“Nas Caldas pode-se fazer tudo e criar o que quisermos!”, disse Charles Landry

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Para Charles Landry, especialista mundial em criatividade urbana, o facto das Caldas da Rainha “não ser a cidade mais bonita do mundo” permite-lhe “ter o potencial de se tornar num local mais interessante”. Ou seja: não sendo Óbidos, que é uma espécie de jóia da coroa da região Oeste, onde “não se quer mudar nada, nas Caldas pode-se fazer tudo e criar o que quisermos!”, afirmou o britânico, autor do conceito de “cidades criativas”, uma área de estudo a que se dedica desde finais dos anos 80.
Charles Landry esteve nas Caldas a 30 de Outubro e, além de uma conferência nos Silos, visitou a cidade, acompanhado pelo presidente da Câmara, Tinta Ferreira, e deixou-se encantar pela presença da cerâmica, constatável em todo o lado: nas paredes dos prédios, nas obras públicas e até nas montras das lojas.

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“Caldas da Rainha poderia ser um espaço de incubação onde as ideias aconteceriam”, defendeu Charles Laundry no final da conferência, que teve lugar nos Silos, onde dissertou sobre o papel da criatividade para o sucesso das cidades.
O consultor, que dá apoio a mais de 500 projectos desenvolvidos em cidades de todo o mundo, tem mais de 200 publicações editadas sobre esta temática.
Na sua opinião, Caldas da Rainha tem que ser sentida como um local onde é possível “concretizar os sonhos”. Se for percepcionada dessa forma, pode transformar-se num local atraente para vários tipos de público. “Veja-se, por exemplo, o preço do aluguer dos espaços para as empresas e start ups”, disse Charles Landry. “Caldas oferece muito melhores preços do que Lisboa e é preciso tirar vantagem disso”, aconselhou o especialista, tendo em conta que a cidade fica apenas a uma hora da capital. Além do mais, com as novas tecnologias, pode-se trabalhar para todo o mundo a partir de qualquer cidade.
Segundo o especialista, as Caldas pode tornar-se líder “a criar um ecossistema em volta das empresas incubadas”. A cidade, que até pode parecer pequena, poderá no futuro “ter em si uma infraestrutura sofisticada para receber start ups e fazer-se valer dessa mais-valia”, afirmou o especialista.

Turismo continuará a aumentar

Além do termalismo, que Landry considera ter um papel importante no futuro da cidade, o especialista ficou a conhecer que os Pavilhões do Parque vão passar a acolher um hotel de luxo. E deixou o aviso: a cidade deve preparar-se para o aumento do turismo, o que é algo que poderá ser um problema, como já se constata nas grandes urbes.
“Uma cidade líder é aquela que antecipa a resolução de problemas e que faz uso da sua energia cívica”, afirmou Landry. Na sua opinião, os cidadãos, em vez de apenas criticar, devem unir-se e trabalhar juntos em nome do bem comum. E deu como exemplo o que se passou em Helsínquia, onde a população se uniu para resolver problemas com a recuperação dos espaços públicos. Posteriormente “o poder local também se associou na resolução do problema”, disse o autor britânico.
Segundo a sua investigação, uma cidade para ter sucesso precisa de ter uma combinação “entre criativos, cidadãos participativos e uma estrutura política aberta”.

“A criatividade pode transformar as cidades”

Sobre o projecto Silos – Contentor Criativo, que acolhe ateliers low-cost para projectos artísticos e de design, Charles Landry apontou-o como um bom exemplo de como “a abertura à criatividade pode transformar as cidades”. O especialista referiu que há criativos naquele edifício industrial que estão a trabalhar através da internet para vários países do mundo.
O convidado salientou a dedicação de Nicola Henriques aos Silos, mas alertou para a necessidade deste coordenador poder contar com uma equipa que o ajude na gestão do projecto.
Para Nicola Henriques, trazer Charles Landry, o especialista das cidades criativas às Caldas, “era um sonho” que foi possível concretizar, através da parceria com a organização não-governamental Built a City. Esta tem estado a trabalhar com Landry desde o início de 2017, tendo iniciado a colaboração com o britânico através da tradução dos seus livros para português. No dia anterior à visita às Caldas, a 29 de Outubro, Landry participou no Folio em Óbidos onde apresentou o seu último livro.

A visita às Caldas

Na visita que fez à cidade, o especialista gostou das peças da Rota Bordaliana, dos grafities autorizados, da exposição EXIT (ainda presente nalgumas montras das lojas caldenses) e da Praça da Fruta. Após uma visita ao Posto de Turismo, Landry foi conhecer o Jardim de Água, de Ferreira da Silva, tendo registado vários aspectos do património local com o seu telemóvel. Passou também pelo Museu do Hospital e das Caldas, foi conhecer a piscina da Rainha ao Hospital Termal e ainda passeou pelo Parque D. Carlos I.
“Há muito a descobrir nesta cidade”, comentou o convidado, que salientou o papel da cerâmica “que está presente um pouco por todo o lado”.

Gazeta das Caldas
| N.N.
Gazeta das Caldas
O britânico fotografou vários grafities caldenses | N.N.
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