Mostra de Doces e Licores Conventuais levou 50 mil pessoas a Alcobaça

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docesQuem visitou a XVI Mostra de Doces & Licores Conventuais, que decorreu no passado fim-de-semana no Mosteiro de Alcobaça, deparou-se com uma panóplia de saberes e sabores para apreciar. A tradição esteve mesmo de mãos dadas com inovação, já que foram várias as casas que apresentaram novas propostas inspiradas nas receitas antigas. O evento deste ano manteve participação idêntica aos dos últimos dois anos, com cerca de 50 mil pessoas entre entradas e participação no programa da TVI de domingo à tarde.

Entrar no mosteiro era como que entrar numa máquina do tempo que levava os visitantes a uma viagem pela idade moderna, em que os meios eclesiásticos guardavam em exclusivo para si os segredos destas receitas.
O espírito da época era recriado pelas actuações cénicas dos vários grupos de teatro, mas também pela presença constante de D. Pedro e D. Inês.
Antes de falar dos doces, convém sublinhar que esta era uma excelente oportunidade até para visitar o próprio mosteiro. A entrada no certame proporcionava entrada e acesso a todas as salas do Claustro D. Dinis. Uma visita fascinante por apenas um euro. Durante todo o ano o acesso custa seis, embora com direito a guia.
No primeiro ponto de passagem, os visitantes podiam assistir à confecção de doces pelas escolas Agrária de Alcobaça e de Hotelaria e Turismo das Caldas da Rainha. Era também nesse espaço que se podia provar a certificada e premiada cerveja da abadia belga de Herkenrode, uma das novidades deste ano.
O itinerário convidava depois a entrar na Sala das Conclusões. Aí deparávamo-nos com uma primeira imagem de grandeza do mosteiro. Uma lindíssima pintura no tecto – recentemente restaurada e dada a conhecer ao grande público pela primeira vez – que transmite a importância que aquele espaço tinha quando era habitado pelos monges de Cister.
Era o local indicado para os expositores das ordens religiosas presentes e levantou grande interesse, não só pelos produtos – que eram tão variados como os doces, as compotas, o vinho e os licores – como pela própria vivência dos eclesiásticos.
Dali seguia-se para o Claustro D. Dinis e todas as salas que o compõem, já que estavam acessíveis mesmo as que não faziam parte da mostra.
Nem sempre foi fácil circular, sobretudo nos períodos de maior enchente, que obrigaram a organização a reter novas entradas durante alguns períodos no domingo.
Na Sala dos Monges e no Refeitório, o espaço maior, encontravam-se então as casas comerciais com as suas especialidades. Os tons de amarelo vibrante, dominante entre os doces, eram um regalo à vista. Foi possível visitar as tradições da doçaria nacional, de norte a sul do país. Mas também experimentar novos sabores, resultado da pesquisa dos doceiros presentes.
Entre os melhores, o júri destacou o Céu da Boca, da Pastelaria do Marquês, de Leiria, que ganhou o primeiro prémio do concurso de melhor doce. Todos os outros títulos ficaram em Alcobaça e podem, por isso, ser revisitados durante todo o ano: o Pudim de S. Bernardo, da Pastelaria Alcôa, o Doce Paraíso, do restaurante António Padeiro, e o pudim Frades do Mosteiro de Alcobaça, da Casa dos Doces Conventuais. O melhor licor foi o de Ginja MSR, de David Pinto e Cª, Lda.
Apesar dos preços de alguns daqueles doces não serem convidativos a um grande consumo, o mais difícil era mesmo passar por todos os expositores e resistir à tentação de provar cada um deles. Mas, afinal, se estas iguarias têm origem nas ordens religiosas, talvez até nem seja pecado.

Boa campanha de promoção

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Inês Silva, vereadora da cultura da Câmara de Alcobaça, fez à Gazeta das Caldas um balanço positivo deste evento, destacando a afluência a partir de sexta-feira à noite e durante todo o fim-de-semana, apesar de no domingo se ter verificado novamente o maior pico da enchente.
“Correu tudo muito bem, o Claustro D. Dinis mostrava uma grande afluência, os expositores trouxeram novidades em doçaria conventual e as casas de Alcobaça estão de parabéns pelos quatro prémios conquistados”, revelou. A vereadora acrescentou ainda que o evento teve um impacto positivo na economia local, com os hotéis lotados e as casas comerciais, que aproveitaram para abrir ao domingo, a verificarem também movimento.
Foi, por isso, uma boa promoção de Alcobaça, durante os quatro dias. Pela afluência de gente a Alcobaça. Pela transmissão dos programas televisivos da TVI, na quarta-feira de manhã e no domingo à tarde, mas também dos directos na RTP1 e na CMTV. E ainda de um programa radiofónico da TSF, no sábado de manhã. Para além da divulgação com notícias e suplementos em vários jornais.
“Procuramos com este evento dar a conhecer Alcobaça, para que as pessoas voltem durante o ano, que venham conhecer a nossa gastronomia, os nossos vinhos, a nossa ginja, mas também as praias, o Parque dos Monges. Alcobaça tem muito para ver”, destaca.
Na edição deste ano foi dado um grande enfoque às ordens religiosas, com a presença de várias casas eclesiásticas, colocadas num espaço próprio. “A presença dos monges, frades e freiras faz todo o sentido. Eles estão em clausura, mas falam com as pessoas e partilham todo o seu saber”, sublinha.
A vereadora destaca a procura que estes expositores tiveram e adianta que a autarquia já está a trabalhar nos convites para outras ordens religiosas para a edição do próximo ano.
Inês Silva acredita que a Mostra, que já vai na 16ª edição, vai continuar sempre dinâmica. “A doçaria está sempre a recriar-se. As boas casas estão sempre a inovar e trazem doces diferentes todos os anos. O mesmo acontece com os licores, por isso quem volta de ano para ano tem sempre coisas diferentes para ver e provar”, conclui.

Sabia que
A doçaria conventual aproveitava a abundância de gemas devido à utilização das claras para engomar os hábitos, para a confecção das hóstias e para aclarar o vinho

A gema de ovo é rica em proteína e vitamina E, um antioxidante celular que protege também os glóbulos vermelhos. A gordura nela contida é não saturada, ou seja, rica em colesterol “bom”

Estes doces começaram a surgir por volta do século XV, quando o açúcar passou a ser utilizado em larga escala como adoçante, em vez do mel

Estas delícias terão sido desenvolvidas para agradar à gula das cortes em banquetes e pernoitas que eram uma fonte de receita para os conventos

Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt

Sabia que

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