Na Bordalo Pinheiro há alunos ucranianos a aprender Português

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Chegaram sem pronunciar uma palavra na língua de Camões e já conseguem estabelecer uma conversação graças às aulas de Português Língua Não Materna, lecionadas por três professoras voluntárias

Por esta altura Andrii Viscun, de 17 anos, já terá regressado a Odessa, perto do Mar Negro, juntamente com a mãe e os dois irmãos mais novos. Desde março que a família residia nas Caldas, refugiada da guerra na Ucrânia. No passado dia 31 de maio foi, pela última vez neste ano letivo, à Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, para se despedir das professoras e deixar o computador que lhe tinha sido emprestado pela escola. Os irmãos mais novos fizeram questão de, nesse dia, ainda assistir a uma última aula, onde aperfeiçoavam a contagem dos números.
Os três irmãos, juntamente com mais 22 alunos, frequentaram a turma de Português como Língua não Materna, criada neste estabelecimento de ensino em abril e que irá funcionar até meados de junho. Trata-se de um caso único nos concelhos das Caldas e de Óbidos, tendo em conta que nos outros estabelecimentos de ensino os alunos ucranianos foram integrados noutras turmas.
Sabendo da disponibilidade de professores para ensinar Português às crianças e jovens ucranianos que chegavam às Caldas, a diretora do Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, Maria do Céu Santos, pediu ao ministério da Educação autorização para formar uma turma de Português Língua Não Materna. “Tendo em conta que são alunos na Ucrânia e que continuavam a ter aulas à distância, não faria muito sentido estarem a frequentar dois sistemas de ensino”, explicou a responsável, que obteve autorização para criar a turma, com professores voluntários.
Foi criada a turma, mas como os alunos tinham idades entre os 6 e os 19 anos e uma grande diferença entre os níveis de ensino, que ia da frequência do pré-escolar ao ensino universitário, esta acabaria por ser dividida em duas. Os meninos entre os 6 e os 11 anos, ficaram com a professora do primeiro ciclo Conceição Lameiras, a ter aulas numa sala da biblioteca, enquanto que os mais velhos, têm aulas com as professoras Maria do Céu Santos e Lurdes Santos.
A experiência tem-se revelado enriquecedora para alunos e professoras.
Andrii Viscun, que acabou recentemente o 11º ano de escolaridade através do ensino à distância, elogia bastante as aulas de Português, onde aprendeu a dizer os dias da semana e os meses do ano, assim como factos “muito interessantes” de Portugal, conta à Gazeta das Caldas. E, ainda que reconheça alguma dificuldade na aprendizagem da língua, considera a língua de Camões “não tão difícil” como o Húngaro, por exemplo, que era falado onde estavam antes de chegar às Caldas.
Maria do Céu Santos destaca também a mudança de comportamento dos alunos ao longo destes dois meses. A timidez e fragilidade emocional das primeiras aulas foi dando lugar à curiosidade e maior abertura para aprender coisas novas. “Entram na sala a dizer: Boa tarde! e já fazem uma conversação. Fico impressionada com a dicção deles”, salienta a professora.
A comunicação nem sempre é fácil, pois alguns dos jovens não percebem inglês, mas acabaram sempre por encontrar uma solução. Uma delas foi as professoras falarem em francês com a jovem que frequenta o curso superior de Línguas e Literatura, que depois traduzia para os colegas em ucraniano.
Outro dos objetivos foi o de que a turma pudesse interagir com os colegas portugueses, o que veio a acontecer com a turma de Apoio à Infância a dinamizar fazer atividades desportivas ou pinturas faciais com os alunos mais novos. Os alunos que frequentam a outra turma participaram nas atividades dos dias abertos do Agrupamento Bordalo Pinheiro. “Pensamos que não é só o Português que interessa, pois vão aprendendo-o no dia a dia, mas também a integração e o sentirem-se bem na escola e comunidade, criar uma normalidade possível”, resume a diretora do agrupamento.
A Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro contou também com o apoio da Porto Editora que ofereceu os livros para os alunos e a própria escola emprestou os computadores, que tinha disponíveis. ■

 

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