O local estava praticamente ao abandono e agora tem um monumento que assinala o episódio

A memória do naufrágio do San Pedro de Alcantara, em Peniche, foi valorizada com  uma obra avaliada em mais de 158 mil euros. No local do depósito funerário de catástrofe foi colocado um elemento escultórico, num investimento cofinanciado pelo Mar 2020

A empreitada de requalificação do sítio arqueológico referente ao depósito funerário de catástrofe do navio San Pedro de Alcantara, em Peniche, já foi finalizada. A obra começou em Março e foi cofinanciada pelo Programa Operacional Mar 2020, no âmbito do Grupo de Ação Local – Pesca Oeste, num custo total elegível de 158.811,40 euros.
No local, perto da Papoa, foi instalado um “elemento escultórico evocativo deste importante episódio da história trágico-marítima de Peniche”, explicou a autarquia. No local está um “navio” e também uma peça “com quatro metros de altura, produzida em aço corten, que apresenta elementos iconográficos associados à história deste naufrágio, cujas vítimas foram enterradas num improvisado depósito funerário localizado no espaço agora intervencionado”.
O navio espanhol San Pedro de Alcantara naufragou junto aos rochedos da península Papoa na noite de 2 de Fevereiro de 1786. Neste navio proveniente de Callao, no Peru, e que tinha como destino a cidade espanhola de Cádis, viajavam cerca de quatrocentas pessoas, transportando uma carga de mais de 150 toneladas de moedas de ouro e prata, e 600 toneladas de cobre, à qual se deve juntar o peso dos seus 64 canhões, de 100 toneladas de quinquina (uma planta sul americana) e de 6,5 toneladas de cacau. O galeão viria a naufragar na costa de Peniche desencadeando durante os anos seguintes uma gigantesca operação de salvamento que permitiu a recuperação da maior parte da carga perdida. Neste naufrágio terão perdido a vida 128 pessoas, entre tripulação e passageiros. “Os corpos muitas vezes desfeitos pelas rochas e pela força do mar foram apressadamente enterrados, por populares e pelos frades franciscanos do Convento do Bom Jesus (situado nas proximidades) numa improvisada necrópole de catástrofe localizada neste local”.
Entre 1984 e 1999, realizaram-se várias campanhas arqueológicas dirigidas porJean-Yves Blot e Maria Luísa Pinheiro Blot. Segundo a DGPC, “o cruzamento da investigação arqueológica e histórica permitiu reconstituir de forma bastante completa o contexto deste naufrágio e do resgate que se lhe seguiu”.
Em terra e no mar foi recuperada cerâmica (incluindo antiguidades peruanas), ourivesaria, equipamento náutico e militar e moedas. Em terra foram identificadas várias sepulturas, de onde foi exumado espólio osteológico correspondendo a vários esqueletos de indivíduos vítimas da catástrofe.
A autarquia informou que foram identificados “nesta necrópole um total de 80 enterramentos, escavando perto de três dezenas, facto que possibilitou o desenvolvimento de um detalhado estudo antropológico definidor do sexo, idade provável à data da morte, tipo antropológico, ou patologias de alguns dos náufragos” e se confirmou a heterogeneidade antropológica dos viajantes do San Pedro de Alcantara.

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