Obidenses e também turistas juntam-se para garantir tradição e criar comunidade
Um tapete de flores campestres voltou a adornar as ruas da vila de Óbidos, na manhã de 1 de maio. A tradição milenar voltou a cumprir-se com a apanha dos Maios (giestas floridas, rosmaninho, alecrim e outras flores silvestres), durante a manhã de 30 de abril por um grupo de cerca de 20 obidenses, que percorreram a encosta do castelo e a zona da pedreira, para colher as plantas, acompanhados por Luís Eusébio e a sua gaita de foles.
Este ano, as flores colhidas foram transportadas para a Praça de Santa Maria, onde foram cortadas ao final da tarde e, nessa altura, com uma grande envolvência da comunidade. Também os comerciantes quiseram juntar-se à festa, oferecendo carnes, vinho, bolos e pão quente, que juntaram numa mesa gigante, fazendo do momento uma festa. “Este ano contámos com um grupo de 30 a 40 crianças daqui de Óbidos, que também quiseram ajudar a separar os Maios”, conta Eurico Santos, empresário de Óbidos e um dos dinamizadores desta festa, destacando a importância de ligar as tradições locais e identitárias às novas gerações.
A Praça de Santa Maria encheu-se de gente, alguns turistas também se quiseram juntar a esta “verdadeira festa e união de família”, destacou o empresário, acrescentando que foi uma “festa feita por todos e para todos, de uma forma espontânea”. Eurico Santos realça ainda a partilha intergeracional: “as crianças participaram no cortejo e andaram a decorar as portas. Em alguns casos, houve obidenses mais velhos que nos perguntaram se podiam fazer como antigamente. E ficou muito bonito”.
A partilha nas redes sociais do que se estava a passar na Praça levou a que outros se quisessem juntar à festa que, acompanhada de música tradicional e que durou até às 2 horas da madrugada.
Com origens que poderão ser encontradas no culto às divindades romanas e festividades pagãs associadas à primavera e à fecundidade, esta é “a tradição mais antiga” da terra. “Tem que ser feita de forma espontânea, pelos obidenses e por quem gosta de Óbidos”, refere o também obidense, dando conta da colaboração dos comerciantes da vila, da União de Freguesias de Santa Maria, S. Pedro e Sobral da Lagoa, Associação de Defesa do Património de Óbidos, Associação Segredos de Óbidos e Câmara.
“Conseguimos criar uma sensação de união, de uma verdadeira família e de comunidade, que é aquilo que, por vezes, falta à nossa terra porque as pessoas estão tão envolvidas no seu trabalho e vida quotidiana, que lhes resta pouco tempo”, refere Eurico Santos, destacando a importância destes momentos de confraternização.
A tradição que, com a pandemia, esteve em risco de se perder, ganhou um novo fôlego nos últimos dois anos e está para continuar. Houve pessoas, inclusive, que já informaram a organização de que, no próximo ano, irão tirar o dia de férias, para se juntarem ao grupo que vai apanhar os Maios nos campos que circundam a vila.

































