Madalena Zina, de 71 anos, foi de manhã trabalhar com o marido, mas à tarde não voltou ao campo. Ficou em casa a confeccionar uma torta que andava a idealizar e que deu a provar logo no dia seguinte, aquando do início da mostra gastronómica. O sucesso foi tal que já tem pedidos para fazer este bolo.
“A torta tem cebola às rodelas por cima, mas ninguém percebe que é cebola quando a come!”, conta à Gazeta das Caldas, escusando-se a revelar o segredo desta receita.
Para esta terceira edição criou também quatro variedades de bolinhos secos com cebola, que juntou a outras “invenções” como a compota, geleia e doce, feitos à base deste legume. A septuagenária conta que vai fazendo experiências até atingir a dose certa dos ingredientes para cada bolo. E a receita do sucesso é “muita experiência e vagar”, indica, acrescentando que já tem algumas ideias para fazer mais doces para a próxima edição.
Madalena Zina toda a vida trabalhou na agricultura, a produzir e comercializar cebola. Diz que não sabe quais são as condições que tornam a cebola do Sobral diferente das outras, mas garante que aquela “não faz chorar os olhos e é mais doce”.
Luís Henriques aproveita o certame para vender alguma da cebola que produz durante o ano. Agosto é o mês da colheita e, por isso, uma altura particularmente trabalhosa. O produtor levanta-se pelas 6h00 da manhã para apanhar as cebolas sem que a rama murche com o calor. E é importante que o bolbo seja apanhado com a rama para durar até mais tarde e também para que, quando for vendida, “não seja confundida com a cebola espanhola”, conta Luís Henriques que produz, em média, 200 toneladas de cebola por ano (em duas colheitas).
Este produtor vende para revenda e reconhece que as pessoas dão valor à cebola produzida no Sobral. Nesta altura do ano está barata, na ordem dos 25 cêntimos o quilo, mas para o final do ano o preço pode chegar aos 60 cêntimos.
No entanto, e de acordo com Luís Henriques, este ano não foi muito bom para a cebola. “Surgiu uma doença que seca a rama e a cebola já não encabeça”, disse.
Na banca ao lado estava a produtora Laurinda Cruz, também ela natural do Sobral da Lagoa. “É um trabalho bastante difícil”, disse, especificando que primeiro planta a cebola, que deixa espigar para aproveitar a semente, que depois semeia em viveiro para plantar. “São sete meses que andamos a trabalhar para produzir a cebola e há pessoas que não sabem dar o valor”, diz, referindo-se aos preços baixos praticados.
Uma mostra com 24 expositores
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Durante os quatro dias de evento foi também possível encontrar a cebola nos pratos servidos nos restaurantes improvisados em tendas colocadas em jardins de particulares. Este ano a novidade foi o frango assado com chalotas, enquanto que nos anos anteriores têm sido confeccionados essencialmente pratos à base de bacalhau.
Mas nem só de cebola vive esta mostra. Fátima Simões é artesã, vive no Sobral há três anos e desde essa altura que participa na mostra como voluntária da paróquia. Este ano, para além de continuar essa colaboração, também tem a sua própria banca de artesanato, onde vende os candeeiros feitos com papel de arroz e garrafões reciclados, e as bonecas feitas de garrafas e palha de milho.
Considera a mostra muito interessante porque dinamiza a terra. “É a forma de as pessoas se encontrarem e conviverem”, disse à Gazeta das Caldas.
Um pouco mais acima está a banca de Berlarmino Rodrigues, com o seu pólen e mel natural. Residente na Usseira, o apicultor tem 50 colmeias distribuídas por vários locais da região.
O dono da marca Belmel participou este ano pela primeira vez na mostra e destacou a sua importância para promoção dos produtos locais.
A mostra, que juntou 24 expositores no largo da localidade, foi organizada pela União de Freguesias de Santa Maria, S. Pedro e Sobral da Lagoa. A ideia inicial foi a de promover as potencialidades da cebola e divulgar este produto, o que foi conseguido sobretudo ao nível da doçaria.
O presidente da União de Freguesias, João Paulo Rodrigues, está satisfeito com o evento, mas diz estar sozinho nesta luta. Chegou a reunir com o presidente da Junta de Freguesia de Alvorninha, Avelino Custódio, e com o director da EHTO, Daniel Pinto, no sentido de criar uma certificação para a cebola da região, mas lamenta não ter tido apoio por parte das câmaras das Caldas e de Óbidos para que o processo andasse para a frente.
Para o ano, caso continue à frente da União de Freguesias, João Paulo Rodrigues gostaria de alterar algumas coisas, nomeadamente passar o restaurante e feirinha de artesanato para a zona exterior da escola primária, separando-os da festa das colheitas, que decorre no último dia do evento e que já é tradicional realizar-se no centro da localidade. Também quer tentar melhorar a animação musical.
Entre os dias 30 de Agosto e 3 de Setembro a mostra estará representada na Feira da Cebola de Rio Maior.
Frimor decorre até domingo em Rio Maior
Encontra-se a decorrer, desde quarta-feira, mais uma edição da Frimor – Feira Nacional da Cebola, no pavilhão Multiusos de Rio Maior.
O certame, que reúne vários ceboleiros, muitos deles das freguesias de Alvorninha, decorre até domingo e integra o II Festival Gastronómico da Carne de Porco e Aves. Haverá também exposições de produtos agro-alimentares, de doçaria e licores, seminários, demonstrações culinárias, feira equestre, artesanato e concertos. Hoje à noite será eleita a Miss Frimor 2017 e amanhã Tim, dos Xutos e Pontapés, actua no palco do certame. No domingo à noite actuará David Antunes & The Midnight Band. As entradas são livres. F.F.