Associação sedeada no Olho Marinho, concelho de Óbidos, está atualmente no limite da capacidade, com 35 utentes internados. Em 25 anos recebeu quase 800 jovens. Aniversário foi assinalado

Em 2021 a Associação Minha Casa, que está sedeada no Olho Marinho (Óbidos), comemorou o 25º aniversário. Nascida em 1996, a associação celebrou o quarto de século com um livro ilustrado pelos próprios utentes e uma exposição das ilustrações feitas por estes.
O livro, intitulado “Viagem a Casa”, foi lançado na tarde de 23 de outubro, no âmbito do Folio, Festival Literário de Óbidos, na Casa da Música, numa sessão que contou com cerca de 30 pessoas.
Logo à entrada, no átrio da Casa da Música, os visitantes podiam apreciar a exposição das ilustrações que foram feitas como alusão às vivências na casa.
A ideia do livro partiu de Olga Prada, que dá aulas de mindfullness aos utentes da Minha Casa há cerca de dois anos. “Ao início tinha um bocadinho de medo”, confessou, tendo sido a vontade de ensinar mindfullness que a levou a desafiar-se para este projeto.
Os textos do livro, que pretendem retratar o percurso feito pelos utentes desde o momento de entrada até à saída da casa, são da autoria de Olga Prada. “São palavras escritas por mim, mas são palavras deles, é inspirado naquilo que me contaram”, referiu.
O livro agora publicado pretende quebrar preconceitos da sociedade para com as pessoas com dependências, mas também pretende que os próprios sintam que são efetivamente iguais a qualquer outra pessoa.
O facto de poderem ter uma exposição num espaço tão nobre e de serem autores de um livro também é algo que estimulou os utentes, que “ficaram muito entusiasmados por poder dar de volta à casa e serem eles a fazer algo tão importante como o livro que celebra o 25º aniversário”, contou. A obra está disponível na associação e na livraria Ler Devagar.

O livro intitula-se de “Viagem a Casa” e as ilustrações são dos utentes

Retomar dos protocolos com a Câmara de Óbidos é uma prioridade

 

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25 anos com dinâmica
A Associação Minha Casa foi um sonho de Sandra Tello, psicóloga clínica formada no México, que veio para Portugal em 1989. Instalou-se em Marvão, em 1995, mas um ano depois fixou-se no Olho Marinho, numa casa que ainda hoje é a Minha Casa, mas que está muito diferente do que era então.
Inicialmente, admite, havia quem não gostasse da presença da comunidade terapêutica no local. “Um pequeno grupo de indivíduos não nos via com bons olhos, mas foram percebendo a importância do projeto”, conta.
Ao fim de um quarto de século de existência, diz Sandra Tello, “alcançámos uma maturidade institucional significativa”.

O lançamento, na Casa da Música, contou com a inauguração de uma exposição das ilustrações feitas pelos utentes

A pandemia trouxe óbvios impactos, mas não conseguiu parar o trabalho desenvolvido pela associação. “Tem condicionado imenso, mas não tem sido capaz de intimidar a nossa base sólida de trabalho”, garante. Sandra Tello nota que desde 2010 várias comunidades terapêuticas em Portugal encerraram e “o maior trunfo da Minha Casa foram os recursos humanos que todos os dias fazem o milagre da solidariedade”, referiu, numa sessão marcada pela homenagem, agradecimento e reconhecimento da instituição aos seus colaboradores.
Em 25 anos de existência, a Associação Minha Casa já recebeu um total de mais de 700 utentes. Foram 778, para ser mais exato. Atualmente está no limite da capacidade, com 35 utentes em internamento. “As idades são flutuantes”, explica-nos a psicóloga. O utente mais novo tem 18 anos e o mais experiente conta 64 primaveras. Vêm de todo o país e também do estrangeiro.
Agora era, na opinião da fundadora da Minha Casa, importante retomar os protocolos que existiram anteriormente entre a associação e a Câmara de Óbidos que possibilitavam que os utentes fizessem intervenções de requalificação em habitações particulares e também em edifícios autárquicos. Esse protocolo previa que a Câmara assegurasse as despesas de obra e de deslocação e que fornecesse aos utentes as refeições. Estes trabalhavam gratuitamente, mas ganhavam competências e uma nova dinâmica, numa ocupação importante no caminho da recuperação. Estas ações iniciaram-se há mais de uma década, mas há cerca de cinco anos que deixaram de se realizar.
Aproveitando a presença de membros do executivo municipal, Sandra Tello disse que era importante que reunissem para discutir esta temática. O vice-presidente José Pereira, recordou o caminho percorrido pela associação e demonstrou total disponibilidade da autarquia para revisitar os protocolos que existiram. ■

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