
São seis brasileiros e um colombiano e jogam nas equipas principais de futebol e voleibol do Caldas SC e do Sporting das Caldas. Em comum têm o facto de terem que passar este Natal longe do seu país e das suas famílias, alguns deles pela primeira vez. Nesta época do ano em que a saudade aperta, são os amigos – com quem formam uma autêntica família – e as videochamadas que ajudam a diminuir a distância de casa. A sua tradição à mesa é diferente da portuguesa, mas é o frio que mais acentua a diferença em relação ao Natal sul-americano.
“Para ser sincero, vai ser difícil. É a primeira vez que vou passar longe da família”, diz Erick Costa à Gazeta das Caldas quando lhe perguntamos como vai ser para ele o Natal deste ano, acrescentando sentir em especial a falta da sua pequena sobrinha.
O voleibolista de 22 anos, natural de Minas Gerais, está a ter nas Caldas a primeira experiência fora do seu país. Antes já tinha jogado num estado brasileiro diferente do seu, mas teve oportunidade de regressar a casa para passar a quadra.
Quando falámos, no início da semana, Erick ainda não tinha a certeza de com quem passaria o Natal nas Caldas da Rainha, mas era certo que seria com alguns dos seus amigos e companheiros no clube caldense.
O Sp. Caldas, que alinha na I Divisão Nacional, conta esta época com cinco atletas brasileiros nas suas fileiras, o que é uma grande ajuda na adaptação à cidade e ao país.
“Provavelmente vou passar com os amigos, que é a quem nos apegamos quando estamos longe de casa”, disse o atleta.
Em condição idêntica à de Erick estão Gabriel Garcia, conhecido no voleibol como Galo, também de 22 anos, e André Saliba, de 20. Ambos passam também o primeiro Natal fora do seu país.
O mais jovem do grupo está optimista por passar o Natal com os seus companheiros de aventura no Sp. Caldas, “que são uma família também”. O jovem prefere ver a situação pelo lado positivo. “Não vale a pena ficar triste por não estar com os meus familiares, estou a correr atrás de um sonho e a vida de atleta é assim, perdem-se datas importantes como esta”, sublinha.
Já Gabriel Garcia terá nestes dias um apoio importante para ajudar a diminuir a distância para a sua terra natal. “A minha namorada conseguiu tirar uns dias de folga e vai estar cá entre 20 e 26 de Dezembro, já dá um aconchego mais no coração por estar junto de alguém da família”.
Além disso, o jovem tem nalguns companheiros mais velhos segundas figuras paternais. “O Everton e a Priscila, considero-os como segundos pais, cuidam muito de mim, então vou estar um pouco com a família de cá e um pouco com a de lá”, refere.
LONGE DA FILHA
Rafael Franco, de 30 anos, é de Porto Alegre e vive a sua segunda experiência longe de casa. Acredita que já não vai ser tão duro como da primeira vez, quando esteve em Espinho há dois anos. No entanto, vai sempre ser “complicado”, uma vez que no Brasil tem a sua filha de apenas três anos. A vontade era mesmo poder estar com a família, mas também Rafael Franco afirma que são sacrifícios próprios “da vida que escolhemos”.
Com 37 anos e há quatro anos em Portugal, Everton Almeida é o mais experiente dos cinco voleibolistas do Sp. Caldas. Apesar das saudades da família, ter a esposa Priscila consigo nas Caldas ajuda a atenuar a distância. Mesmo assim, “não deixamos de ter saudades dos que estão lá. É uma data em que ficamos com o coração mais mole, a saudade aperta um pouco, mas vamo-nos acostumando”, afirma.
O Natal de Everton e Priscila será, mesmo assim, diferente porque não vai estar com os amigos que fez na Maia, onde passou os últimos três anos. “Ainda estamos um pouco perdidos, não sabemos muito bem como vamos fazer, mas estamos a conhecer alguns brasileiros cá e vamos ver se nos juntamos todos para fazer uma festa”, conta à Gazeta.
Também no Caldas há dois jovens estrangeiros que vão passar o Natal longe da sua família. Bruno Eduardo, de 19 anos, veio de Guarulhos, em São Paulo (Brasil) para Portugal representar os juniores da U. Leiria e agora joga futebol na equipa principal do Caldas. Este será o seu segundo Natal longe da família. “Vou passar o Natal com amigos, já estamos a combinar, como são brasileiros é mais fácil para todos”, observa.
Ter alguém nas mesmas circunstâncias acaba por ser um apoio importante para passar estas datas especiais, sobretudo esta em que a família está sempre muito presente.
Yordy Marcelo, colombiano natural de Medellín, também passará o seu segundo Natal longe de casa. O jovem de 24 anos confessa que “é muito difícil nesta altura do ano estar longe da família, mas faz parte quando lutamos pelos nossos sonhos”.
Tal como os seus colegas sul-americanos, Yordy tem amigos colombianos, com quem viajou na época passada para vir jogar futebol para Portugal, no Coutada (Torres Vedras) com quem vai passar o Natal. “São como uma família que tenho em Portugal, somos unidos e todos sabemos o que estamos a passar, são um apoio importante”, realça.
MUITA COMIDA E MUITA GENTE NAS RUAS
O Natal de Erick, Gabriel, André, Rafael, Everton, Bruno e Yordy tem muitas diferenças e muitas similaridades com o português.
A maior das semelhanças é o espírito de família. O Natal é uma quadra que é para ser passada à volta de uma mesa com o máximo possível de familiares. Num ambiente salutar, em que os mais velhos conversam de forma animada enquanto a criançada brinca, espera-se e desespera-se enquanto não chega a hora de abrir os presentes. “Isso é o fundamental, o resto a gente dá um jeito”, sublinha Erick Costa, que conta que na sua casa passa o Natal o seu avô, que tem mais de 20 netos e alguns bisnetos.
À mesa não há bacalhau, há sim churrasco, salada e fruta, e o doce tradicional não é o bolo rei, são os panetones (um bolo que também pode ser feito com fruta cristalizada, ou chocolate). Isso é comum ao Natal de quase todos os atletas.
Na família de Gabriel Garcia, a tradição manda ter peru assado e “o Manjar de Coco da minha tia, que é o doce que não pode faltar”, e cada pessoa leva um prato diferente, pelo que a variedade é tão grande quanto a animação à volta da mesa, onde além de familiares também estão amigos.
Já a família de André Saliba passa a data no sítio da sua avó, no estado de Minas Gerais. À mesa não pode faltar carneiro, “uma carne muito típica da minha região, leitão assado, muito vinho e muita animação”, conta.
Na sua casa em Medellín, Yordy Marcelo diz que o importante é também ter a família reunida “com muita paz e harmonia”. Quanto à comida, a tradição é mesmo variar. “Falamos e fazemos algo especial, mas não repetimos de ano para ano, é sempre diferente”.
Tanto no Brasil como na Colômbia, os jogadores dizem que, após a reunião de família, há o hábito das pessoas saírem para a rua, aproveitando as temperaturas de Verão, para conviverem com os amigos.
Longe das suas terras e dos seus familiares, as novas tecnologias são, para todos uma boa forma de diminuir as distâncias naquele dia especial, através de trocas de mensagens pela internet, com fotografias e videochamadas.
ENCANTO PELAS ILUMINAÇÕES NAS CALDAS
Yordy Marcelo diz que em Medellín também há o hábito de iluminar as ruas e faz a comparação com o Natal do ano passado, já em Portugal. “Onde estava era totalmente diferente, não havia iluminações de Natal, não havia esta árvore [da Praça 25 de Abril]. Aqui nas Caldas é muito mais bonito”, observa.
Erick Costa também elogia a iluminação de Natal das Caldas. “Como é uma cidade mais pequena que a minha, há luzes por todo o lado e é muito mais intenso, fica muito bonito”, considera.
Everton diz mesmo que, da forma como a cidade termal vive o Natal, “não há como não entrar no espírito de Natal. Há muitas famílias a andar na rua, aquela animação legal, muita gente a tirar fotos”.
Já Rafael Franco lamenta que na sua terra, Porto Alegre, se tenha perdido um pouco a tradição de iluminar as ruas. “Mesmo noutras cidades que já conheci aqui em Portugal as iluminações são muito bonitas e fico com vontade de ter cá a família nestes momentos, estou a gostar muito”, refere, acrescentando que tem enviado muitas fotografias e vídeos aos seus familiares.
O mesmo tem feito André Saliba, que diz que as luzes de Natal das Caldas encantaram a sua mãe. “Ela gostou muito e elogiou a forma como as pessoas de cá valorizam tanto o Natal”.
Gabriel Garcia acrescenta que já foi também a Óbidos e que vai aproveitar para conhecer o Porto e Lisboa com a sua namorada.































