Os participantes foram convidados a criar peças inspirando-se nas alterações climáticas e na identidade de género
O Convento de S. Miguel volta a acolher a 15ª Grande Exposição de Presépios, que este ano conta com cerca de um milhar de obras de 70 artistas, provenientes de todo o país. Alguns deles abordam a temática das alterações climáticas ou da identidade de género, respondendo ao convite feito pela organização.
As peças apresentadas por Ana Vieira da Silva, designer e ex-aluna da ESAD, são um desses exemplos. A autora, que apresenta várias reinterpretações gráficas e minimalistas, salienta que “antes de género, falamos de identidade e de inclusão”, e que a sua peça “em nada pretende impor-se àquele que é o legado religioso que conhecemos, mas sim estar do lado da aceitação de todos os rótulos identitários sem necessidade de os colocar; compreender que não há uma só versão do ideal e que a própria história natal tem nela questões que nos convidam a refletir”. Na memória descritiva que apresenta a peça refere que a nossa identidade é, “além das características formadas no ventre, resultado de variáveis sociais, vontades e escolhas, e o género não é exceção”, pelo que “podemos, quase, ser todo o presépio”.
Também o ceramista caldense Vítor Pires trabalhou a mesma temática da igualdade de género, com minuciosas peças, e houve outros autores, como Inês Neves, que privilegiou a Natureza utilizando “raras e belíssimas” estalactites, recolhidas em áreas de resíduos das explorações de calcário da Serra de Aire e Candeeiros, na composição dos seus presépios. A madeira dos plátanos centenários, que existiam na vila das Gaeiras e que este ano foram cortados, foi trabalhada por Telmo Alves, um dos artistas locais que se encontram representados na coleção particular de Eduardo Silva, também exposta e que “lhes pretende fazer uma homenagem”, conta o colecionador e mentor desta exposição.
O presépio animado de Ricardo Roque está este ano também no convento. A ocupar uma área de 14 metros quadrados, a representação do nascimento de Jesus inclui diversas peças animadas, construídas pelo jovem com a ajuda dos pais.
É ainda possível encontrar uma diversidade de presépios, feitos em materiais como tecido, lã, ouro, cortiça, barro, cerâmica, ferro ou mesmo escamas de peixe. Os preços oscilam entre os 2,5 euros e os 6.500 euros. Este último trata-se do presépio mais caro até agora exposto nas Gaeiras e é uma obra de grandes dimensões, do artista Carlos Oliveira.
De acordo com o presidente da Junta, Ricardo Duque, resultado da pandemia (que obrigou as pessoas a readaptarem-se), houve mais dificuldade em encontrar artesãos e artistas para exporem este ano nas Gaeiras. A organização lança, por isso, um convite a todos quantos queiram ainda juntar-se com os seus trabalhos, que o podem fazer, tal como vai acontecer com alguns alunos da ESAD, que irão expor as suas peças durante esta semana.
“O grande desafio é incentivar as pessoas a adquirir os seus presépios, não só os colecionadores mas também para oferecerem como prenda de Natal”, revela Ricardo Duque, acrescentando que um dos objetivos é mostrar o trabalho dos artistas e garantir-lhes alguma sustentabilidade.
Presente na cerimónia de inauguração, que teve lugar a 8 de dezembro, o presidente da Câmara, Filipe Daniel, deu nota da intenção da autarquia em adquirir o convento de S. Miguel (cuja deliberação da Assembleia Intermunicipal está prevista para 19 de dezembro), com a finalidade “de se destinar cada vez mais a estas práticas”. Também Ricardo Duque realçou a importância de recuperar aquele edifício e transformá-lo num espaço de desenvolvimento artístico e cultural. “Este local tem condições únicas para poder acolher um conjunto de projetos, residências artísticas, e dar oportunidade aos mais jovens de terem aqui as suas oficinas”, como é o caso do jovem marceneiro embutidor, André Santos. ■































