
Manuel Duarte tinha 15 anos quando começou a trabalhar no moinho das Gaeiras, corria o ano de 1956. O pai era moleiro e ele ajudava-o, pondo o moinho a trabalhar e, mais tarde, quando o progenitor já não podia, “picava as mós, largava e apanhava as velas”. Uma actividade que manteve até há mais de duas décadas, altura em que se começou a dedicar à construção civil. Com a morte do pai, o moinho deixaria de funcionar. Por isso, não é de estranhar o orgulho que sentiu, no passado dia 5 de Outubro, quando viu aquele património de novo recuperado e preparado para transformar o cereal em farinha.
Natural das Gaeiras, Manuel Duarte acompanhou o trabalho do carpinteiro e garante que o imóvel está exactamente como era inicialmente. O septuagenário recordou ainda à Gazeta das Caldas que esta foi uma actividade muito importante para a região. “Eu tinha 10 anos e ia de burro levar os talegos às casas das pessoas, ou seja, trazia o grão de trigo que era moído no moinho e depois ía entregar a farinha”, conta, equacionando se, no futuro, não será necessário estes equipamentos voltarem a funcionar para alimentar as populações.

No moinho de 1920 agora recuperado vai ser possível moer os cereais. “Neste momento já temos pessoas que voltaram a semear trigo e já vieram perguntar se podem aqui vir moer para poder depois fazerem o pão em casa”, contou Eduardo Silva, presidente da Junta das Gaeiras. A autarquia investiu 50 mil euros na recuperação do imóvel, doado pela família de José Quitério. O projecto contou ainda com o apoio do Proder, em 23 mil euros e dos voluntários que fizeram a festa da terra, em que arrecadaram 17,5 mil euros. Este é aliás, segundo a LeaderOeste – que efectuou a candidatura – o primeiro projecto com financiamentos do programa de apoio ao desenvolvimento rural executado em “tempo record”, neste caso, em menos de um ano.
O moinho irá também funcionar como oficina pedagógica, com visitas guiadas. O autarca espera que venha a ser uma referência em termos turísticos e que possa também ser visitado por empresas especializadas. “Vai ser aquilo que todos quiserem”, disse Eduardo Silva, para quem “só faz sentido recuperar o património se nele envolvermos as pessoas”.
Durante a inauguração da Oficina da Semente, que juntou largas dezenas de pessoas, o autarca defendeu também que houvesse na escola uma disciplina curricular obrigatória onde se tratassem os costumes, hábitos e património de cada região.
“Espero que este pólo seja um dos muitos caminhos para o património que está degradado, à semelhança do que fizemos com os armazéns de vinho onde fazemos a exposição dos presépios”, exemplificou.
Mesmo ao lado, o forno comunitário terá várias utilizações. Já foi disponibilizado para cozer pão para os bombeiros voluntários de Óbidos aquando dos incêndios que devastaram a região nos primeiros dias de Setembro e está também à disposição de famílias carenciadas, ou para festas. Está também a ser criada uma escala de fins-de-semana para que os voluntários, assim que esteja terminada a obra da nova igreja, passem a cozer pão para os carenciados, permitindo-lhes amenizar as dificuldades.
Esta inauguração foi integrada nas comemorações do 27º aniversário da freguesia das Gaeiras.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























