
Perto de 500 pessoas participaram nas Caldas da Rainha na marcha que, na noite de sábado (7 de Julho), percorreu as ruas da cidade em defesa dos cuidados de saúde hospitalares na região. À mesma hora, em Torres Vedras juntava-se também meio milhar de pessoas e em Peniche cerca de três mil, numa iniciativa promovida pela Plataforma Oestina de Comissões de Utentes da Saúde. Ao todo cerca de quatro mil pessoas saíram à rua para contestar a decisão da tutela em reorganizar os cuidados de saúde, levando à perda de serviços nos hospitais, e a exigir serem ouvidos na solução a encontrar.
Para hoje à noite, 13 de Julho, está prevista mais uma acção nas Caldas. Trata-se de um debate, a decorrer no auditório da ETEO, onde estarão presentes uma docente da Escola Nacional de Saúde Pública, o bastonário da Ordem dos Médicos e um representante da Ordem dos Enfermeiros.
À hora marcada, 21h00, as pessoas já se começavam a concentrar na Praça 5 de Outubro. Música de intervenção e imagens projectadas numa tela improvisada numa carrinha davam conta do trabalho dos profissionais de saúde nos vários serviços do hospital caldense. Minutos depois o representante da Comissão de Utentes “Unidos Pelo Nosso Hospital” das Caldas da Rainha, António Curado, usou o microfone para alertar para os prejuízos decorrentes da reorganização hospitalar proposta pelo governo.
Meia hora depois dava-se início à marcha que tinha à frente uma lona preta onde se podia ler “Marcha pelos Hospitais”. Na manifestação estavam presentes representantes de todas as forças politicas caldenses e também de Óbidos.
Da Praça 5 de Outubro a marcha desceu a Rua Heróis da Grande Guerra, para dar um abraço à rainha, que esteve na génese da prestação de cuidados hospitalares nas Caldas. Seguiu depois pela Rua de Camões, entrou no Parque e atravessou o Céu de Vidro, antes de subir pelo Largo D. Manuel I e continuar até ao cimo da praça. Numa viragem improvisada, os participantes desceram à Praça da Fruta antes de terminarem frente ao hospital.

Hora e meia depois, e já junto ao hospital, não houve discursos nem música, apenas a faixa erguida a dar sinal de que a marcha acabou.
O número de participantes excedeu as expectativas da Comissão de Utentes “Unidos Pelo Nosso Hospital” das Caldas da Rainha. António Curado reconhece que tinha algum receio da mobilização porque as pessoas precisam de palavras-chave e razões objectivas e a comissão apenas lhes pode explicar que se trata de uma reorganização dos serviços. Por outro lado, diz que se tivessem insistido mais na possibilidade de encerramento do Hospital Termal, estariam presentes mais pessoas.
Ainda assim, António Curado explicou que a reorganização proposta pela tutela pode ser comprometedora dos cuidados de saúde para a população, com implicações em toda a região.
O responsável alertou ainda que, independentemente das fusões que possam existir, o prejuízo será sempre para todos. “O encerramento de uma unidade nos outros lados não é o ganho das Caldas da Rainha”, defendeu, acrescentando cada uma delas perderá alguma coisa e a pressão que existirá em termos de cuidados hospitalares “fará diminuir a sua qualidade”.
O também médico realçou que os tempos de crise não podem ser desculpa para as populações perderem o acesso aos cuidados de saúde e por isso as comissões querem ser ouvidas sobre os processos decisórios.
Destacou também que a presença de representantes de todos os partidos políticos é importante para transmitir a ideia de que se trata de uma questão transversal, que diz respeito a todos. António Curado reconhece que algumas questões pecam pelo atraso com que estão a ser tratadas, e dá como exemplo a construção do novo hospital nas
Caldas, que devia ter sido pensado “de forma mais consistente e forte” há cinco anos, altura em que ainda haviam recursos financeiros para a sua criação.
A plataforma, que une as comissões das Caldas, Peniche e Torres Vedras, ainda não teve qualquer resposta por parte do Ministério da Saúde, ou sequer chegou a ser recebida por este organismo, mas António Curado acredita que esta união das comissões teve a vantagem de lhes dar mais mediatismo.
E porque não quer deixar abrandar a luta, a comissão caldense vai realizar hoje à noite, pelas 21h30, no auditório da ETEO, um debate com a participação de Ana Escoval, da Escola Nacional de Saúde Pública, José Silva, bastonário da Ordem dos Médicos e de um representante da Ordem dos Enfermeiros.
MOBILIZAÇÃO MASSIVA EM PENICHE
Peniche foi a cidade que juntou um maior número de pessoas na rua. Rogério Cação, da Comissão Municipal de Acompanhamento do Hospital, acredita que estiveram mais de três mil pessoas na marcha, um número resultante da grande divulgação efectuada e, sobretudo, da preocupação que têm com a perda dos cuidados hospitalares. “Enquanto que no último ajuntamento havia apenas uma série de rumores, neste momento já perdemos laboratórios, equipamento, o bloco operatório e consultas externas de ortopedia e urologia”, explicou o responsável.
Rogério Cação destacou ainda o simbolismo da acção, que teve uma visão global de Oeste, juntando as três cidades. Para alem disso, tratou-se de uma “manifestação de civismo e cidadania”, em que as pessoas marcharam de forma silenciosa e, junto ao hospital abanaram as mãos, utilizando a simbologia da linguagem gestual para o bater de palmas. “Foi um silêncio ensurdecedor”, disse.
Contribuindo para o êxito da iniciativa em Peniche esteve a postura da Câmara local, que se comprometeu institucionalmente com a causa, e do seu presidente, António José Correia, que fez um trabalho mobilização muito alargado, tendo, inclusivé, duas noites antes, saído para o mar numa traineira para, via rádio, apelar à participação dos pescadores.
UM “DESMANTELAMENTO SILENCIOSO” EM TORRES VEDRAS
Também em Torres Vedras a população saiu à rua numa noite de verão e de Feira de S. Pedro, para protestar contra a “injustiça” que consideram ser a reorganização prevista pelo ministério da Saúde.
Jorge Ferreira, membro da Comissão de Utentes de Saúde de Torres Vedras, destacou a “solidariedade e grande união” de novos e velhos, que juntos protestaram pelas ruas da cidade e mostraram à tutela que querem ser ouvidos.
O responsável denuncia que em Torres Vedras está a haver um “desmantelamento silencioso”, que começou por um esvaziamento das condições financeiras para o funcionamento dos hospitais e, mais recentemente, com a falta de materiais e as dificuldades de contratação de médicos. Considera a proposta da ARS de Lisboa e Vale do Tejo “intelectualmente desonesta” porque propõe “cortes drásticos sem dar uma alternativa credível”.
Fez na passada segunda-feira um mês que a plataforma pediu para ser ouvida pelo Ministério da Saúde e ainda não obteve uma resposta. Jorge Ferreira garante que poderão fornecer-lhes informações relevantes para a decisão política, dado que estão no terreno e conhecem a realidade.
A reorganização hospitalar do governo prevê a fusão do Centro Hospitalar Oeste Norte (que integra os hospitais das Caldas da Rainha, Peniche e Alcobaça) e o centro hospitalar de Torres Vedras (composto pelo hospital distrital e Sanatório José Maria Antunes) num centro hospitalar único para todo o Oeste.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























