Em Portugal as mulheres ganham, em média, menos 14,8% do que os homens e quando se fala em cargos de chefia essa disparidade atinge os 26%. Ainda assim, e de acordo com Joana Gíria, presidente da CITE-Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, o país está a melhorar e tem sido, na Europa, um dos que mais tem investido em políticas de igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Este tema esteve em debate no Folio e juntou mais de 200 jovens em Óbidos.
As mulheres continuam, tendencialmente, a escolher profissões relacionadas com o cuidado, num prolongamento daquilo que são as tarefas domésticas e que, habitualmente, são menos valorizadas do que as escolhidas pelos homens. Essas escolhas reflectem-se no mercado de trabalho e disparidade salarial, que em Portugal se traduz numa diferença de 14,8% entre mulheres e homens, que corresponde a 54 dias de trabalho não remunerado por ano em desfavor das mulheres.
Nos cargos de chefia a disparidade ascende aos 26%. Joana Gíria realça que este é um problema que se vai reflectir depois nas pensões de velhice. “A possibilidade de termos um limiar de pobreza entre as mulheres mais alto em relação aos homens é real”, alertou, durante o debate que decorreu a 15 de Outubro no âmbito do Folio.
A responsável deu exemplos do trabalho exercido numa peixaria e num talho dos hipermercados. Num talho é necessária mais força física e as tarefas são desempenhadas, normalmente, por homens, enquanto que na peixaria é um trabalho mais minucioso e aí são as mulheres que prevalecem. Contudo, este último é também menos valorizado, recebendo uma remuneração mais baixa do que no talho.
Convidado a participar no debate, o empresário José Vale (que tem vários estabelecimentos de restauração na região) referiu que no caso da sua empresa não é feita distinção entre sexos. “Quando colocamos um anúncio não discriminamos se é colaborador ou colaboradora, a nossa preocupação é que seja uma mais valia para as empresas”, disse. O empresário acrescentou que sente que não há uma preparação adequada dos jovens para o mercado de trabalho. “É difícil encontrar pessoas com vontade de progredir na carreira”, disse, dando como exemplo a área do atendimento, que é procurada como trabalho temporário enquanto não encontram outro melhor. “Tenho dúvidas que haja pessoas que estejam no atendimento porque é isso mesmo que querem fazer, e isso impede que se entreguem”, salientou.
Carlos Martinho, presidente da Obidos.com disse que as empresas da região têm vindo a trabalhar na aproximação salarial entre homens e mulheres. As formações que a associação tem organizado são frequentadas, na grande maioria, por mulheres.
Direito dos homens na vida familiar
A preocupação com as mulheres no mercado de trabalho já é uma preocupação, mas Joana Gíria considera que é muito importante que haja uma preocupação pelo direito dos homens participarem na vida familiar.
Actualmente as mães têm licença de maternidade e os pais de paternidade, existindo também a possibilidade de mães e pais partilharem a licença parental. Joana Gíria pensa que se pode ir mais além, com as licenças parentais de mãe e pai com períodos iguais, independentemente do período obrigatório que a mãe deva ter para recuperação biológica. “A partilha desse momento é fundamental de modo a não afastar preponderantemente as mulheres do mercado de trabalho durante mais tempo e a possibilitar que os homens partilhem e participem na vida familiar”, justifica.
Já a escritora Margarida Fonseca Santos considera que se a cultura estiver mais distribuída e todos estiverem mais atentos começa a ser mais evidente que as mulheres e homens devem ter as mesmas oportunidades de carreira. “As mulheres dizem ‘o meu marido ajuda-me muito’ e eu gostava de saber o que é isto de ajudar pois a casa é dos dois e os filhos também. Não, o marido faz o que deve fazer, que é tratar da família”, argumentou, destacando que só a cultura e a educação poderão acabar com estes estereótipos.
Também Joana Gíria considera que o problema das desigualdades será colmatado através das políticas mas, sobretudo, da educação e do exemplo que as novas gerações irão dar às seguintes. Depois de uma conversa de perto de duas horas, com uma plateia repleta de jovens, a responsável ficou optimista com o que ouviu. “É esta a força do capital humano que temos para fazer a diferença”, concluiu.































