“Modernização sim, sem comboios não”, gritou-se na manifestação contra os atrasos e supressão de comboios na Linha do Oeste, que decorreu na manhã de 26 de Julho, em Lisboa, em frente ao Ministério do Planeamento e Infraestruturas. O protesto, organizado pela Comissão para a Defesa da Linha do Oeste, juntou cerca de uma centena de pessoas, a maioria das Caldas da Rainha, Alcobaça e Bombarral, que se deslocou à capital em autocarros.
José Rui Raposo foi recebido por assessores do ministério que ouviram a “extensa” exposição da comissão e informaram que o “governo está a desenvolver trabalhos com o Conselho de Administração da CP no sentido de resolver os problemas mais urgentes”, disse o porta-voz da comissão.
Pouco passava das 9h00 quando o autocarro cedido pela Câmara das Caldas apanhava perto de 30 pessoas na estação ferroviária para se dirigir rumo a Lisboa, ao Ministério do Planeamento de Infraestruturas. Alguns eram utentes da linha, outros ex-ferroviários e havia ainda autarcas e ex-autarcas, todos com a finalidade de reclamar junto do governo por mais e melhores comboios e a requalificação da Linha do Oeste. Na bagageira do autocarro iam os cartazes e faixas que horas depois iriam envergar.
Após uma breve paragem em Óbidos para apanhar mais alguns participantes, entre eles o porta-voz da comissão, Rui Raposo, a viagem fez-se, calmamente, rumo à capital. Uma última paragem na estação de serviço de Loures para o encontro com os manifestantes que vinham da zona de Alcobaça e chega-se à Avenida Barbosa do Bocage, onde já estavam outros utentes do Bombarral.
Acompanhdos com os sons dos Deolinda, os manifestantes entoam frases de protesto pela situação em que está a linha e pedem a sua modernização. O deputado na Assembleia da República, Bruno Dias, e o eurodeputado João Ferreira, ambos do PCP, juntam-se à manifestação, assim como a dirigente dos Verdes, Sónia Colaço e representantes de sindicatos.

José Rui Raposo, porta-voz da comissão, agradeceu-lhes a solidariedade e realçou que a supressão de comboios tem vindo a agravar-se, a par de constantes atrasos sem respeito pelos utentes que ficam, às vezes, horas à espera. A CP tem tentado colmatar a falta de comboios com autocarros e, por vezes, táxis a fazer os horários, mas, de acordo com o responsável, a alternativa não é real porque os percursos e horários dos comboios não são respeitados e há alturas em que nem os autocarros aparecem.
Estes transportes alternativos acarretam custos acrescidos para a CP que, entre Abril e Junho, gastou mais de 16 mil euros em operadores rodoviários, informou Rui Raposo.
O dirigente explicou que as supressões e atrasos que acontecem na Linha do Oeste têm a ver com a falta de material circulante, uma realidade “previsível e evitável se tivesse havido a necessária planificação”. Defendeu a rápida colocação de composições a circular neste troço ferroviário e apresentou como solução de emergência a CP pôr a circular as locomotivas 1400 que estão paradas e acoplar-lhes uma ou duas carruagens.
“Antes de 2021 não haverá modernização da linha, daí a necessidade de termos material circulante”, defendeu, acrescentando que a partir de 5 de Agosto serão implementados novos horários, que irão “oficializar as supressões que já estão a ser feitas e acabar com as ligações inter-regionais entre as Caldas e Coimbra”.
Apoio dos sindicatos
Solidárias com os utentes estão também as comissões de trabalhadores e sindicatos. José Manuel Oliveira, da Fectrans – Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações, entende que o que se passa actualmente na ferrovia obriga a que utentes e trabalhadores se juntem em torno de um objectivo concreto: o desenvolvimento e modernização do caminho-de-ferro.
Rui Raposo, juntamente com dois elementos da comissão, acabaria por ser recebido pelos assessores do ministro, a quem fez uma exposição alargada da situação da Linha do Oeste e apresentou propostas de resolução do problema. Foi-lhes dito que o governo “está preocupado com a situação e que está a desenvolver trabalho com o Conselho de Administração da CP no sentido de encontrar respostas para os problemas mais prementes da linha”, disse Rui Raposo à Gazeta das Caldas.
O dirigente salientou ainda que a comissão não vai descansar e que a acção de 26 de Julho não foi o ponto final das suas iniciativas. No Outono contam ir à Assembleia da República para serem ouvidos em sede da Comissão Parlamentar de Transportes e Infraestruturas, que tem em seu poder a petição que juntou mais de 6400 assinaturas.
“Passo os tormentos para ir trabalhar”
Utente diária da Linha do Oeste entre as Caldas da Rainha e S. Martinho, Maria de Jesus Ribeiro, estava na primeira fila da manifestação e segurava um cartaz que clamava pela circulação de mais comboios na linha do Oeste.
“Passo os tormentos para ir trabalhar”, dizia a utente, que já chegou a estar mais de três horas na estação de S. Martinho (que não tem pessoal afecto) à espera de um comboio, que nunca chegou e que, para regressar a casa, teve que pagar a viagem de autocarro. Maria de Jesus Ribeiro considera que o que a CP está a fazer é uma “falta de respeito pelos utentes” e convida a administração a andar de comboio para conhecer a realidade.
Com 73 anos, esta cliente maltratada da CP utiliza o comboio há 10 anos para ir trabalhar, mas estes atrasos estão a prejudicá-la, pois já foi avisada que se continuar a atrasar-se, terá que ser substituída por outra pessoa. A manifestação foi, para Maria de Jesus Ribeiro, um “lavar de alma”, uma forma de mostrar a revolta pelo que a CP está a fazer com os utentes.
Ao seu lado estava Maria Amador, de Famalicão da Nazaré, que foi durante grande parte da vida ferroviária e que agora não se conforma com a situação a que a Linha do Oeste chegou. “Não há comboios, depois mandam autocarros podres que param no caminho”, desabafa. Ela própria já chegou a ter de vir de Leiria para as Caldas de táxi – a expensas da CP – pois não havia lugar no autocarro alternativo.
Maria Amador explica que as pessoas não conseguem cumprir os horários, resultado das supressões dos comboios e garante que estes só não circulam porque não há vontade da administração da CP. “Sabemos que há comboios para arranjar e que não deixam que o façam”, disse, acrescentando que vai teimando em usar este meio de transporte.
Das Caldas partiram no autocarro, rumo ao Ministério do Planeamento, Fátima Vieira Lino e Maria Júlia Carvalho para se solidarizarem com a defesa da ferrovia. “O comboio é fundamental, é mais sustentável e um meio de transporte mais directo”, disse Fátima Vieira Lino que, nas suas viagens pela Europa tem utilizado sempre este meio de transporte.
“Acho lamentável ter-se apostado nas autoestradas em detrimento dos comboios”, referiu a caldense que nasceu na Rua da Estação e ainda mora naquela zona. Fátima Vieira Lino usou também bastante este meio de transporte quando estudou em Lisboa e também para ir à praia e considera que faz bastante falta.































