MÁRIO REIS CAPINHA – “Hoje sou coordenador do núcleo do Oeste dos reformados do Santander Totta”

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2016-02-18 15.50.0877 anos

Casado, duas filhas, cinco netos

Metade da minha vida profissional foi passada nesta rua. No Totta, como o banco era então conhecido. Entrei neste edifício em 1 de Julho de 1961 e reformei-me, no edifício ao lado, também no dia 1 de Julho, mas de 1996. Fui bancário 35 anos.
Nasci em 9 de Setembro de 1938 em A-dos-Negros, no concelho de Óbidos, mas vim para as Caldas da Rainha com dois meses. Estudei na escola primária da antiga Praça do Peixe (Praça 5 de Outubro) e depois na Escola Industrial e Comercial das Caldas da Rainha, que ficava no edifício onde é hoje a administração do centro hospitalar.
Naquele tempo o ensino secundário não estava ao alcance de todos. Não porque as propinas fossem caras – na escola podiam andar ricos e pobres. Mas porque a pobreza de muitas famílias ditava que os filhos fossem logo trabalhar depois da escola primária. E muitos nem aprendiam a ler e escrever.
O meu pai era oficial do Exército, mas nunca me interessei muito pela vida castrense. Comecei a trabalhar com 14 anos, no escritório da firma Manuel Marques, que vendia materiais de construção. Por causa disso, passei do curso diurno para o curso nocturno da Escola Industrial e Comercial.
O meu primeiro ordenado foram 300 escudos (1,50 euros). Eu entregava-o sempre à minha mãe para ajudar a pagar as despesas da casa e ela depois dava-me uns trocos. Dava para ir ao cinema ao Pinheiro Chagas (que ficava na Praça 5 de Outubro) e, mais raramente ao Ibéria (que ficava ao lado dos Pavilhões do Parque).
Quando acabei o Curso Geral de Comércio, em 1957, continuei a trabalhar no Manuel Marques. Mas em 1961 concorri para o então Banco Lisboa & Açores e fui aceite. Comecei a trabalhar neste edifício, onde mais tarde seriam os Serviços Municipalizados.
Vim ganhar 1200 escudos (6 euros)  por mês, mas atenção que eu no Manuel Marques já ganhava 1400 escudos (7 euros), só que achei que no banco sempre tinha mais garantias de estabilidade.
A minha carreira foi muito linear. Nunca mudei de banco. Os bancos é que mudavam e nós, bancários, lá íamos gerindo e digerindo as fusões. Logo em 1970 o Banco Lisboa & Açores juntou-se com o Totta Aliança e formou o Banco Totta & Açores. Em 1975 foi nacionalizado. Depois foi privatizado e comprado pelo Champallimaud, que convenceu o governo de então a vendê-lo com alguns benefícios alegando que o banco ficaria em mãos portuguesas. Mas passados seis anos, o Champallimaud acabaria por vender o Totta & Açores aos espanhóis do Santander. E o “meu” banco, aquele em que sempre trabalhei, passou a chamar-se Santander Totta. E desconfio que qualquer dia ainda deixam cair o Totta e fica só Santander.
Enquanto isto eu não trabalhei sempre aqui na rua das Montras. Estive aqui os meus primeiros dez anos e em 1971 fui para o Bombarral. Em 1972 fui para Torres Vedras como subgerente. Em 1973 fui para o Cadaval, onde fui promovido a gerente. E em 1987 regressei às Caldas da Rainha, mas já não para este edifício – fui para aquele onde está hoje o Santander. Ainda aqui passei mais nove anos e reformei-me em 1996 depois de um período de baixa devido a esgotamento e depressão.
Não tenho vergonha em contar. Eu já estava muito desgastado com a profissão, com as mudanças de gestão, com as fusões, com as mudanças tecnológicas, com o stress e a responsabilidade de ser gerente. A reforma foi muito bem vinda.
Mas quando olho para o passado não tenho dúvidas de que gostei de ser bancário. E se houve profissões em que houve um grandes mudanças, esta foi uma delas. Quando comecei, em 1961, a oferta de produtos para os clientes eram basicamente os depósitos à ordem e os depósitos a prazo. Mas hoje há um manancial de produtos financeiros! Enfim, alguns deles deram naquilo que a gente sabe.
Mas as grandes mudanças nesta profissão foram sobretudo tecnológicas. Quando aqui comecei a trabalhar não havia calculadoras e todas as contas eram feitas à mão. Depois é que vieram as máquinas mecanográficas que faziam algumas contas.
O primeiro computador que eu vi foi nos anos 60 numa visita que fizemos à sede do Banco Lisboa & Açores. Foi o primeiro banco a ter um computador. Era um IBM 360 que o banco tinha alugado porque era incomportável comprá-lo. Ocupava uma sala inteira e trabalhava com cartões perfurados. Era enorme. E tinha menos capacidade do que hoje o computador dos meus netos.
Nos anos 70 o banco começou a ter máquinas de escrever e de calcular eléctricas e pouco depois os primeiros computadores.
Tudo isto veio trazer maior rapidez ao trabalho, mas nem por isso se passou a trabalhar menos. Pelo contrário.

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COMPARAR AS ASSINATURAS PELO TELEFONE

Quando eu entrei na banca, o cliente que vinha levantar um cheque que fosse de outro balcão, tinha de esperar que nós telefonássemos para perguntar se tinha cobertura. E mais – eu hoje isto até me dá vontade de rir – tínhamos que, telefonicamente, comparar a assinatura do cliente para saber se era autêntica. “Ó colega o J tem uma barriguinha assim maior? Sim? E o R tem a perna mais comprida…?”.
Só mais tarde é que passamos a ter ficheiros com cópias das assinaturas. E hoje… Bom… hoje os cheques já quase não se usam. E os bancos até cometem a proeza de pôr os clientes a fazer o trabalho dos funcionários e a cobrar por isso! Dantes ia-se ao banco dar uma ordem de transferência e agora fazemo-la em casa pelo Internet e ainda pagamos uma comissão.
É claro que isto da tecnologia foi feita para reduzir os custos com o pessoal. Quando em 1987 regressei às Caldas o banco tinha 28 funcionários. Hoje tem uns dez.
Mas o que interessa é que já estou livre disso tudo. Para a minha idade, acho que respiro saúde. Até porque toda a vida pratiquei desporto. Quando era miúdo, nos anos 50, jogava ténis de mesa e até cheguei a ser colaborador da Gazeta das Caldas com artigos sobre esta modalidade.
Hoje a minha maior actividade é cuidar dos meus netos. E sou coordenador do núcleo do Oeste dos reformados do Santander Totta, que é um cargo que me ocupa algum tempo pois fazemos quatro convívios anuais e outras actividades.

 

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