Quando imaginamos a véspera e o dia de Natal, certamente que o primeiro cenário que nos vem à cabeça não será o de um hospital, tão pouco incluirá macas, tubos de soro, máscaras de oxigénio, médicos e enfermeiros. Contudo, a realidade também é esta: há quem passe estes dias entre as quatro paredes de um hospital, alguns internados, outros perto de ter alta ou ainda aqueles que aparecem de urgência.
Para alegrar a quadra natalícia dos doentes, e já como vem sendo hábito, os voluntários da Liga dos Amigos do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha realizaram diversas actividades. Gazeta das Caldas acompanhou-os no dia 22 de Dezembro, acabando por encontrar também os CHOlhaços, doutores-palhaços que animam a ala da pediatria.
Por volta das 11h00, o refeitório do hospital das Caldas já estava transformado num pequeno altar. É o padre Filipe Sousa quem dirige a missa, acompanhado de um coro composto por profissionais de saúde, entre enfermeiros, auxiliares, funcionários da administração e reformados. Na frente, encontram-se os doentes. Um está acamado, outra senhora em cadeira de rodas, mas a maioria veio pelo seu próprio pé, vestidos com robes brancos. O elemento mais novo é um recém-nascido que assiste à missa no berço.
Dada a benção final, os internados regressam aos quartos e os voluntários de batas amarelas preparam-se para começar a distribuir as lembranças de Natal. São 60 ramos de rosas, feitos com folhas de plátano, apanhadas directamente do chão do Parque D. Carlos I. Levaram dois serões a ser elaborados, pelas mãos da coordenadora Manuela Paula, que dobrou mais de 180 folhas. São entregues juntamente com cartões de boas festas, decorados consoante o serviço. Por exemplo, as mamãs que estão na maternidade recebem a mensagem de “rápidas melhoras”, enquanto as crianças do serviço de pediatria têm direito a um cartão vermelho decorado com o desenho do Pai Natal.
Os utentes agradecem de sorriso nos lábios. “É um gesto muito bonito, obrigada”, diz Fábio, de 16 anos, à voluntária Adelaide. “Tentamos minimizar o impacto destas pessoas, que não têm a oportunidade de passar o Natal em casa”, comenta Manuela Paula, voluntária há 18 anos da Liga dos Amigos do Centro Hospitalar das Caldas.
Os corredores do hospital também estão enfeitados, com árvores de Natal em cada serviço – construídas e decoradas pelos voluntários – e, à entrada do edifício de consulta externa, com um presépio. “Infelizmente, tem que estar vedado por uma fita porque há pessoas que nos roubam peças”, explica Manuela Paula, que acaba de receber a notícia que as renas que enfeitavam uma das árvores também haviam desaparecido. “É o outro lado destas iniciativas”, afirma.
Almoço de Natal para as crianças
Miguel Contreras, pediatra no hospital das Caldas, já tem tudo a postos para começar a brincadeira. Disfarçado de Doutor Rémi Fá Sol, é um dos membros fundadores do CHOlhaços, projecto que nasceu em 2013 e que se ocupa de animar regularmente os quartos dos internados da pediatria. “Continuo a ser médico, mas ganho um nariz vermelho, mais alguns adereços e fico muito mal comportado”, conta à Gazeta das Caldas.
O almoço de Natal de hoje, dirigido às crianças e aos pais, é uma iniciativa que ganha forma graças a parceiros que estão do lado de fora do hospital. Não são médicos nem enfermeiros, mas entidades que decidiram contribuir com a comida servida na actividade. É o caso dos restaurantes Maratona, Casa Antero e Forno do Beco, da loja de produtos biológicos das Caldas e da Bee Organic. O menu inclui uma sopa, sumos naturais, pipocas, muita fruta, sandes saudáveis e um bolo vegan, um presente da Gina Filipe, mentora da Alimentação Inspirada.
“Esta é uma refeição vegetariana, de modo a celebrarmos o Natal com um bocadinho de consciência na mesa, passando a mensagem às crianças e pais de que há muitos produtos maravilhosos que a terra nos dá”, adianta o doutor-palhaço, acrescentando que os alimentos utilizados foram apanhados na horta, neste mesmo dia.
Liga dos Amigos já tem mais de 20 anos
Fundada em 1993, a Liga dos Amigos começou com meia dúzia de pessoas. Actualmente, soma mais de 70 voluntários, na sua maioria reformados, e cerca de 400 sócios.
Reconhecem-se facilmente pelas batas amarelas e, diariamente, dão apoio às consultas da manhã e da tarde, servem os almoços e os jantares e, duas vezes ao dia, levam um chazinho a cada paciente, acompanhado de biscoitos. Durante a semana, os voluntários distribuem revistas pelas salas de espera e quartos, para actualizar as leituras dos doentes.
À parte de tudo isto, a Liga suporta actividades próprias. Uma delas destina-se à venda de suplementos alimentares para bebés a preço de custo, ou seja, ao preço por que são comprados aos laboratórios, “o que equivale a metade do valor praticado pelas farmácias”, assegura Manuela Paula. Além disso, os voluntários entregam um enxoval a todas as mães com dificuldades financeiras.
Por outro lado, às sextas-feiras a Liga apoia os doentes ostomizados – que, não tendo o intestino a funcionar normalmente, utilizam um saco colector – através da oferta do material de ostomia necessário (pensos, sacos, cremes, desodorizantes). “Antes as pessoas compravam na farmácia e depois eram comparticipadas, mas o dinheiro podia levar três meses a chegar. Por isso, agora compramos nós o material e recebemos o reembolso”, explica Manuela Paula, assegurando que até ao aparecimento da iniciativa, há oito anos, registavam-se bastantes casos de maus cheiros e infecções, pois os doentes não trocavam de saco com a devida frequência.






























