Menina refugiada vai frequentar o primeiro ano do ensino básico na escola do Bairro da Ponte

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A síria, aqui com a mãe, Amira Altawil, mal pode esperar o início das aulas onde vai conhecer novos amigos

Huda Alandaj não cabe em si de contente. Tem 6 anos e mal consegue esperar pelo início do ano letivo.Tem uma mochila, um estojo e material escolar novinho em folha que fez questão de mostrar à Gazeta das Caldas. É cor-de-rosa e decorado e a menina mostra com todo o orgulho os materiais que farão parte do seu novo dia-a-dia. “Quero muito vir para a escola e ter novos amigos”, disse a aluna.
Veio viver para as Caldas com os pais em 2016. Mohamad Alandaj, o pai, tem 33 anos, e a mãe, Amira Altawil, tem 29. Ele é operário numa fábrica de carnes (a mesma desde que veio para a região), em Óbidos, enquanto que ela, que tem alguns problemas de saúde, colabora na Universidade Sénior.
“Há seis anos que viemos para Portugal. Estamos muito felizes de viver cá!”, contou Amira Altawil, que com a sua família vivia em Damasco, e tem agora estatuto de refugiada. Diz bem de tudo o que é português sobretudo dos serviços de saúde, de educação e de apoio especial que têm necessitado.
A família Alandaj conta com a ajuda de um grupo de cidadãos que vive na Salgueirinha, ligados à Fundação João XXIII, que presta auxílio na integração.
Foi uma verdadeira odisseia a que viveram para sair do seu país de origem. Amira conta que saiu da Síria, passou pelo Líbano e Turquia, onde Huda Alandaj nasceu, até à Grécia. A mãe assume que não tem saudades da sua terra de origem. Tem feito amizades e sente apoio da população local.
“Gostava muito de agradecer ao Presidente da República, Marcelo [Rebelo de Sousa], a forma como nos recebem neste país”, disse Amira Altawil, que adora visitar a região. Costuma ir a S. Martinho de comboio e também à Nazaré, Santa Cruz e Lisboa, de autocarro.
Cristina Bernardo é docente e coordenadora da EBI do Bairro da Ponte e, nos últimos anos, tem recebido alunos das mais variadas nacionalidades. Já acolheram duas irmãs sírias cuja integração foi difícil, assim como um aluno que veio dos Estados Unidos e que, quando entrou, não falava “quase nada de Português”.
Nas escolas só ficam a saber se falam ou não a língua de Camões no primeiro dia de aulas e, como tem sido uma constante, há três anos a escola conseguiu contratar uma professora de Português Língua Não Materna, que “dá apoio a estes alunos que frequentam as várias escolas do agrupamento”, acrescentou.
“Pedimos aos pais para falar Português em casa, mas nem sempre o fazem…”, disse a responsável, que já sabe que este ano há alunas com mães de nacionalidade alemã e moldava e uma estudante que vem da Suíça. As três vão frequentar o 2º e 3º anos de escolaridade.
A EB1 do Bairro da POnte já recebeu duas irmãs da Síria. A mais velha já terminou o 1º ciclo mas a mais nova vai agora iniciar o 4º ano. “Esta aluna poderá apoiar Huda Alandaj”, antevê Cristina Bernardo, assegurando que por esta escola já passaram alunos de mais de uma dezena de nacionalidades. Oriundos dos PALOP, dos países de Leste, da Colômbia, Venezuela, Filipinas, EUA e, muitos, do Brasil.
“Muitas vezes, a comida é também um obstáculo”, disse Cristina Bernardo, explicando que outras culturas têm dificuldade em se habituar à comida lusa. “Quanto mais diversidade, melhor. Aqui dentro, todos os alunos são tratados de forma igual”, afiançou a docente. Antes da pandemia, esta escola organizava arraiais onde toda a comunidade escolar participa. Há caldo verde e a sardinha assada e, com a parceria dos Pimpões, conseguiu-se juntar insufláveis, dança, jogos tradicionais e quermesse. A festa, garante a coordenadora, é também um momento de integração de todos.
Este ano, a EB1 terá seis turmas e um total de 118 alunos. A escola – que tem seis docentes, a diretora, mais dois professores de apoio e três funcionários – deveria entrar em obras mas estas foram adiadas, dado que ainda está a decorrer a intervenção na escola do Avenal. ■

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