
Isto apesar dos Serviços Municipalizados das Caldas terem garantido à Gazeta das Caldas, por escrito, que de acordo com os resultados do controlo da qualidade da água relativo a 2012, foi “cumprido em 100% o número de análises a que estávamos obrigados a efectuar, tendo-se atingido 98,96% em termos de qualidade da água distribuída, resultados estes que se comparam com o que de melhor acontece a nível nacional”. O mesmo tem vindo a acontecer durante este ano.
Para além do Plano de Controlo da Qualidade da Água, da responsabilidade da ERSAR, também a Autoridade de Saúde está legalmente obrigada a proceder a um controlo suplementar de vigilância sanitária da rede das Caldas da Rainha “não tendo sido de uma forma geral relatados incumprimentos”, refere ainda a nota escrita dos SMAS.
No entanto, por diversas vezes o nosso jornal tem dado conta de queixas de munícipes caldenses relativamente às constantes rupturas nas condutas que levam a que a água apareça castanha e até preta.
Em Abril publicámos uma carta de Fernando Santa-Bárbara, morador no Chão da Parada, que contava na altura que acontecia com bastante frequência “ou falta a água ou esta vir completamente ‘castanha’”. Recentemente, a 1 de Outubro, um outro munícipe, morador na rua José Elias, também fez um comentário no site da Gazeta das Caldas, a queixar-se pelo mesmo motivo. “Hoje de manhã, mais uma vez, a água estava castanha. Ontem, ocorreu o mesmo”, contou Manuel Martins.
Alice Ferreira e Ana Pedro, moradoras na rua Vitorino Fróis, também já fizeram nos últimos anos várias reclamações nos Serviços Municipalizados das Caldas da Rainha por situações como estas.
Há cerca de uma semana Alice Ferreira referiu que iria denunciar o caso na Gazeta das Caldas e contou-nos que depois disso houve funcionários dos SMAS que se deslocaram várias vezes à rua para abrirem as condutas e deixarem correr a água na rua, para que esta chegasse limpa às casas.
Alice Ferreira e o seu marido são proprietários de um apartamento na rua Vitorino Fróis há 30 anos, mas como estavam emigrados em França só há cerca de 10 anos é que vieram morar definitivamente para Portugal.
Desde essa altura que se tem queixado e sempre lhes responderam que eram os únicos a queixar-se, mas acabou por descobrir que havia muitos vizinhos a terem o mesmo problema.
Ana Pedro, que mora no mesmo prédio que Alice Ferreira, também já se queixou várias vezes nos SMAS. “Há alturas em que é quase todos os dias, mas noutras alturas é mais espaçado”, disse. Embora lhe digam que a causa são rupturas ou obras nas condutas, a munícipe não consegue perceber porque é que tantas vezes a água aparece preta. “Se fosse por causa de terra aparecia castanha e não preta”, comentou.
A sujidade na água acarreta também outros problemas: não só a necessidade de gastarem mais para que esta saia mais limpa (o que faz aumentar a conta no consumo e na taxa de tratamento de esgotos), mas principalmente porque muitos electrodomésticos acabam por se avariar. “Tive um esquentador que só não rebentou por um triz”, contou Ana Pedro.
Máquinas de lavar e esquentadores não duram muito tempo nestas casas, mas a própria canalização também acaba por ceder a tantos sedimentos.
O casal Ferreira instalou um filtro junto ao contador de água e este tem que ser substituído pelo menos uma vez por mês, porque em pouco tempo fica completamente sujo. No local observámos um filtro que tinha sido colocado há menos de uma semana e já estava castanho.
UMA REDE DE ABASTECIMENTO ENVELHECIDA
Segundo os SMAS, em 2013 só houve quatro reclamações de munícipes na zona da rua Vitorino Fróis. Estas terão sido motivadas por ter rupturas que ocorreram em condutas de grande diâmetro que existem naquela rua. As obras da regeneração urbana também terão afectado o funcionamento das condutas adutoras e distribuidoras, provocando “perturbações na qualidade da água”.
Em 2011 foi feita a limpeza e desinfecção de algumas condutas da zona, mas houve vários protestos devido à interrupção de fornecimento de água e por isso o processo não terá sido levado até ao fim. No entanto, está prevista para breve “uma nova limpeza e desinfecção de algumas das condutas da zona em causa”.
A turvação na água não é apenas causada pelos sedimentos existentes dentro das próprias condutas, mas também porque “uma oxigenação excessiva da água provocada pelas intervenções na rede pode provocar a precipitação dos iões Ferro e Manganês, que normalmente existem numa água de qualidade, levando à coloração da água nos tons referidos”, explicam os técnicos do SMAS. Será a presença destes minerais, considerados fundamentais numa água de abastecimento, que poderão fazer aparecer a cor negra em determinadas situações.
Segundo os SMAS, em 2012, foram substituídos aproximadamente cinco quilómetros de condutas de abastecimento de água e três quilómetros de condutas de saneamento. De acordo com a resposta que recebemos, “para se atingir um maior nível de substituição de condutas seria necessário aumentar a receita dos Serviços Municipalizados e consequentemente o valor das tarifas praticadas”.
A política que tem sido seguida é de “não sobrecarregar exageradamente os munícipes com tarifas demasiado elevadas”, equilibrando assim a relação entre o que é cobrado e o que é investimento na reabilitação das condutas.
Como a rede de abastecimento de Caldas da Rainha tem dezenas de anos, os técnicos do SMAS têm a noção de que é necessária a sua substituição, mas “tal não poderá ser feito para o conjunto total da rede porque iria gerar perturbações significativas no abastecimento de água, assim como não existem os meios financeiros, nem forma razoável de os obter em tempo útil”. Por isso, essa substituição “terá de ocorrer espaçadamente no tempo e de acordo com os meios financeiros existentes”.
Relativamente a outras reclamações no concelho, os SMAS fizeram várias intervenções nessas redes, levando à substituição de dois quilómetros de condutas de adução e distribuição na Serra do Bouro e à instalação de ventosas nas redes do Chão da Parada. Depois dessas intervenções não receberam mais reclamações.
Em relação a este assunto não foi possível obter atempadamente um comentário do presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, para além da resposta técnica dos Serviços Municipalizados.
Pedro Antunes
pantunes@gazatacaldas.com

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