“Caldas da Rainha deveria ser palco de apresentações vicentinas regulares”, disse José Carlos Barros, um dos mestres de marionetas, famoso pelas suas interpretações dos autos de Gil Vicente com os seus bonecos.
O autor, que estudou e fez teatro nas Caldas durante vários anos, esteve no CCC a 17 de Dezembro, para um debate que assinalou os 500 anos do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente. Na sessão, José Carlos Barros prometeu voltar às Caldas, quando fizer um novo auto vicentino com as suas marionetas.
José Carlos Barros é autor das marionetas que deram corpo ao texto vicentino Auto da Barca do Inferno no Teatro Nacional D. Maria II em 1986. Estes bonecos foram feitos com inspiração nas gárgulas do transepto da Igreja de Santa Maria, nos Jerónimos e nas imagens do Livro de Horas de D. Manuel, tal como apresentou na conferência que teve lugar no CCC, a 17 de Dezembro. Estes bonecos podem ser apreciados no café do CCC até ao final da primeira semana de 2018. Durante a sessão foi ainda projectado parte de um vídeo, gravado pela RTP, do espectáculo Auto Barca da Inferno que foi apresentado no Teatro Nacional D. Maria II, em 1986.
José Carlos Barros, fundador das Marionetas de Lisboa, é natural do Bombarral. Nasceu em 1944 e veio para as Caldas fazer os seus estudos secundários. “Vim com 11 anos para as Caldas e quando terminei o meu curso de Cerâmica na Escola Comercial e Industrial fui convidado para ir trabalhar para a fábrica Spal ”, disse o convidado à Gazeta das Caldas.
José Carlos Barros recorda-se que os cursos leccionados naquele estabelecimento eram muito bem aceites no mercado de trabalho. O problema é que José Carlos Barros achava a fábrica de cerâmica de Alcobaça, já na época, uma unidade industrial muito mecanizada e por isso o autor preferiu “ir fazer bonecos para o Carnaval do Estoril”. Mais tarde, o autor volta às Caldas para fazer teatro na Casa da Cultura no pós 25 de Abril. Trabalhou com escolas e fez várias representações indo a várias localidades da região, tendo participado nas campanhas de alfabetização, levadas a cabo pelo MFA. “Fiz com muito prazer teatro nesta zona e também no antigo Casino, na então Casa da Cultura”, contou o marionetista que também leccionou na Escola Superior de Teatro e Cinema até se ter reformado. Quando veio para as Caldas, começou a sua forte ligação a Gil Vicente, tendo por cá feito teatro já com os seus bonecos. “A marioneta desdobra-se com uma certa facilidade e eu acho que Gil Vicente não deve ser representado só com recurso a actores”, disse o marionetista. Na sua opinião, as pessoas actualmente “não se conseguem colocar na época de Gil Vicente e veem os seus autos com os olhos de hoje”.
José Carlos Barros considera que não é possível analisar um texto vicentino sem fazer a necessária transposição para como se vivia na época. “O Inferno hoje não existe mas na Idade Média ele estava lá, muito próximo”, comentou defendendo por isso que é mais fácil reproduzir os autos com as suas marionetas.
Gil Vicente nas Caldas
“Caldas da Rainha deveria ser palco de representações regulares de Gil Vicente”, defendeu o convidado, referindo que a cidade termal acolheu a representação do Auto de S. Martinho, em 1504, no átrio da Igreja do Pópulo. À representação assistiu a Rainha D. Leonor, mecenas das artes e da cultura. Era então uma monarca que à época “iniciou o serviço nacional de saúde”, disse referindo-se ao papel da rainha na fundação do hospital termal. “Foi cá que Gil Vicente fez uma representação ao ar livre, temos a certeza disso”, reforçou o marionetista acrescentando que como tal o dramaturgo medieval “devia ser representado constantemente nas Caldas”.
José Carlos Barros garantiu ainda durante a sessão que se voltar a representar algum dos autos vicentinos com as suas marionetas, “venho apresentá-lo aqui às Caldas também”. Enquanto tal não acontecer, quem quiser conhecer a suas marionetas poderá fazê-lo até ao dia 7 de Janeiro, no café do CCC.































