
Ex-diretor-clínico defende solução que passe por parceria com privados para gerir novo hospital. Além dos cinco médicos, seis enfermeiros deixaram o Montepio desde o início do ano
A saída dos cinco médicos do Montepio – Rainha D. Leonor “foi uma demissão em bloco”, originada por “falta de condições, sobretudo por falta de projeto”, garante Joana Louro, que bateu com a porta juntamente com Ana Filipa Rodrigues, Diogo Silva e Diana Marques, após a saída de Luís Val-Flores da direção clínica.
Lamentando “não ter tido qualquer tipo de resposta” ao pedido de demissão que apresentou, a clínica acusa o Conselho de Administração de “interferência nalgumas decisões clínicas”.
“A qualidade assistencial e segurança ao doente têm de ser a nossa prioridade. Se isto estiver em causa, não vale a pena estar nos projetos”, considera Joana Louro, asseverando que o grupo “não saiu por questões financeiras”, mas sim por falta de diálogo.
Por seu turno, Luís Val-Flores, ex-diretor-clínico da instituição, justifica a saída com o desconhecimento da estratégia do Conselho de Administração, acusando os dirigentes de inviabilizarem um “modelo que estava a dar resultados”. “Estava na instituição há oito anos, passaram vários Conselhos de Administração e trabalhei sempre com eles. Por isso, não é legítimo dizer que entrei com a anterior administração”, frisa o médico, para quem o Montepio, “sendo uma instituição centenária, precisava de evoluir e não estar tão centrado no Conselho de Administração”.
“Todos estávamos conscientes de que era inevitável um outro modelo de funcionamento e assistencial no Montepio. Entrei para a direção clínica com um projeto, baseado essencialmente em organização. Temos de evoluir como alternativa de saúde privada e esse caminho foi iniciado. Havia mudanças na instituição, mas o que assistimos nos últimos meses foi um retrocesso no caminho traçado na metodologia”, lamentou Luís Val-Flores, que foi, entretanto, substituído no cargo por António Martins.
Recordando que se fala “em parcerias para o Montepio há mais de 20 anos”, o médico considera que é necessária “uma diferenciação” da entidade, “integrando novas valências e os direitos dos sócios”. “Já se percebeu que é necessária uma parceria”, frisa o clínico, que garante que todos os médicos que saíram “mostraram-se disponíveis para voltar, desde que haja um diálogo”. “Saímos com mágoa, porque faltava um projeto para a área clínica e esse processo tinha sido desencadeado, com uma reestruturação profunda nas várias valências da instituição”, nota Luís Val-Flores.
“Não podemos continuar a gerir o Montepio como se geria há 40 anos. É preciso um elevado nível de competências para gerir saúde”, conclui Joana Louro.
Entretanto, além dos cinco médicos, outros seis enfermeiros deixaram a instituição neste ano. ■
Administração rejeita falta de diálogo e tentou demover diretor-clínico da saída
O Conselho de Administração do Montepio – Rainha D. Leonor rejeita a existência de falta de diálogo com o corpo clínico. Francisco Rita explicou à Gazeta que ficou surpreendido com o pedido de demissão de Luís Val-Flores e que tentou demover o ex-diretor-clínico da intenção de deixar funções.
“Após recebermos o pedido de demissão, estivemos reunidos e tentámos chegar a um consenso, o que não foi possível”, salienta o presidente da associação mutualista, que recorda as “reuniões semanais” com o responsável clínico e o apoio constante. “Nunca houve um telefonema que ficasse sem resposta”, assevera o dirigente, que explica, ainda, a razão de não ter sido dada resposta ao pedido de demissão de Joana Louro. “A demissão foi apresentada ao diretor-clínico, pelo que nos limitámos a responder ao diretor-clínico”, frisa Francisco Rita, que clarifica, ainda, a acusação de interferir em atos médicos.
“As decisões da direção clínica têm um custo financeiro e esse custo tem de ser integrado dentro da disponibilidade da instituição. A administração não deve assinar por baixo todos os atos que a direção clínica pretende levar a cabo”, explica o presidente da associação, que não percebe a crítica sobre a falta de projeto identificada pelos clínicos. “Estivemos cinco meses em campanha eleitoral. Se ganhámos as eleições foi porque apresentámos projeto que os sócios consideraram ser melhor para a instituição”, afirma Francisco Rita. ■






























