Manuel Louro Miguel Herdeiros, Lda tem uma história de sucesso e enfrenta agora os desafios da crise

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Manuel Louro Miguel morreu novo, com 43 anos. Em 1985 foi vítima de um cancro e deixava uma empresa pioneira de criação e abate de codornizes em Santa Susana (Landal), que viria a ser gerida por um dos seus empregados, António Vito Sousa Rosa.
O processo não foi imediato. O negócio deste empresário esteve dois anos nas mãos da família, que constituiu a sociedade por quotas Manuel Louro Miguel, Herdeiros, Lda. Em 1987 a firma é comprada por cinco sócios, todos da freguesia do Landal, que por ela pagaram cerca de 30 mil contos (150 mil euros), mas no ano seguinte António Vito Sousa Rosa e José Edmundo Henriques Bento compram as quotas dos restantes sócios e ficam a presidir ao destino da empresa.
Desde então são estes dois homens que comandam os destinos da maior empresa portuguesa de criação e abate de codornizes. Matam-se na fábrica de Santa Susana – na muito justamente chamada Rua do Matadouro – 50 a 60 mil aves por semana.
Antigamente matavam-se mais. Nos anos 90 produziam-se aqui 120 mil codornizes por semana, mas o mercado parece que encolheu. António Vito explica porquê: “por um lado é a crise, há menos dinheiro, e por outro, houve uma alteração dos hábitos alimentares – a malta nova não gosta muito de codornizes… gosta é de produtos fáceis de mastigar, hambúrgueres, bifinhos, salsichas. A codorniz é uma carne muito rica em termos de colesterol, é magra, tem proteínas, mas tem alguma mão de obra para se comer, tem uns ossitos, não é um bifinho macio…”.
E eis como se tem vindo a reduzir o consumo de um produto que até é considerado gourmet por algumas grandes superfícies (apesar de na Alenquer, uma empresa de aves já ter criado um segmento de codornizes-gourmet). De tal forma que este empresário se queixa que lhe esmagam as margens de lucro para poder vender aos distribuidores e depois vai ao supermercado e vê que as suas aves estão à venda com um preço muito razoável porque são consideradas produtos para um segmento de mercado médio alto.
António Vito decidiu manter o nome da empresa e da marca Manuel Louro Miguel como forma de homenagear o seu antigo patrão e porque a mesma é garantia de qualidade no mercado.
Mas desde 1988 até hoje a fábrica já não é o que era. “Ampliamos as instalações”, conta António Vito. “Tivemos que nos aperfeiçoar e expandir e tivemos que nos adaptar às novas legislações. Fizemos adaptações e olhe tudo o que aqui está, estes equipamentos, a linha de fabrico, é tudo de topo”.
A rigorosa legislação obriga a cuidados extremos na higiene do processo produtivo e há inspecções constantes que obrigam a manter os parâmetros de qualidade.

As vantagens da subcontratação

A Manuel Louro Miguel, Herdeiros, Lda. abarca todo o processo de produção das codornizes. Tem a reprodução, a incubação, a criação, o abate e a comercialização, actividades que dão trabalho a cerca de 70 pessoas, ainda que em moldes diferentes.
Empregados fixos, a empresa tem 13, mas recorre ao trabalho de mais 17 em alguns dias da semana quando se procede ao abate de aves. E depois há ainda cerca de 40 colaboradores espalhados pela freguesia a quem a António Vito subcontrata a criação das codornizes nas suas próprias casas.
A empresa fornece-lhes as aves do dia e assegura-lhes ainda as rações, as vitaminas, o gás para o aquecimento e a assistência veterinária. Em contrapartida, estes “empregados” dão as instalações e a mão-de-obra para tratar das codornizes até elas estarem prontas para o abate.
As vantagens deste procedimento são decisivas para o negócio porque a empresa não suporta tantos encargos com o pessoal e, em caso de eventual foco de doença, é mais fácil debelá-la por não estar a criação toda junta.
É claro que para estes colaboradores esta actividade é um complemento ao seu rendimento, mas António Vito diz que há quem receba 4.000 a 5.000 euros por ano com este part-time.
Apesar da importância deste sector na economia da freguesia, as codornizes já não são o que eram. Não os animais, claro, que continuam saborosos no prato e se degustam de várias maneiras e com vários condimentos, acompanhadas, normalmente, de um tinto, mas sim o negócio e os rendimentos auferidos.
António Vito queixa-se dos custos de produção. Uma codorniz devidamente embalada e apresentada fresca no supermercado tem uma estrutura de custos cuja maior parcela é a alimentação. E as rações, queixa-se, este empresário estão pela hora de morte. “Aumentaram 25% nos últimos dois anos”, diz.
Depois vem o custo da mão-de-obra. Neste particular os últimos governos têm-se encarregado de a manter em níveis baixos. Mas há outra parcela do custo que é significativa: o escoamento e posterior incineração das vísceras e penas das aves, que tem de ser feito por empresas especializadas. Antigamente António Vito vendia este sub-produto para fazer rações e obtinha daqui uma receita, mas agora, em vez de um proveito tem um custo porque a legislação obriga a que estas resíduos sejam devidamente transportados e incinerados.
Por fim, vem os custos da energia, sobretudo do gás, utilizado para o aquecimento dos pavilhões durante a criação das codornizes, que devem estar sempre mantidas a uma temperatura inferior a quatro graus.

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Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt

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