Mercado de artesanato em Óbidos funciona como “cartão de visita” da vila

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ComerciantesÓbidos ComerciantesÓbidos3Contam-se 13 bancas na Rua de Dom João de Ornelas, em Óbidos, tradicionalmente conhecida como Rua da Porta da Vila, porque faz a ligação entre o parque de estacionamento e a Porta da Vila. Vendem de tudo um pouco, desde cerâmica, frutas, compotas, a típica ginjinha, frutos secos, queijos e outros produtos artesanais, confeccionados em madeira e cortiça. Mas, além de comerciantes, os proprietários destas banquinhas desempenham um segundo papel: todos os dias, funcionam como “guias”, respondendo às questões colocadas pelos turistas. Alguns autonomeiam-se como “Segundo Posto de Turismo”, outros como o “Cartão de Visita” da vila, mas todos estão de acordo sobre as mais valias que o mercado representa para Óbidos. 

Maria das Dores é natural da freguesia de A-dos-Negros e uma das vendedoras que há mais tempo comercializa as suas frutas em Óbidos. Começou em 2001, mas inicialmente sem saber que era preciso licença, disse à Gazeta das Caldas. Num dos dias de trabalho, aparentemente igual a todos os outros, acabou por ser apanhada por um fiscal, que a informou da necessidade de “tratar dos papéis”, para que o seu negócio fosse legalizado. Após várias cartas enviadas, lá conseguiu, e hoje orgulha-se de ter uma banca própria.

É difícil manter uma conversa com a proprietária porque os clientes chegam constantemente. Um grupo de chineses aparece em busca das ameixas, pêras e figos. Maria das Dores, apesar de não falar a mesma língua, não se deixa envergonhar e tenta comunicar da melhor maneira, gesticulando com os dedos ou escrevendo os preços em pedaços de cartão, ao mesmo tempo que pesa os sacos de fruta numa balança tradicional. Além das frutas, também vende compotas e mel, dois produtos “caseiros, sem corantes nem conservantes”, explica.
Relativamente aos compradores, a comerciante afirma que os estrangeiros são os melhores clientes, em particular os brasileiros, pois “acham piada ao ambiente típico do mercado”. Há uns anos atrás, contudo, os portugueses não ficavam atrás, pelo menos “antes de a crise bater à porta e de as pessoas preferirem comprar nas grandes superfícies”.

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“Os estrangeiros estão habituados a comprar na rua”
Fernando Cerol, um dos representantes dos comerciantes, é da opinião que o mercado é uma mais valia para Óbidos, não só porque “a maioria dos turistas estrangeiros estão habituados a comprar na rua”, mas também porque os vendedores acabam por funcionar como “veículo de informação sobre a própria vila”. À falta de guia, ou mesmo quando o posto de turismo se encontra encerrado, são os comerciantes que orientam os visitantes. “Fazem perguntas de todo o tipo, sobre a localização de hotéis e residências, do castelo, de restaurantes e alguns querem saber mais sobre a história da vila”, acrescenta o representante.
Em média, cada proprietário paga 150 euros mensais para manter a sua banca, valor bastante inferior ao necessário para sustentar um estabelecimento dentro da própria vila. Apesar de as bancas já existirem há cerca de oito anos, só há dois estão concessionadas pela Câmara de Óbidos, o que implicou uma mudança no visual das tendas. Se antes cada comerciante apresentava o seu produto de forma distinta, agora as bancas têm um aspecto homogéneo, encontrando-se mais embelezadas e com melhores condições de higiene.
Joel Simão, representante de uma empresa organizadora de eventos, detém duas bancas no mercado, uma que comercializa licor de ginja e outra que vende bolos e doces típicos da região. Ao morar numa pequena aldeia, o seu espaço de venda tinha pouca visibilidade, pelo que “as banquinhas à porta da vila se tornaram uma opção muito mais fácil e eficaz para divulgar o produto”, revela à Gazeta das Caldas. Nas palavras do proprietário, o mercado diário em Óbidos é “uma iniciativa inédita, porque não existe nada semelhante, de Torres Vedras, ou mesmo Sintra, até Coimbra”.
Como ponto de interesse turístico, o mercado “acaba por reter os visitantes por mais horas”, defende Joel Simão, que considera o tempo das visitas à vila bastante curto, “em média de uma hora e meia”. Seguindo o raciocínio do comerciante, “se as pessoas ficarem mais tempo, então acabarão por sentir fome e sede, procurando assim cafetarias e restaurantes, gerando receitas que ficam em Óbidos”. Além disso, Joel Simão salienta o facto dos comerciantes pertencerem ao Concelho de Óbidos, vendendo produtos que, na sua maioria, são manufacturados na região. “Se em algumas lojas encontramos o “made in China”, aqui no mercado lê-se “made in Portugal”, por isso contribuímos para a própria riqueza da região”, afirma o comerciante.
Maria do Carmo montou negócio em 2003, na altura em que se mudou para Óbidos, após ter ficado sem o seu posto de trabalho. “Sempre fui empregada de escritório, até à altura do “emagrecimento” das empresas, quando fui despedida”. Durante o período em que esteve em casa, praticamente sem ocupação, lembrou-se de dar uma volta à sua vida e iniciou-se na venda de rua. Comercializa frutos secos, destacando os figos, o pinhão e a amêndoa, produtos nacionais, e ainda queijos, fornecidos por produtores da região, como Torres Vedras e Alfeizerão.
Tanto Maria do Carmo como Paulo Vietas, comerciante de cerâmica, concordam que o mercado é fundamental no primeiro impacto que os turistas têm de Óbidos. “Os visitantes gostam muito do mercado, e por isso ficam logo com uma imagem positiva da vila”, esclarece Paulo Vietas, que se encontra há quatro anos naquela rua.
A tenda de Paulo Vietas enche de cor os olhos dos clientes, que apreciam o facto de as loiças serem criadas e decoradas à mão. “Gostamos que a nossa cerâmica seja moderna e apelativa, de modo a agradar todos os gostos”, explica o ceramista, revelando que os turistas optam muito por comprar peças com o desenho do típico galo português, assim como os ímanes em forma de muralhas e as canecas onde se vê escrito “Óbidos”.
Não há dúvida que para os comerciantes, o mercado artesanal de Óbidos dá uma graça especial à vila. “Alegria” essa, que pode vir a terminar este ano, por volta de Setembro, caso o contrato de concessão não seja renovado.

Maria Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt

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