Realizador está a filmar a vida de Francisco Lyon de Castro, num filme encomendado pela RTP2. Cenas gravadas no CCC e na vila de Óbidos contam o percurso do histórico editor, ligado ao PCP
Francisco Lyon de Castro nasceu em 1914 e foi um ativista político que aderiu ao PCP e, mais tarde, fundou as Publicações Europa-América. É sobre esta personalidade que o realizador Miguel Costa está a filmar, tendo gravado algumas cenas no CCC nas Caldas e também em Óbidos.

No total, as filmagens contam com uma equipa de 70 pessoas, mas no set estão sempre menos profissionais, respeitando as regras da DGS.
“O avô de Francisco, de ascendência escocesa, veio para esta região ajudar na implementação da Linha do Oeste”, contou o realizador, acrescentando que a família de Lyon de Castro viveu em Óbidos, nas proximidades do posto da GNR.
Para este filme foram feitas gravações junto à linha do comboio também no concelho vizinho.
Francisco era o mais novo de 10 irmãos que cedo se tornou num opositor ao regime. Acabou por se mudar para Madrid, quando já pertencia ao PCP e posteriormente também viveu em França.
Sempre em confronto com o Estado Novo, quando regressou a Portugal, foi preso e julgado pelo Tribunal Militar Especial que o condenou a quatro anos de prisão. Cumpriu a pena na Fortaleza de São João Batista, em Angra do Heroísmo, nos Açores.
Na prisão, teve conhecimento do Pacto Germano-Soviético, assinado em 1939, e indignado, acabou por abandonar o PCP.
Foi libertado em 1940 e regressou a Lisboa. Após ter trabalhado na empresa da família, fundou as Publicações Europa-América, em 1945. Além da atividade editorial, pretendia importar livros e periódicos estrangeiros. Só que tais importações levaram-no mais duas vezes à prisão, pois as publicações eram apreendidas, nos correios, pela então Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PDVE).
“Mais de metade do filme trata de reconstituir historicamente o seu percurso”, disse Miguel Costa acrescentando que há uma parte mais onírica que pretende mostrar “o que ele sentiu em várias fases da vida” .
O elenco integra vários elementos do Teatro da Rainha como Vitor Santos, Nuno Machado, Fábio Costa ( que representa Lyon de Castro) e Marta Taveira. Zé Carlos Faria é também o diretor de arte do filme.
A parte de ficção, relacionada com a prisão e com a tortura a que Francisco Lyon de Castro foi sujeito, foi filmada em fevereiro no CCC.
A produção deste filme conta com guarda-roupa do Teatro da Rainha e também do Teatro São Carlos, que inclui peças referentes à época e que foram feitas por Filipe Faísca.
Em 1952, este editor acusou o Estado de censura e de proibição de lançamento de livros estrangeiros e nacionais. Antes do 25 de Abril, a editora de Lyon de Castro conseguiu publicar autores considerados “proibidos”, como Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, García Márquez e Jorge Amado.
Em finais de 1975, foi convidado para a administração da empresa Notícias-Capital, que agrupava os jornais Diário de Notícias e A Capital, cargo que só aceitou com a condição de não receber remuneração. Francisco Lyon de Castro foi, no pós-revolução, o primeiro presidente eleito da Associação Portuguesa de Editores e da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas.
Em 2000, participou de forma ativa na criação da União de Escritores Portugueses e, até à data da morte, foi o editor mais antigo no mundo em funções. Era, ainda, organizador de eventos do Clube de Campismo em Portugal. E foi nas Caldas da Rainha, em 1948, que organizou o segundo congresso da Federação Portuguesa de Campismo. Condecorado em Portugal e em França, faleceu em abril de 2004, mas deixou um grande legado.
Entre os novos projetos, o realizador Miguel Costa está a preparar um novo filme documental sobre o Jornal do Fundão. ■
nnarciso@gazetadascaldas.pt


































