Manifestação dos agricultores parou as Caldas com tratores

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Grupo com centenas de tratores concentrou-se no parque de estacionamento junto aos Bombeiros

Foram cerca de duas mil pessoas, em mais de três centenas de tratores, que se juntaram nas Caldas, na sexta-feira, para se manifestarem contra as medidas do governo e para realçar que a culpa do aumento dos preços não é dos produtores

Foram cerca de duas mil pessoas e mais de 320 tratores que na última sexta-feira fizeram a maior manifestação de agricultores nas Caldas, parando o trânsito. O protesto era contra a incompetência de quem governa, com particular foco na ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, a quem os agricultores pediam a demissão.
Os agricultores juntaram-se no estacionamento ao pé dos Bombeiros e, sempre sob as ordens das autoridades, num protesto pacífico, ali foram estacionando as suas viaturas de trabalho. O barulho era grande, quer das buzinas, quer dos apitos que traziam e até houve quem trouxesse os chocalhos.
Numa manifestação que juntou mais de 60 organizações de agricultores do Ribatejo e do Oeste, os manifestantes queriam alertar para o aumento dos custos de produção e também realçar que a culpa do aumento dos preços na venda ao consumidor não é dos produtores. Por outro lado, mostravam-se indignados com as mais recentes medidas do governo relativamente ao setor.
Luís Mira, secretário geral da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP), salientou que estão “contra a incompetência de quem nos governa e é essa a razão por que estamos aqui” e que estavam “a fazer história nas Caldas da Rainha, com a maior manifestação de agricultores que alguma vez se fez aqui”.
O mesmo responsável diz que, “a incompetência continua a aumentar”. Apontando à ministra, exclama que “não é aceitável que um governante minta ao país, minta no Parlamento e não aconteça nada”.
Em nome dos agricultores fez questão de referir que não estão “a pedir mais dinheiro do Orçamento de Estado”, mas sim “que se executem as verbas que Bruxelas põe à disposição de Portugal, porque neste momento temos 1,3 mil milhões de euros do quadro que acabou em 2022 por executar e esse dinheiro fazia falta aos agricultores para modernizarem as suas explorações e serem mais competitivos”.
Por outro lado, a luta dos agricultores é também “contra a nova Política Agrícola Comum (PAC), foram tomadas decisões em Portugal, pela ministra e pelo ministério que vão lesar todos aqueles que aqui estão, porque a maioria dos agricultores vai receber menos compensações do que recebia na anterior PAC”. Acresce que a campanha da nova PAC começou no dia 1 de março e, dois dias depois, “a verdade é que mais de 80% dos agricultores em Portugal não consegue fazer o seu pedido de ajuda a Bruxelas”. Nesta luta, mostram-se ainda contra a extinção das Direções Regionais de Agricultura. “Já não sabemos se é verdade que as CCDR vão ficar com os serviços do Ministério da Agricultura, mas isso é o desmembrar do mesmo e o matar da capacidade de atuação”, acusou, acrescentando que “a incompetência não é das pessoas que trabalham na DRAP, é de quem toma as decisões”. No seu discurso deixou ainda críticas a outras organizações de agricultores que, enquanto estas protestam, estão a negociar com o ministério.
Já o presidente da CAP, Eduardo Sousa, admitiu que esta vaga de manifestações “muito provavelmente terá que terminar com uma mega manifestação em Lisboa”. Numa comparação com a vizinha Espanha disse que, apesar da ajuda ao gasóleo no final do ano, “durante todo o ciclo produtivo tivemos que pagá-lo 40 cêntimos mais caro do que os espanhóis, tal como a energia”. A isso soma-se a falta de ajudas para combater a seca ou para apoio, devido à guerra. “Os espanhóis neste momento se forem ao supermercado, não têm IVA nos produtos básicos do pacote alimentar”, apontou. “Quem está a ganhar com o aumento dos custos é o governo!”, exclamou, defendendo ainda que “a Direção Regional não pode desaparecer”.
Vasco Leal, de Tornada, trabalha por conta de outrém na área da fruticultura em Alfeizerão e veio manifestar-se. “Não pensei que tanta gente aderisse, foi bom, é importante porque os custos de produção estão cada vez mais altos”. Também o seu colega, Joaquim Silvestre, ficou surpreendido com a moldura humana. “Estivemos na manifestação anterior, mas nesta está muito mais gente”.
No topo dos seus 81 anos, Adelino Bernardes veio de Rio Maior às Caldas para se manifestar. Com algum custo, às costas leva duas bandeiras reivindicativas contra a incompetência do governo. “Toda a minha vida fui agricultor, comecei em pequeno a ajudar os meus pais e avós e mantenho a atividade, com produção de cereais e de bovinos”, conta. “Até esperava ver mais gente, com o desgoverno que temos… O primeiro-ministro e a ministra da Agricultura são os coveiros da agricultura portuguesa”. ■

 

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