustDive – Underwater Experiences a fundos comunitários com o projecto Berlengas na Rota dos Naufrágios, avaliado em 120 mil euros, tendo sido a empresa financiada em 65% (80 mil euros).
ALAVANCA PARA CRESCER
Graças à comparticipação comunitária e ao restante investimento de 40 mil euros efectuado pela JustDive, esta escola e centro de mergulho de Peniche conseguiu crescer e passar de um pequeno armazém com 50 metros quadrados para instalações dez vezes maiores. A nova “casa” com dois pisos abriu as portas em Outubro e conta com uma sala para arrumação, lavagem e desinfecção de material, dois balneários, espaço de loja e convívio, três salas de formação e um tanque de água salgada com três metros de profundidade onde é possível fazer iniciação ao mergulho.
A empresa que existe desde 2012 e antes se servia de uma embarcação alugada, pôde com o financiamento adquirir barco próprio com capacidade para um grupo de 12 mergulhadores e ainda incluir no centro o serviço de enchimento de garrafas com ar comprimido.
“Demos um salto qualitativo e quantitativo, pela primeira vez temos instalações próprias e estamos em condições de realizar mais mergulhos e formar mais mergulhadores”, diz Pedro Ramalhete, acrescentando que num mês com boas condições de mar o centro faz entre 20 a 25 saídas.
Uma das principais apostas da JustDive é a formação de novos mergulhadores, contando com uma equipa de quatro instrutores e 35 cursos disponíveis (todos eles certificados e reconhecidos internacionalmente).
A maioria dos mergulhadores que recorrem à JustDive vêm da zona de Lisboa, Porto e Braga, notando-se no Verão e no período do campeonato de surf MEO Rip Curl Pro uma maior afluência de estrangeiros. Só em Portugal existem cerca de 30 mil mergulhadores certificados e na Europa estão registados mais de quatro milhões.
As Berlengas, Reserva Mundial da Biosfera da Unesco, contemplam mais de 30 postos de mergulho, com o atractivo de num curto espaço geográfico proporcionar uma grande variedade de mergulhos, desde mergulho em naufrágios, mergulhos em profundidade (abaixo dos 60 metros) e em gruta.
Em cinco anos deverá ser possível explorar debaixo de água uma rota dos navios naufragados nas Berlengas
































