Quando estu
dei em Lisboa no final dos anos 60 e início da década de 70, vivia na zona do Jardim da Estrela, e um dos entretenimentos habituais alternativos às “piscinas” na Praça da Fruta das Caldas, era passear por aquele popular jardim lisboeta e pelo bairro de Campo de Ourique.
Nessa época era um bairro acolhedor, género pequena aldeia de conhecidos, onde, como dizia o escritor e jornalista Fernando Assis Pacheco, nas suas 10 regras para ali viver, “se pratica a arte da boa vizinhança: estás numa terra pequena, não sejas opaco”.
No Bairro, além de olhar para as montras das lojas e frequentar alguns restaurantes mais competitivos (a não ser o Velha Goa nos dias de festa), passeava no jardins do bairro. O mercado de Campo de Ourique, junto à Igreja de Santo Condestável, era um espaço que pouco atraia.
Quase meio século depois, mantêm-se muitas das particularidades e atractivos do bairro, que recebeu vários melhoramentos, mas não tendo perdido as características de aldeia na grande cidade, não tendo ali entrado os arranha-céus vizinhos das Amoreiras do arquitecto Taveira.
O novo mercado de Campo de Ourique
Agora existe uma mais valia considerável: o mercado de Campo de Ourique, construído originalmente em 1934, que foi totalmente transformado e melhorado, passando a ser um dos mercados mais interessantes e icónicos da capital, atraindo diariamente um população urbana e gastadora.
O processo de renovação foi concluído recentemente e o seu interior alberga hoje, além de vários lugares normais de vendas de fruta, peixe e legumes, como antes, inúmeras pequenas bancas ou lugares onde se encontram petiscos tradicionais, azeitonas, queijos, sandes, até aos mais sofisticados pratos de marisco, sushi, hambúrgueres gourmet, doces conventuais, vinhos, gelados, cervejas artesanais, etc..
A arquitectura dos anos 30 foi respeitada com a traça original, bastante retocada e melhorada, que lhe dá um aspecto jovem e agradável, mesmo bastante convidativo. A mescla de sabores, vai desde os tipicamente nacionais, aos italianos, americanos ou japoneses, numa mistura eclética que se posiciona bastante bem para a procura turística actual da capital.
O turista mais bem informado sabe que pode tomar o eléctrico 28 na Baixa e subir aos Prazeres (um nome muito a propósito), onde vai encontrar um local funcionando em permanência (até às 23 horas durante a semana e até à 1 da madrugada ao fim de semana), que não desmerece os típicos mercados de San Miguel em Madrid, ou o Sant Josep de la Boqueria perto das Ramblas em Barcelona, só para falar nos nossos vizinhos espanhóis.
Regularmente poderá assistir a espectáculos nocturnos, como sessões de fado ou de música, que são outro chamariz para muitos clientes. Não falta ainda um parque de estacionamento subterrâneo, que resolve o problema da falta de lugares nas ruas que circundam o mercado.
O décor interior não desmerece, uma vez que quem concebeu a recuperação do espaço, seguiu as novas tendências utilizando materiais tradicionais como a madeira e o ferro, como uma iluminação cuidada, que valoriza os produtos que em cada local pretendem oferecer ao público.
TASQUINHAS SEMPRE TASQUINHAS
Para o leitor da Gazeta das Caldas que queira fazer uma incursão deixamos algumas sugestões das tasquinhas que nos pareceram mais invulgares:
A U-Try onde pode encontrar hambúrgueres artesanais de uma marca nascida recentemente junto ao Estádio Universitário de Lisboa, que utiliza carne de alta qualidade (100% vaca ou frango) combinada com uma seleção diária de produtos frescos. As propostas vão do Beisique, ao incrível Beicone, ou ao surpreendente Pinquexiquene.
A Empadaria onde pode degustar empadas, croquetes de carne ou de alheira e outros salgados que fazem as delícias dos clientes ou a Petiscaria dedicada aos petiscos portugueses, seguindo a tradição nacional, do norte ao sul do país, como do Pica-pau, da saladinha de polvo, do bacalhau à Brás ou ovos mexidos com farinheira.
Quem estiver mais abastecido no bolso pode optar pelo Mercado do Marisco onde há de tudo da nossa tradição gastronómica, seja um pouco do camarão da costa e de Espinho, amêijoas, percebes, sapateira e santola, etc..
Mais apurado para o gosto tem a Tasca Japonesa com os sushi gourmet “personalizados”, “onde o improviso, liberdade e criatividade do sushiman está ao serviço do cliente”, como diz o chef. Ali encontra do sushi tradicional ao sushi de fusão, numa proposta bastante sofisticada.
No Chef do Mercado pode encontrar Entrecôte e Magret de pato com molho, tal como no Atalho do Mercado as delícias à base de carne de bovino, porco preto e borrego vindas directamente do produtor (os sócios fundadores do Atalho são produtores e distribuidores de carne).
Para quem se sinta muito cheio com a comida, sempre pode optar pela Goji Detox, uma marca saudável que nasceu para equilibrar uma dieta rica, com a ingestão mínima de hidratos de carbono, substituindo-os por proteínas, frutas e vegetais em forma de sumo.
Pode ainda procurar os sabores italianos na Carpacceria Contessa onde pode encontrar, servido no prato com uma fatia de pão, dentro de um wrap ou na Bruschetta, um Carpaccio de Novilho, Salmão, Atum, Polvo acompanhado de salada ou das já famosas tiras de wrap fritas.
Nos doces a oferta é abundante e variada e vai da Casa de Ovos Moles à base de doçaria conventual oferecendo desde os ovos-moles de Aveiro, o pão de ló, a barriga de freira, ao papo de anjo o queijinho do céu ao O Depois onde pode comer doces e sobremesas caseiras como os tradicionais cheesecake de framboesa ou de doce de leite e bolacha Oreo, ao bolo de laranja e o de chocolate, etc..
Não faltam as gelatarias com novos sabores e ainda encontra lugares com cocktails, vinhos e cervejas artesanais ou do master Gin.
O leitor deve já estar incomodado com tanta iguaria. Não fique a pensar, experimente e dê a sua opinião.
É evidente que Caldas da Rainha não pode imitar este modelo, uma vez que não tem procura suficiente para o tornar sustentável. Mesmo assim podia aprender muito nos pormenores e na imagem.
José Luiz de Almeida e Silva
jlas@gazetadascaldas.pt































