
Virgílio Varela, um dos mais destacados militares do “Golpe das Caldas”, morreu no passado dia 4 de Abril aos 79 anos.
O então jovem capitão Varela foi um dos três oficiais, juntamente com Silva Carvalho e Rocha Neves (também já falecido) que prendeu o comandante e o segundo-comandante do RI5 na noite de 16 de Março, dando assim início às operações militares que levariam uma coluna a marchar sobre Lisboa para fazer uma revolução que afinal só ocorreria 40 dias depois, a 25 de Abril.
Os factos foram relatados por Silva Carvalho e Virgílio Varela à Gazeta das Caldas em 1993. Os três militares tomam posição em frente ao gabinete do comando no qual Virgílio Varela irrompe de pistola em punho. O segundo comandante também tinha uma pistola apontada. Por momentos os dois homens olham-se até que o coronel diz: “Ó Varela, tenha calma, vamos lá conversar”.
Mas entretanto Silva Carvalho, armado com uma metralhadora, entrara no quarto do comandante e detivera-o. O quartel das Caldas, que era à época um dos que tinha mais oficiais que conspiravam contra o regime, fica assim decapitado. O comando passou, então, para Virgílio Varela.
“Depois de cada um dos oficiais comandantes ter exposto ao pessoal o que íamos fazer, qual a missão, toda a gente queria ir e foi difícil convencer que alguns tinham de ficar. É nesta fase que se decide que o Varela tem de ficar a comandar o Regimento, razão por que não integrou a coluna”, contou na semana passada, Silva Carvalho ao nosso jornal.
Às 4h00 da manhã sai a coluna para Lisboa, mas vendo-se sozinhos à entrada da capital – a sua missão era ocupar o aeroporto -, os militares do RI5 regressam às Caldas onde são cercados por tropas supostamente fiéis ao regime e rendem-se durante a tarde.
Virgílio Varela, que ficara nas Caldas a comandar o quartel, é um dos 33 oficiais presos e enviado para a Trafaria, de onde seria libertado em 25 de Abril.
Silva Carvalho, que partilhou o mesmo quarto no presídio da Trafaria, conta que Virgílio Varela encarou os dias de cárcere com uma grande calma pois, tal como os restantes camaradas, estava seguro que não iria ali ficar muito tempo.
Foi ele o único autorizado a ter uma visita pois fez questão de se casar quando estava na prisão. A sua mulher, Leonor Varela, foi, assim, a única pessoa que pode levar-lhes notícias sobre o país dado que os reclusos não tinham acesso a informação livre.
Em declarações à Gazeta das Caldas, Virgílio Varela dizia em 1993: “quando ia detido a caminho de Lisboa sentia-me triste por ter falhado, mas sentia-me satisfeito por estar convencido que o esticão no cabelo seria suficiente para o partir e que o meu tempo de prisão seria curto porque o que eu tinha feito era mais do que suficiente para pôr o regime a cair. Aliás, mais tarde, na Trafaria, fui o único que não respondi à nota de culpa que me entregaram.”
Para Silva Carvalho, “o Virgílio era acima de tudo um excelente amigo. Nós tratávamo-nos por irmãos, tal era o nosso grau de amizade. Foi na minha casa no Avenal [Caldas da Rainha] que fizemos os primeiros documentos clandestinos do que viria a ser o Movimento das Forças Armadas e entre 1973 e 1974 fizemos muitos quilómetros juntos, em actividades conspirativas, a visitar unidades militares, em Santarém, Mafra, Tomar, Abrantes, Pombal. Do ponto de vista militar, era um homem austero, capaz de berrar com os subordinados, mas os soldados adoravam-no porque no fim de contas ele ameaçava mas não os castigava”.






























